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Uma mulher francesa originária da ilha de Guadalupe, no Caribe, tornou-se a primeira — e até agora única — pessoa no mundo identificada com um novo grupo sanguíneo, batizado de “Gwada negativo”, segundo anunciou nesta sexta-feira, 21, o Instituto Francês do Sangue (EFS).

A descoberta, considerada uma raridade médica, só foi possível graças aos avanços recentes no sequenciamento genético. Segundo Thierry Peyrard, farmacêutico e biólogo responsável pela qualidade e segurança dos produtos sanguíneos no EFS, o caso começou a intrigar os cientistas ainda em 2011, quando foi detectado na paciente um “anticorpo muito particular e desconhecido” durante exames de rotina antes de uma cirurgia. Na época, os meios técnicos disponíveis não permitiram prosseguir com as investigações.

Foi apenas a partir de 2019, com o uso da sequenciação de DNA de altíssima velocidade, que a equipe conseguiu resolver o mistério. O exame revelou uma mutação genética que deu origem ao grupo sanguíneo inédito. A descoberta foi oficializada em junho de 2025, durante um congresso da Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT), em Milão.

O nome “Gwada negativo” foi escolhido em homenagem à origem guadalupense da paciente. “É um nome que soa bem em todas as línguas e foi muito bem recebido pela comunidade científica”, explicou Peyrard.

Hoje sexagenária, a mulher vivia em Paris e tinha 54 anos quando o anticorpo foi identificado pela primeira vez. Por se tratar de um grupo tão específico, ela é, por enquanto, a única pessoa no mundo compatível consigo mesma em termos de transfusão sanguínea — algo extremamente raro. Em grupos sanguíneos considerados raros, é comum haver ao menos pequenos grupos de pessoas compatíveis, como irmãos. No caso dela, os irmãos herdaram apenas um alelo do gene mutado, o que não foi suficiente para manifestar o grupo sanguíneo. A condição só se revela quando o indivíduo herda duas cópias do gene, uma de cada pai.

O EFS agora busca novos doadores com a mesma mutação genética, principalmente em Guadalupe, na esperança de encontrar outros portadores. Para isso, um protocolo especial de detecção está sendo desenvolvido.

A descoberta reforça a importância da diversidade genética nos bancos de sangue e poderá ter impacto direto no futuro da medicina transfusional, especialmente em populações historicamente sub-representadas em pesquisas biomédicas.