Por trás de uma nova onda de devastação nas ruas americanas, especialmente na Filadélfia, está uma substância até pouco tempo restrita ao uso veterinário: a xilazina. Conhecida como “tranq” no mercado ilegal, esse sedativo para grandes animais, como cavalos e bois, tem sido misturado ao fentanil — um opioide sintético até 50 vezes mais potente que a heroína — para intensificar e prolongar seus efeitos.

O resultado é uma crise de saúde pública sem precedentes, marcada por feridas necrosantes, amputações espontâneas e uma população cada vez mais vulnerável à dependência química e à degradação física.

A xilazina não é aprovada para uso humano. Quando injetada, reduz drasticamente a frequência cardíaca e a respiração, além de causar sedação profunda. Misturada ao fentanil, potencializa os efeitos do opioide, tornando as overdoses mais difíceis de reverter, inclusive com o uso de naloxona, o antídoto padrão para opioides.

Além dos riscos respiratórios, a substância provoca lesões cutâneas graves. “Estamos vendo pacientes com feridas que não víamos há cinco anos. Agora, é quase diário nos grandes hospitais universitários da Filadélfia”, afirmou o Dr. Asif Ilyas, cirurgião ortopédico da cidade.

O bairro de Kensington, na Filadélfia, tornou-se símbolo da epidemia. Vídeos virais mostram usuários em estado de torpor, imóveis por horas, com feridas abertas e sinais visíveis de deterioração física. A cidade, que já enfrentava altos índices de dependência de opioides, agora lida com uma nova camada de complexidade: uma droga que destrói não apenas por dentro, mas também por fora.

Segundo a Administração de Repressão às Drogas (DEA), em 2023, cerca de 30% das amostras de pó de fentanil apreendidas estavam contaminadas com xilazina. Embora sua presença em comprimidos seja menor, o crescimento da substância no mercado ilegal é evidente.

Em 2022, os Estados Unidos registraram mais de 109 mil mortes por overdose — uma a cada cinco minutos. A combinação de fentanil com xilazina torna essas estatísticas ainda mais sombrias, pois os efeitos da xilazina não respondem aos tratamentos convencionais para overdose de opioides.

A xilazina é um agonista alfa-2 adrenérgico usado para sedar animais de grande porte. Ela não é classificada como substância controlada nos EUA, o que facilita sua aquisição por traficantes. Seu baixo custo e efeito prolongado a tornam atrativa para adulterar drogas como o fentanil, aumentando os lucros dos cartéis.

Desafios
A presença da xilazina representa um desafio para profissionais da saúde e autoridades. Como não é um opioide, a naloxona — amplamente distribuída em campanhas de prevenção — não é eficaz contra seus efeitos. Além disso, os usuários muitas vezes não sabem que estão consumindo a substância, dificultando diagnóstico e tratamento.

Hospitais enfrentam dificuldades para tratar as feridas causadas pela droga, que muitas vezes exigem amputações. O aumento de casos também pressiona os sistemas de saúde locais, já sobrecarregados pela crise dos opioides.

Caminhos possíveis
Especialistas defendem que a xilazina seja incluída na lista de substâncias controladas, permitindo maior fiscalização e restrição de sua comercialização. Campanhas de conscientização são urgentes, especialmente em comunidades vulneráveis.

Enquanto isso, centros de pesquisa e saúde pública trabalham para desenvolver protocolos específicos para lidar com overdoses envolvendo xilazina, além de buscar alternativas terapêuticas para tratar os danos físicos causados pela substância.

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