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Maior partido goiano em número de filiados sofre de “irisdependência”

Iris Rezende: fez questão de não eleger um herdeiro de seu legado | Fernando Leite/Jornal Opção
Iris Rezende: fez questão de não eleger um herdeiro de seu legado | Fernando Leite/Jornal Opção

Afonso Lopes

O mais longevo político goiano em atividade é também um dos maiores vitoriosos da história do Estado. Iris Rezende é a grande referência interna do PMDB, e não há nenhuma sinalização de que irá encerrar sua carreira nos próximos anos. Ele é, sim, candidato a prefeito de Goiânia na sucessão do seu afilhado Paulo Garcia, do PT. Quem ga­ran­te é um deputado estadual do PMDB, que conversou esta semana com o Jornal Opção. “Ele diz que não quer e tal, mas quer, sim, e será candidato a prefeito”, disse esse deputado.

Faz sentido, claro. Sem Iris, o PMDB não tem qualquer possibilidade de encabeçar uma candidatura realmente competitiva no cenário goianiense de 2016. O partido teria que se contentar em apoiar alguém de fora, tornando-se assim caudatário. “Se por um acaso o Iris não disputar a eleição, só restaria ao PMDB apoiar um candidato oriundo de um partido da base marconista, alimentando uma dissidência que poderá florescer também em 2018”, completa o deputado peemedebista.

Essa tese, embora bastante complicada, também faz sentido. A oposição acha que a união da base aliada estadual está por um fio, e ela só se mantém graças ao prestígio político e eleitoral que o governador Marconi Perillo detém. Em 2018, Marconi não poderá disputar mais uma vez a eleição para governador. Nesse caso, restariam três alternativas: o Senado, a Presidência de República ou vice, e a aposentadoria precoce. Das três, a última pode até povoar as noites insones dos opositores, mas de tão remota nem deve ser levada em conta.

Sobrevivência

Se a base aliada estadual corre sério risco sem a liderança direta de Marconi, como se verificou no período em que Alcides Rodrigues foi governador do Estado, entre 2007 e 2010, o que seria do PMDB sem a fortíssima presença de Iris Rezende?

Apesar da semelhança natural no papel de Marconi na base e de Iris no PMDB, é quase certo que o primeiro grupamento sobreviveria, mesmo que ficasse bem menor. Já o segundo grupamento ninguém poderia afirmar com determinado grau de certeza. O PMDB é o partido goiano com maior número de filiados, mas Iris não tem herdeiros.

E essa falta de herdeiros do trono de Iris no PMDB é consequência direta do exercício de poder interno do próprio Iris. O prefeito Maguito Vilela, de Aparecida de Goiânia, por exemplo, sempre teve votação suficiente nas muitas eleições que disputou, e quase sempre ganhou. Em 1998, ele poderia se consagrar como herdeiro legítimo de Iris, mas o velho líder preferiu colocar fim ao sonho da herança. Maguito, na época com maciças doses de aprovação, teria amplas condições de ser reeleito já no primeiro turno, mas viu sua candidatura ser atropelada por Iris e pelos grupos iristas mais próximos. O PMDB entendeu esse atropelamento da forma mais direta possível. É como se Iris estivesse dizendo com todas as letras: não, você não é o meu herdeiro.

Nunca mais ninguém conseguiu colocar a cabeça acima da linha d’água no PMDB. Aliás, durante um certo período, especulou-se e conspirou-se internamente pela saída de Maguito do partido como fizeram antes dele Mauro Borges, Henrique Santillo e Nion Albernaz, entre tantos outros. Maguito aguentou a pressão num confortável exílio no Senado. Ao mesmo tempo, tratou de construir as bases de seu próprio grupo, o maguitista, que tem fortíssima presença no Sudoeste do Estado, mas já consegue dar as cartas também no segundo maior colégio eleitoral de Goiás, Aparecida de Goiânia.

Isso significa que se Iris deixar de exercer diretamente a sua forte liderança no PMDB o partido ficará absolutamente órfão de pai, mãe e parteira. Ninguém vai conseguir tocar o barco na correnteza política estadual, que joga uma montanha de interrogações quanto a sobrevivência do PMDB na era pós-Iris. O partido não se preparou, e nem teve liberdade suficiente para se preparar. Depois dos iristas, os maguitistas formam o maior e mais forte grupo peemedebista, mas nem eles somam forças suficientes para dominarem completamente o PMDB. Não restou nem Júnior Friboi, que entrou em rota de colisão com Iris e foi praticamente aniquilado internamente. O PMDB jamais foi tão dependente de Iris Rezende como agora, e vai continuar sendo em 2016 e 2018. Até quando?