À medida que as luzes natalinas tomam conta das cidades e as comemorações se aproximam, um alerta importante ganha força para muitas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O período festivo pode ser sinônimo de sofrimento. O que para a maioria representa alegria, fogos de artifício, música alta, buzinas, motos acelerando, para quem tem hipersensibilidade auditiva pode desencadear crises intensas e profundo desconforto físico.

O Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), referência nacional no atendimento a pessoas com TEA, reforça que pequenas mudanças de comportamento podem transformar o fim de ano em um momento mais inclusivo e seguro. A unidade, ligada à Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), tem intensificado ações de conscientização sobre o impacto do excesso de estímulos sensoriais.

Para o diretor técnico-assistencial do Crer, Ciro Bruno Silveira Costa, a sociedade ainda precisa compreender que inclusão vai muito além de acessibilidade física. Envolve também reconhecer e respeitar limites sensoriais.

“Não se trata apenas de garantir acesso a serviços, mas de entender as necessidades emocionais e sensoriais dessas pessoas. Atitudes simples, como evitar fogos ou reduzir o volume da música, podem prevenir crises e tornar os ambientes mais humanos”, afirma.

A hipersensibilidade auditiva é uma característica comum entre pessoas autistas. Sons que passam despercebidos para a maioria podem ser percebidos como agressivos ou até dolorosos. Fogos de artifício, em especial, são um gatilho frequente de crises.

Thaynara Amorim conhece bem essa realidade. Mãe de Rhavi, de 6 anos, diagnosticado com TEA nível 1, ela relata que o período de festas costuma ser desafiador.

“Ele coloca as mãos nos ouvidos, chora, grita. Se está sozinho e escuta um barulho forte, corre para mim desesperado. Fogos, motos, música alta… tudo incomoda muito”, conta.

Apesar das dificuldades, Thaynara celebra a evolução do filho após quatro anos de tratamento no Crer. Segundo ela, o trabalho terapêutico tem ajudado Rhavi a lidar melhor com estímulos sonoros.

“No começo era muito difícil. Ele não tinha foco, não entendia o que acontecia. Hoje já reage melhor a alguns sons. As terapeutas trabalham com músicas e sons específicos, e isso fez toda a diferença. O Crer transformou nossa rotina”, afirma.

Como tornar as festas mais acolhedoras

A supervisora da Clínica Intelectual do Crer, Sofia Mustafé, destaca que pequenas adaptações podem reduzir significativamente o impacto sensorial durante as celebrações. Entre as recomendações:

Abafadores de ruído: ajudam a diminuir a intensidade sonora e evitam crises.

Previsibilidade: explicar antecipadamente o que vai acontecer reduz ansiedade e estresse.

Caixa de regulação sensorial: incluir brinquedos sensoriais, texturas e objetos que tragam conforto.

Cantinho sensorial: criar um espaço tranquilo em casa para momentos de desregulação.

Sofia reforça que a responsabilidade pela inclusão é coletiva. “A diversão de uns não pode significar sofrimento para outros. Evitar fogos, reduzir o volume da música e adotar uma postura empática são atitudes essenciais. A sociedade precisa compreender que pequenas mudanças fazem grande diferença”, afirma.

Uma celebração possível

A família de Rhavi, que acompanha de perto sua evolução, faz um apelo para que a população tenha mais consciência durante as festividades. Para eles, respeito e empatia são os verdadeiros ingredientes de um fim de ano mais humano.

Leia também:

Entre unidade governista e risco de ‘chapa da morte’: federação UB-PP redefine cenário político em Goiás e do Brasil

De “grande possibilidade” a “incerto”: o que dizem lideranças e especialistas sobre aliança PL-MDB em Goiás

STJ derruba valor venal de referência e define que ITBI deve seguir o preço real da compra; diferença pode gerar restituição