Ultimato de Gomide ao PMDB: “Vocês têm de definir um nome nesta semana”
24 março 2014 às 16h21
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Prefeito tem pré-candidatura “quase” confirmada pela direção nacional do PT e reafirma que, se desincompatibilizar da Prefeitura de Anápolis, ele não disputará nem a vice nem o Senado
Cezar Santos
O PMDB de Iris Rezende e de Júnior Friboi está encostado na parede com a faca no pescoço. E quem segura a faca é o PT, pelas mãos do prefeito de Anápolis, Antônio Roberto Gomide. A imagem pode ser excessiva, mas é ensejada pelo racha que os peemedebistas vivem entre dois nomes, um “oficial”, Friboi, e outro “oficioso”, Iris, para a pré-campanha e a consequente conversação no sentido de formar coligação e definir chapa majoritária.
Antônio Gomide verbaliza seu ultimato de forma um pouquinho mais suave, mas nem por isso menos incisiva: “Nosso encontro de delegados do PT é no sábado que vem, dia 29, o PMDB tem até essa data para definir o seu pré-candidato e apresentá-lo. Aí podemos conversar, mas enquanto eles tiverem duas pré-candidaturas, não temos como conversar. Isso já foi dito com todas as letras, há coisa de um mês, quando nosso presidente nacional, Rui Falcão, esteve em Goiânia”.
As palavras de Gomide mostram que seu estado de ânimo para sair candidato ao governo do Estado foi reforçado após encontro com Falcão outros membros do diretório nacional, em Brasília, na quinta-feira, 20. Ele lembra que a definição de sua candidatura será em Goiás, no dia 29. “Isso foi reafirmado no encontro nacional, em Brasília. E eu já estava aguardando isso mesmo, quem vai tomar a decisão é o PT estadual, no encontro de delegados, que vai referendar nosso nome para ser pré-candidato ao governo em Goiás. Nessa decisão não tem nada que possa sofrer empecilho na direção nacional.”
Antônio Gomide diz que os Estados onde o PT vai abrir mão para que o PMDB tenha a cabeça de chapa, ou seja, onde o PT participa da majoritária, mas não com o candidato ao governo, são: Amazonas, Pará, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Mato Grosso, Tocantins e Rondônia. Goiás não está nessa lista.
O prefeito não disse ao editor, mas na reunião de quinta-feira, em Brasília, também ficou definido que seu partido vai disputar o governo em 11 Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Piauí, Bahia, Distrito Federal, Acre, Paraná, Mato Grosso do Sul e Roraima. Ou seja, não foi definida a situação de Goiás, que está numa espécie de limbo: pode ser ou não. Nos bastidores é dado como certo que a direção nacional — leia-se Lula da Silva e o staff da campanha de reeleição de Dilma Rousseff — vai “rifar” o PT goiano, se o PMDB optar por lançar Iris Rezende.
Antônio Gomide observa que os problemas que o PMDB vem enfrentando com a divisão entre dois nomes não pode prejudicar o PT. “Eles estão com uma dificuldade interna, mas precisamos superar isso no desenrolar da campanha mesmo, no amadurecimento do processo.”
Isso significa que não há possibilidade de PT e PMDB marcharem unidos no primeiro turno da sucessão estadual? “Podemos estar juntos no primeiro turno, só que depois, se eu for definido pré-candidato, aí eu não serei candidato nem a vice nem ao Senado. Portanto, temos ainda esta semana, para que o PMDB possa se definir. Mas, repito, eles têm uma dificuldade de nomes.”
E se depois do dia 29 o PMDB optar por lançar Iris Rezende candidato? “Não tem problema, nós temos cabeça de chapa. Temos garantia da direção nacional para isso. O PMDB já tem mais de cinco meses nessas conversas. Não dá para que passe essa definição para junho, e aí o período de desincompatibilização não permite mais. O presidente Rui Falcão esteve em Goiânia e disse isso.”
Gomide afirma que se os delegados petistas decidirem por sua pré-candidatura, na sequência ele se desincompatibiliza da Prefeitura de Anápolis. “E aí— e é o que estou pedindo aos diretórios nacional e estadual — quero o direito de ser candidato majoritário, sem qualquer interferência para buscar as alianças necessárias na pré-campanha. E aí, obviamente, vou buscar também o apoio do PMDB.”
Índices tímidos
As pesquisas não mostram índices mais robustos para o prefeito de Anápolis, que ressente-se de maior reconhecimento por parte do eleitorado. Se ele é obviamente muito conhecido em Anápolis, onde seu governo desfruta de aprovação maciça, nas cidades do interior a situação é diferente. Mas Gomide não vê problemas nisso e diz que em 60 dias de pré-campanha avançou bem. “Nunca vi um candidato avançar tanto num prazo desses”, se elogia.
Ele faz contas para justificar seu otimismo, esgrimindo números seus e de adversário em quatro pesquisas do instituto Grupom em Goiânia, Aparecida, Rio Verde e Anápolis. “São 1,6 milhão de votos nessas quatro cidades. Marconi Perillo tem 27% dos votos, Vanderlan tem 21%, eu tenho 15,3% e Friboi está com 11,2%. Na rejeição, Marconi aparece com 434 mil votos de rejeição, ou 42%, o que é muito alto, sendo que o índice de conhecimento do governador é 99% no Estado. Meu desconhecimento nesses quatro municípios é de 61% e tenho rejeição de 19,3%, Friboi com 25% e Vanderlan com 19%. Numa pré-campanha de 60 dias rodando o Estado, em quatro cidades de densidade eleitoral maior, com pesquisa de um instituto razoável, entendo que estamos bem.”
O prefeito arremata dizendo que o sentimento que ele percebe nas ruas é de que sua candidatura venha somar nesse processo de debate. Ele enumera que três são os critérios para que sua pré-candidatura continue progredindo: unidade do partido, credencial e credibilidade junto à população a partir do trabalho feito em Anápolis, e que pode ser aplicado a nível estadual, e, finalmente, articulação política, principalmente com o alinhamento do governo federal. “O PT pode apresentar com nossa candidatura uma alternativa real de vitória para o governo de Goiás, buscando na pré-campanha as alianças que vão nos fortalecer.”
“Não precisamos decidir com a faca no pescoço”, diz vice-prefeito
O vice-prefeito de Goiânia, Agenor Mariano (PMDB), minimiza o racha interno de seu partido, conflagrado entre pró-iristas e pró-friboizistas. Segundo Mariano, isso mostra que o PMDB goiano não tem dono, quando muitos até dizem que Iris Rezende é o “dono” do partido.
“Normalmente, se busca um consenso para a convenção e a definição do candidato, mas nem sempre se chega a um consenso com antecedência. No momento, estamos com dois nomes com potencial para sair candidato pelo PMDB, e há preferências internas por um e por outro. Não é briga, é a democracia dentro do partido. Não vejo maior problema nisso. É um processo de discussão natural”, diz o vice-prefeito.
Agenor Mariano lembra que Iris não disse que é pré-candidato, mas também não disse que não pode ser pré-candidato. “Como é uma liderança conhecida e experiente, com mais de 50 anos de política, Iris sempre é uma possibilidade fortíssima, viável. Ele está ouvindo as pessoas, aliás, mais ouvindo do que falando. O PMDB não precisa decidir nada de afogadilho, com a faca no pescoço. Temos tempo”, diz.