Estudo conclui que masturbação deu importante contribuição para a evolução humana

19 junho 2023 às 19h32

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De acordo com um estudo científico recentemente publicado na revista internacional Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, a masturbação pode ter desempenhado um papel crucial na evolução da espécie humana. Os pesquisadores sugerem que a autoestimulação pode ser considerada um traço adaptativo que contribuiu para o desenvolvimento da nossa espécie.
Além disso, trabalhos anteriores também apontaram os benefícios da prática da masturbação para o bem-estar e a saúde sexual. Esses estudos indicam que a masturbação pode melhorar o desempenho sexual e promover um maior entendimento do próprio corpo.
“Toda questão que envolve sexo interessa para o estudo do nosso processo evolutivo”, argumenta o professor da Universidade de São Paulo (USP), Tiago Falótico.
No entanto, a masturbação é um comportamento que, à primeira vista, pode parecer deletério e um desperdício de tempo, energia e recursos, sem trazer vantagens adaptativas aparentes. Por muitos anos, o hábito foi considerado uma consequência natural da sensibilidade na região genital e até mesmo tratado como uma patologia por alguns especialistas. No entanto, as novas descobertas científicas estão lançando luz sobre essa prática.
Os resultados de um estudo recente foram obtidos a partir da análise de informações provenientes de 400 fontes, sendo 60% delas publicações científicas e 40% contribuições de primatologistas e tratadores de zoológicos. Esses dados foram cruzados com as árvores filogenéticas dos animais estudados e sua coevolução com outras características.
Com base nesses resultados, os pesquisadores levantaram duas hipóteses para explicar o papel da autoestimulação no jogo de sobrevivência das espécies. A primeira hipótese sugere que a prática aumenta as chances de fertilização, especialmente em ambientes nos quais vários machos competem por uma fêmea.
A segunda hipótese aponta a masturbação como uma forma de prevenção de infecções. De acordo com os especialistas, quando os machos ejaculam, eles limpam a uretra, eliminando pelo menos parte dos possíveis agentes infecciosos da região.
No entanto, o estudo não explorou a masturbação feminina e suas motivações ainda permanecem pouco claras para os pesquisadores. Uma das razões para isso é a escassez de dados científicos, uma vez que há menos relatos desse comportamento no mundo animal.
Embora a masturbação seja encontrada naturalmente em várias espécies do reino animal, sua popularidade entre os primatas, incluindo os seres humanos, é inegável. Segundo o estudo, a autoestimulação tem sido uma característica presente em nosso tronco evolutivo há cerca de 40 milhões de anos. Ao longo desse período, os seres humanos aprenderam a ser criativos na busca do prazer solitário, o que levou ao uso de brinquedos sexuais para alcançar o orgasmo.
No ano passado, pesquisadores relataram na revista científica Ethology como macacos usavam pedras para estimular seus órgãos sexuais. Essa prática não era ocasional, mas sim um hábito frequente observado principalmente entre os machos jovens. Por outro lado, as fêmeas mostraram-se mais criteriosas na escolha dos objetos, preferindo pedras com bordas afiadas ou texturas específicas.
O urologista e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), Rodrigo Barros, ressalta que a masturbação pode trazer vários benefícios para o bem-estar e saúde sexual. Ele afirma que além de ser uma forma de alcançar satisfação sexual sem correr o risco de infecções sexualmente transmissíveis, também ajuda a conhecer melhor as zonas erógenas do próprio corpo.
Além disso, a ejaculação durante a masturbação libera neurotransmissores que promovem o bem-estar. Em alguns casos, a prática também está associada a melhorias no sono, na autoestima e até no desempenho sexual, benefícios esses que são relatados em estudos científicos. Uma pesquisa realizada com homens e mulheres noruegueses de diferentes faixas etárias, por exemplo, revelou uma associação entre masturbação e satisfação sexual.
No entanto, o urologista Rodrigo Barros adverte que a prática compulsiva pode ser prejudicial. “Existem pessoas com tendência maior à hipersexualidade que podem criar dependência”, revela.
Outro fator de risco é o envolvimento excessivo com pornografia, o qual pode criar expectativas irreais em relação ao sexo e resultar no desenvolvimento de um estilo masturbatório idiossincrático. Isso significa que a pessoa se acostuma a um determinado tipo de estímulo que não pode ser reproduzido durante uma relação sexual.
Além disso, a compulsão em relação à pornografia pode causar problemas na vida cotidiana, tanto nos relacionamentos conjugais quanto no ambiente de trabalho. Nesses casos, é recomendado buscar a ajuda de um profissional especializado em sexualidade humana, como um terapeuta sexual.
Porém, para aqueles que não apresentam esses problemas mais graves, é importante seguir o exemplo de nossos antepassados e continuar a buscar o prazer através da masturbação, desde que seja praticada de maneira saudável e equilibrada.