Sucessão municipal em Goiânia promete, em vez de polarização, disputa acirrada
28 novembro 2015 às 12h01
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A tão conhecida polarização do pleito na capital provavelmente não ocorrerá; ao contrário, o goianiense verá pelo menos quatro candidaturas fortes e com chances de vitória
Marcos Nunes Carreiro
A população brasileira está acostumada a se ver em cenários de polarização eleitoral. São raras, raríssimas, as eleições em que há mais de dois candidatos fortes, com condições concretas de vencer. O que há são surpresas, geralmente protagonizadas pelas chamadas terceiras vias, aqueles grupos que não se aliam a uma das duas forças vigentes.
Em Goiânia, por exemplo, desde a redemocratização em 1985, a disputa sempre ficou entre quatro partidos: PT, PMDB, PSDB e PTB. A cada pleito, duas das siglas se revezavam na polarização.
Em 2012, por exemplo, foram oito candidatos, mas apenas dois de partidos grandes: Paulo Garcia, à frente de uma coligação que tinha como principais partidos o PT e o PMDB; e Jovair Arantes (PTB), com o apoio do PSDB. Paulo venceu no primeiro turno com 57,68% dos votos; Jovair ficou em segundo com 14,25%.
Para 2016, espera-se o mesmo? Não. O cenário que se desenha para as próximas eleições municipais tem, pelo menos, quatro fortes candidatos. Ao que tudo indica, Iris Rezende deve ser o candidato do PMDB. O PT caminha para lançar candidatura própria, possivelmente a deputada estadual Adriana Accorsi.
O PTB, por sua vez, tem Luiz Bittencourt como pré-candidato e há no PSDB muitos nomes com “projetos em andamento”: Jayme Rincón, Fábio Sousa e Waldir Soares. Em uma apuração mais ampla, a lista pode chegar a sete nomes, incluindo ainda o deputado federal Giuseppe Vecci, o deputado estadual Mané de Oliveira e os vereadores Anselmo Pereira e Cristina Lopes.
O certo é que o partido do governador Marconi Perillo terá um candidato disputando a prefeitura de Goiânia. Dessa forma, a cena eleitoral goianiense fica com quatro candidatos praticamente certos, mas podemos ainda acrescentar mais dois nomes na equação: Vanderlan Cardoso (PSB) e Waldir Soares.
O leitor desavisado deve se perguntar: “Waldir Soares? Mas ele não é do PSDB? Como o partido lançará dois candidatos?”. Aí é que está. Não irá. Entre os tucanos, o nome do deputado mais votado de Goiás não é o favorito. Jayme ocupa o centro das especulações, embora ele não se coloque como pré-candidato. Porém, Waldir já deu o recado: será candidato. Logo, deve sair por outro partido.
O quadro, então, fica com seis candidatos, fora os de partidos menores. Será uma eleição com muitas escolhas. A questão é: o que muda em uma eleição com tantos candidatos?
A candidatura do lado petista é praticamente certa por dois motivos: 1) Tem a prefeitura atualmente e precisa mostrar à população que tem nomes preparados para executar o melhor projeto para Goiânia; 2) Seu parceiro de primeira hora, o PMDB, está em processo de afastamento do PT — que atingiu o auge nas críticas feitas pelo vice-prefeito, Agenor Mariano, à gestão de Paulo.
E esse estremecimento entre Paulo Garcia e Iris Rezende — que, corre pelos bastidores, foi o “autor” das críticas proferidas por Agenor — foi fundamental. Nesse contexto, é certo que “Adriana Accorsi está animada, embora diga que não”, conta um político sob a segurança do off. E a deputada está errada em não querer assumir uma pré-candidatura? De forma alguma, sobretudo porque o momento para o prefeito de Goiânia, como todos os outros do país, não é bom. Afinal, os municípios passam por dificuldades e os gestores, por consequência, estão mal avaliados.
Iris sabe disso e quer se afastar, pois, mesmo sendo o favorito, ainda não se firmou como tal. As pesquisas que têm sido feitas pelos partidos mostram, sim, Iris na frente. Porém, ele tem entre 28% e 30% de intenções de voto, o que não é tão bom assim. “É muito baixo para quem saiu com 70% de aprovação e sem ninguém de peso como adversário. É um sinal de que ele tem uma dificuldade de crescimento. Uma pessoa como Iris, que é conhecida de 99% da população goianiense, deveria ter pelo menos 50% das intenções para ser apontado como favorito real”, diz um pesquisador.
Claro que, no cenário atual, não se pode desprezar o ex-prefeito. Afinal, como apontou o pesquisador, ele é conhecido de 99% da população e ainda conta com um excelente cacife eleitoral na capital. E é por isso que até as alas do PMDB que defendem a renovação no partido — leia-se o expurgo total do irismo — apoiam Iris à Prefeitura de Goiânia. Ele é o único candidato que começa com alguma perspectiva de votos, mesmo que esteja abaixo do esperado.
Situação da base
A grande questão das eleições 2016 fica por conta da base do atual governo estadual, que nunca venceu em Goiânia. O último prefeito do PSDB foi Nion Albernaz (1997-2000); desde então, foram três gestões petistas e duas iristas. A maior discussão é: unir a base em torno de um só candidato ou apostar em várias candidaturas?
O tema divide opiniões dentro da base. Jayme Rincón, por exemplo, defende a união para garantir a vitória. Em entrevista ao Jornal Opção, ele afirmou que “teremos um total de pelo menos seis candidatos no pleito, com Iris tendo uma hegemonia. Os demais não vão, em um primeiro momento, passar de 10% nas pesquisas. Iris sai muito à frente dos outros e assim tem chance de ganhar no primeiro turno. A pulverização favorece que isso ocorra. Por isso, eu sempre defendi que, para enfrentar Iris, teríamos de sair com apenas um candidato da base”.
Outros, como o presidente nacional do PHS, Eduardo Machado, acreditam que várias candidaturas seria uma estratégia mais acertada. “Primeiro e segundo turno existem exatamente para isso. Assim, quanto mais candidatos, maior a possibilidade de levarmos a disputa para o segundo turno, mas com o compromisso de se unir no segundo turno”, afirma.
É certo que os argumentos de Eduardo são corroborados por outros, como Vilmar Rocha e Jovair Arantes, presidentes de PSD e PTB, respectivamente. Aliás, o nome do petebista é citado por alguns políticos como argumento para defender a presença de várias candidaturas. O motivo: em 2012, a base se uniu para apoiá-lo e foi derrotada no primeiro turno. Lembrando que o PTB tem um pré-candidato — Luiz Bittencourt — e o PSD já especulou lançar alguns nomes, como os dos deputados estaduais Francisco Junior e Virmondes Cruvinel.
O risco da base é forçar um segundo turno e alçar Vanderlan Cardoso (PSB) à disputa direta com Iris, o que não dá nenhuma garantia de que o ex-prefeito de Senador Canedo vai ser leal ao Palácio das Esmeraldas, uma vez que foi adversário do governador Marconi nas últimas duas eleições ao governo. Contudo, na avaliação de muitos políticos, este é um risco que deve ser corrido.
E Vanderlan Cardoso?
O ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso transferiu seu título de eleitor para Goiânia e é o único que já disse com todas as letras: “Sou candidato”. É certo que Vanderlan tem capacidade de votos. Em alguns locais de Goiânia, inclusive, ele teve mais votos que o governador Marconi Perillo em 2014.
Entretanto, corre pelos bastidores que Vanderlan não está animado para a disputa. “Nem a filiação da senadora Lúcia Vânia em seu partido fez com que ele entrasse, de fato, na campanha da capital”, afirma um político ligado ao PSB. “Ele está mais voltado para Senador Canedo”, diz.
A questão é que Vanderlan, nome mais que aprovado na cidade que faz divisa com a capital, já não pode (re)transferir seu título de eleitor para Senador Canedo. Logo, ou ele disputa em Goiânia ou ficará de fora das eleições de 2016. A falta de ânimo do empresário estaria ligada a uma possível polarização do pleito entre Iris e um candidato da base, o que o deixaria na condição de terceira via novamente. Isso, em sua avaliação, não lhe é benéfico.
Agora, se Iris não for candidato, “uma lacuna será aberta e ele passa a ter chances. Sua candidatura é tão incerta quanto a de Luiz Bittencourt. Eles são uma incógnita. Waldir, não. Este será candidato de qualquer jeito”, afirma, categórico, um pesquisador.
O fator Waldir Soares
Waldir Soares é um nome que pode ajudar a desequilibrar as eleições. Um político da base afirma: “A perspectiva é que Waldir tire muitos votos de Iris nos locais mais populosos de Goiânia, sobretudo na Região Noroeste”. A fala é correta, afinal, trata-se do deputado federal mais bem votado da história de Goiás — quase 275 mil votos.
É preciso ressaltar, porém, que a histórica votação de Waldir foi para o Legislativo. No Executivo, gostam de alertar os pesquisadores, a visão do eleitor muda. De fato. Contudo, é certo que a presença do delegado no pleito pode mudar os rumos. Se não vencer, ele pode pelo menos ajudar a garantir um segundo turno, ajudando na tese de que várias candidaturas ajudarão a esvaziar o favoritismo de Iris.
E, pelo que se pode ver, o delegado deverá mesmo ser candidato. Ao menos, afirma que será; se não pelo PSDB por outro partido. Tucanos relatam que a postura de Waldir dentro do partido é de imposição e que isso pouco agrada os membros da sigla. Logo, a saída do deputado é iminente, assim como o anúncio de sua candidatura ao Paço da capital.
Campanha mais curta dificultará a situação para os candidatos “novos”?
As eleições de 2016 serão as primeiras a acontecer com as novas regras projeto de reforma política aprovado no Congresso e sancionado pela presidente Dilma Rousseff (PT) no início de outubro — sem contar as outras duas sancionadas em dezembro de 2013 que serão aplicadas pela primeira vez no ano que vem.
As principais mudanças para 2016 ficam por conta dos seguintes pontos:
1) O tempo de campanha passa de 90 para 45 dias;
2) O período de propaganda eleitoral no rádio e na TV diminuiu de 45 para 35 dias;
3) Pode-se gastar 70% do valor declarado pelo candidato que mais gastou no pleito anterior, se tiver havido só um turno, caso de Goiânia. Como o candidato que mais gastou em 2012 foi Paulo Garcia — 25 milhões —, o teto de gastos agora é de R$ 17,5 milhões;
4) A lei tira a exigência de que todo o tempo de propaganda seja distribuído exclusivamente para partidos ou coligações que tenham representação na Câmara. Porém, o texto mantém uma parcela da distribuição do tempo para ser dividida entre partidos representados na Câmara, proporcionalmente ao tamanho da bancada, impedindo que um parlamentar que mude de legenda transfira o tempo para seu novo partido. Nesse caso, se Waldir Soares, por exemplo, decidir trocar de partido para ser candidato — o que precisará fazer até seis meses antes das eleições —, ele não poderá adicionar tempo de rádio e TV à sua nova sigla.
O centro do debate em torno das mudanças nas regras eleitorais fica por conta dois primeiros tópicos: campanha mais curta e tempo de rádio e TV menor. Isso altera alguma coisa? Em parte, pesquisadores e políticos dizem que as mudanças prejudicam aqueles candidatos que não são largamente conhecidos pela população. Isto é, as mudanças favoreceriam as “figuras carimbadas”, caso de Iris Rezende e, até certo ponto, Vanderlan Cardoso e Waldir Soares.
Contudo, muitos políticos apontam que essa visão não é de todo correta. Há quem diga, por exemplo, que as eleições serão centradas no candidato. Assim, a redução da campanha e do tempo de rádio e TV não afetarão profundamente o pleito do ano que vem. É o caso do ex-vereador em Goiânia Bráulio Morais.
Para ele, o candidato que apresentar consistência em seus argumentos e propostas voltadas para a gestão, será bem aceito pela população. Ele diz: “Vai pesar que o candidato tem de interagir com a sociedade. Assim, não é o número de partidos em uma coligação que vai fazer um candidato ganhar. Só vai ser positivo em relação ao tempo de TV”.
Sobre o menor tempo de rádio e TV, Bráulio aponta as eleições de 1985 como exemplo: “Em 1985, Daniel Antônio e Darci Accorsi disputaram a prefeitura de Goiânia. Nessa época, Darci não era conhecido e não tinha muita estrutura de campanha, mas conseguiu se comunicar com a população de uma maneira que perdeu as eleições por muito pouco. Assim, acredito que o candidato que conseguir fazer isso em 2016 não será tão afetado pela diminuição do horário de TV”.
Além disso, há uma questão: se o prazo de campanha foi reduzido, a pré-campanha agora conta com ferramentas que antes eram proibidas. Agora, os candidatos podem se apresentar como tais e discutir propostas com a população. Isto é, a campanha, na verdade, passou a ser maior do que era antes.
Uma ferramenta que poderá ser muito usada, por exemplo, são as redes sociais. A campanha nas redes está liberada, sendo proibido apenas contratar direta ou indiretamente pessoas para publicar mensagens ofensivas contra adversários. Isso abre um mundo de oportunidades para os candidatos.