Um homem de 53 anos, residente de Dusseldorf, no oeste da Alemanha, foi curado totalmente do vírus da imunodeficiência humana, conhecido como HIV. Segundo a rede de televisão americana ABC News, na última semana, o alemão foi confirmado como quinto caso de paciente que conseguiu ser tratado com sucesso após contrair a doença. Com base nos exames, ele não apresentou nenhum sinal de vírus detectável no corpo, mesmo sem tomar os remédios por quatro anos.

Os cinco casos que contraíram HIV e se curaram possuem uma estranha coincidência: todos tinham câncer. Ou seja, pensando em resolver as duas doenças, todos os pacientes precisaram passar por um transplante de medula óssea. Entretanto, os cientistas buscaram um doador com uma mutação genética que não expressaria um receptor específico chamado de “CCR5”. 

Tal receptor em questão é um proteína localizada na superfície das células do sistema imunológico, chamadas de linfócitos T CD4, os principais alvos do HIV. Atuando como local de entrada do vírus. Mas, com a mutação, a célula se torna resistente e impede a replicação do vírus no organismo. 

Ou seja, seria o transplante de médula o caminho para a cura do HIV? Segundo o infectologista José Valdez Ramalho Madruga, coordenador do Comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a resposta pode ser positiva, mas tem os seus problemas. Existe “esperança”, mas ainda existem inúmeros desafios. 

“É importante saber que existe a possibilidade de cura, isso gera uma esperança”, contou o pesquisador do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo, em entrevista ao jornal O Globo. Pode ser que isso direcione algum dia para uma cura com modificações genéticas da célula para que ela tenha essa característica de não expressar a proteína CCR5. Porém o transplante não é algo possível de se reproduzir em larga escala, é muito arriscado, com mortalidade alta, de 15%. Então só tem sentido realizá-lo quando de fato há uma doença associada, como a leucemia”, completou. 

Fora que também não é um procedimento totalmente eficaz, sem eficácia garantida de 100%. Conforme apontou o infectologista e professor Ricardo Sobhie Diaz, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), houve falhas de transplantes, mas ainda assim é promissor. “O mais legal é que os cinco casos foram de diferentes idades, resistências ao vírus, estágios da infecção e gêneros. Então essa diversidade ajuda a entendermos as possibilidades de cura. Agora precisamos encontrar um caminho escalonável para isso”, explicou o docente.

Além da alternativa citada anteriormente, utilizada em pacientes com HIV e câncer, cientistas também estudam processos com base no processo de latência dos vírus. Chamado de persistência viral, essa situação impede que medicamentos atuais eliminem completamente a doença do organismo.

De acordo com o imunologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jorge Andrade Pinto, a situação acima reflete um dos caminhos de cura que é estudado por cientistas. Com base na reversão dessa latência ou silenciando de vez os vírus que estão latentes no corpo para que não despertem. Uma outra forma de combate seria o desenvolvimento de uma vacina terapêutica que estimula o sistema imune a reconhecer e atacar as células infectadas.

Apesar do HIV não possuir uma cura universal, o cenário mudou completamente em relação aos anos 1980 e 1990, quando a doença foi detectada em humanos e era considerada sentença de morte. Em 2021, cerca de 38 milhões de pessoas estão com o vírus no organismo, mas houve apenas 650 mortes no mesmo período, segundo a Unaids. Ou seja, com tratamentos modernos e medicações mais eficazes, a infecção pode ser controlada e o paciente ter uma boa qualidade de vida.