Musicoterapia traz esperança para tratamento em pacientes na UTI
07 dezembro 2023 às 13h09
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“A linguagem vai percorrer um caminho e a música vai percorrer outro. Às vezes aquilo que a pessoa não consegue compreender com a fala, ela compreende com a música, que vai ativando outros mecanismos cerebrais e fazendo novas conexões neurais. Aí a gente consegue ter um resultado, motor de fala, de entonação, de movimento, de ressignificação dos momentos que a gente vivenciou através da música”, explicou Fernanda Ortins Silva sobre a musicoterapia, método de tratamento alternativo que tem trazido esperança para pacientes internados em estado grave.
Na capital goiana, a musicoterapia tem sido usada para auxiliar no desenvolvimento de bebês prematuros. O “Momento Soninho” é um programa de acolhimento da Hapvida que une elementos terapêuticos para proporcionar um ambiente sereno e confortável para bebês prematuros recém-nascidos. A iniciativa acontece diariamente no Hospital América, em Goiânia, e em outras unidades em diferentes regiões. Além disso, está em processo de implementação em 62 UTIs Neonatais e Pediátricas da companhia.
A ação aprimora o quadro de saúde e auxilia o ganho de peso dos nenéns. Além disso, promove a redução de ruídos e a baixa da iluminação local. A estratégia, combinada ao efeito terapêutico da musicoterapia, proporciona um ambiente acolhedor e conciliador do sono, auxiliando, principalmente, o desenvolvimento de bebês prematuros.
O método é uma alternativa para pacientes que não respondem aos métodos tradicionais de tratamento e à via verbal da fala. “A música chega sem pedir licença. Ela ativa memórias, sentimentos e emoções que não temos controle. Então, ela vai trazer a tona momentos bons, saudáveis, prazerosos, mas também pode trazer traumas”, pontuou Fernanda, que é musicoterapeuta, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A musicoterapia utiliza a música, os elementos sonoros musicais, o silêncio e os sons no geral como uma ferramenta de cuidado da saúde da população em geral. Segundo a profissional, no entanto, a música deve ser escolhida com cuidado porque pode despertar diferentes sentimentos.
“Se a pessoa está na UTI, por exemplo, a gente também pode trabalhar com a musicoterapia nos cuidados paliativos. É importante questionar para o paciente, se for possível, ou para a família qual a preferência musical dele, seus gostos e memórias, porque se a gente colocar uma música que o paciente não gosta, ele pode aumentar os batimentos cardíacos, a respiração ficar mais ofegante e até entrar em crise (mesmo que esteja em coma)”, disse Fernanda.
A música tem que fazer parte do contexto musical dessa família. Por isso, não há um gênero musical mais indicado para a musicoterapia. Cada caso é muito específico e varia muito de cada pessoa. “Dentro da área hospitalar, eu trabalhei dois anos no Hospital do Câncer, onde atuei com a prevenção ou diminuição do estresse”, conta a pesquisadora.
Atualmente, ela estuda a prática da musicoterapia para tratamento da ansiedade e outros transtornos mentais. Além disso, atuou por muitos anos com adolescentes infratores no tratamento de dependência de álcool e drogas. Ela conta que a musicoterapia tem um campo bem vasto, abrangendo a área da saúde tanto hospitalar quanto em saúde mental. A ferramenta também atua de forma social, comunitária, educacional e organizacional.
Musicoterapia ajuda a tratar a dor e reduzir o estresse
A musicoterapia emerge como uma ferramenta promissora para melhorar o bem-estar emocional e a qualidade de vida de pacientes, desempenhando um papel significativo no processo de reabilitação. Sua influência positiva pode ser particularmente notável no enfrentamento de condições como o câncer, proporcionando alívio da dor, redução da ansiedade e da fadiga.
Conforme indicado pelo estudo “Music interventions for improving psychological and physical outcomes in cancer patients,” conduzido pela Universidade de Drexel nos Estados Unidos, essa abordagem terapêutica não apenas contribui para o aprimoramento do estado clínico dos pacientes, mas também está associada a uma redução na necessidade de medicamentos e no tempo de internação.
Além disso, a audição e a prática musical estão correlacionadas à diminuição dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Manter um estado de relaxamento pode ser crucial para indivíduos submetidos a procedimentos médicos.
Outra pesquisa relevante, intitulada “Music to reduce pain and distress in the pediatric emergency department: a randomized clinical trial,” conduzida pela Universidade de Alberta no Canadá, explora a conexão entre música e estresse. Este estudo revelou que a música desempenha um papel tranquilizador em crianças internadas em setores de emergência.
Crianças que ouviram música relaxante durante a administração de medicamentos intravenosos relataram sensações de dor significativamente menores em comparação com aquelas que não foram expostas à música. Além disso, mais de dois terços dos profissionais de saúde relataram que a administração de injeções foi muito mais fácil no grupo que experimentou a intervenção musical.