Sem a sombra de Iris, prefeito Paulo Garcia redefine estilo de administrar Goiânia
25 julho 2015 às 11h57

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Gestor público da capital não depende mais de amarras políticas e de compromissos partidários que o impediam de imprimir face própria à sua administração. Petista trilha caminho de independência enquanto grande volume de obras é executado

Frederico Vitor
Terminado o processo eleitoral de 2014, o prefeito Paulo Garcia (PT) mudou o modo de gerir Goiânia, governando a capital com mais autonomia e independência administrativa. Este novo modelo de gestão se caracteriza pelo republicanismo nas relações com os demais poderes, em especial o governo estadual, além de um considerável volume de obras importante que são executadas atualmente. Tais realizações, em diferentes locais da cidade, será o legado desta gestão que começou com dificuldades, passou por crises e agora sinaliza para uma fase que será marcada pela agenda positiva e por extensa folha de serviços.
Desatado o nó que prendia Paulo Garcia a seu padrinho político, o líder peemedebista Iris Rezende, o petista vive momento que nada lembra o início de sua administração. O gestor da capital está com nova roupagem, ou seja, despacha com personalidade própria, o que também pode ser interpretado como ações que passam longe das sombras de seu antecessor. Paulo demonstra vontade de deixar boa impressão administrativa junto ao contribuinte goianiense e não considera que é tarde demais para perseguir este objetivo. Mesmo que para isso ele tenha que aparecer publicamente junto ao maior adversário político de Iris, o governador Marconi Perillo (PSDB).
Esta aproximação republicana entre o chefe do Executivo estadual e o prefeito se dá em um momento em que as relações entre Iris e o senador e líder dos Democrata em Goiás, Ronaldo Caiado, se aprofundam. A aliança PT-PMDB se encontra abalada, e não há sinais de que as duas legendas possam caminhar lado a lado mais uma vez nas eleições de 2016. O processo de ruptura da parceria entre petistas e peemedebistas libertou Paulo das amarras que o impediam de imprimir uma gestão mais solta e com sua marca. O prefeito está livre para buscar parcerias entre município e governo e circula com mais desenvoltura na sociedade civil organizada, inclusive no que se refere a dialogar politicamente com líderes de outros partidos.

Radicalização de Iris
Enquanto Iris persegue um caminho da radicalização política juntamente com Caiado, o gestor petista da capital segue a direção oposta, ou seja, abre diálogo e não exclui nenhuma força política que possa somar a sua administração. Justamente isso vem ocorrendo no cenário político de Goiânia. Iris e Caiado mais excluem do que agregam. As duas lideranças formam um palanque pesado para 2016, no sentido de deixar pouco espaço para demais forças partidárias, exceto o Solidariedade do ex-deputado Armando Vergílio. O que se desenha, portanto, é a mesma formação política de 2014 que uniu no mesmo grupo Iris, Armando e Caiado, em 2016.
A tendência do PMDB metropolitano é de continuar o processo de afastamento do PT, em proveito do desgaste da sigla no âmbito nacional, o que não deixou de refletir na esfera municipal. Mas o titular do Paço municipal dá mostras de que é possível reverter a imagem de sua legenda e da própria administração na capital. Nesse sentido, saiu o prefeito que tinha as decisões guiadas por Iris, para dar entrada ao gestor Paulo Garcia, ou seja, o homem público comprometido com as demandas da cidade, a quais ele coloca acima das convenções e interesses políticos e partidários.
Deste modo, surpreendentemente, Paulo Garcia se torna um ator fundamental na formação de um novo cenário político não somente em Goiânia, mas em todo o Estado. Se o PMDB quer abandonar o PT, por sua vez, o partido do prefeito tende a buscar novos aliados, como o empresário Vanderlan Cardoso. O ex-prefeito de Senador Canedo e presidente estadual do PSB pretende disputar a Prefeitura de Goiânia nas eleições de 2016. Mas ele sozinho — isto é, uma candidatura isolada do PSB — fatalmente terá chance reduzida de vencer o pleito municipal. O líder socialista precisa ampliar suas bases em Goiânia e o PT atende esta necessidade.
Além de Vanderlan Cardoso, Paulo Garcia também pode agregar outras forças políticas à formação de uma nova frente partidária, como o megaempresário José Batista Júnior, o Júnior Friboi. Neste momento nada impede o prefeito de sentar-se à mesma mesa do homem de negócios que também mantém atividade no mundo da política. Como não pode se reeleger, Paulo pode se tornar uma espécie de “diplomata” com o objetivo de dar continuidade a seu legado na prefeitura, construindo um novo grupo político com plenas condições de derrotar Iris e Caiado na capital.
Ao se aproximar de Marconi, prefeito mostra independência administrativa
Outro aspecto importante desta nova fase de Paulo Garcia à frente da Prefeitura de Goiânia é a aproximação republicana com Marconi e o governo do Estado. As aparições públicas e as trocas de gentilizas não se restringem apenas a liturgia dos respectivos cargos. Há efetividade na “parceria” entre Palácio das Esmeraldas e Paço Municipal. No final de tudo quem ganha são os moradores da região metropolitana da capital, que são beneficiados por iniciativas administrativas.

Uma delas está encravada no coração de Goiânia, ou seja, a revitalização da Praça Cívica. O equipamento público emblemático e carregado de simbolismo está em reforma e, assim que concluída, promete ser um renovado cartão-postal da cidade. O Estado tinha viabilizado um projeto de reforma, mas não tinha verba para executá-lo. Por sua vez, o município tinha a verba, oriunda do PAC Cidades Históricas, mas não tinha projeto. Deste modo juntou-se o útil ao agradável. O governo estadual cedeu o projeto à prefeitura que por sua vez executa uma ampla frente de serviço em frente à sede do Poder Executivo estadual.
Outra parceria entre Estado e município ocorre no Centro Cultural Cora Coralina. O equipamento público que engloba o Teatro Goiânia, terá a administração repassada ao comando da prefeitura, justamente pelo fato do governo estadual não ter neste momento recursos humanos para administrá-lo. Já o município tem quadros de servidores para área cultural, mas não tem espaço físico que possa acomodá-los. Sendo assim, em breve, por meio da parceria entre Estado e prefeitura, o espaço dará mais opções aos goianienses na área cultural.
A mudança de comportamento de Paulo para com Marconi e vice-versa comçeou timidamente após o término do processo eleitoral de 2014. Já em 2015, mais especificamente no final de junho, o prefeito visitou o Hospital de Urgência Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) na região Noroeste da capital e cobriu de elogios a obra, reconhecendo a magnitude do nova unidade hospitalar.
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Recentemente, foi a vez de Marconi retribuir a gentileza. A convite do prefeito petista, o governador tucano visitou a frente de serviço do projeto Parque Macambira-Anicuns na Região Sudoeste de Goiânia, e o canteiro de obras do BRT, na Avenida Goiás Norte. Paulo apresentou as intervenções para Marconi e afirmou que o convite para a visita é “retribuição ao tratamento respeitoso” que vem recebendo do governador e da administração estadual.
Mais maleável em relação ao governo estadual, Paulo segue o mesmo caminho de outros prefeitos de cidades goianas importantes, como Aparecida de Goiânia e Anápolis. O gestor do primeiro município, Maguito Vilela (PMDB), há tempos está próximo do governador. A relação cordial entre os dois, inclusive, rendeu reprimendas por parte da direção peemedebista, quando se aproximavam as eleições de 2014. Já o chefe do Executivo municipal de Anápolis, João Gomes, é amigo pessoal de Marconi há vários anos, portanto, mais do que natural as boas relações entre os poderes.
Fator Jeovalter
Mas não é por causa da aproximação com o governo estadual que a prefeitura toca grande volume de obras. Afinal de contas nenhuma delas recebeu verba estadual. Depois de quase três anos, somente agora o caixa do município opera com superávit financeiro e fechou as contas do primeiro quadrimestre de 2015 com saldo positivo de R$ 99,6 milhões. De acordo com o balanço orçamentário, a receita orçada era de R$ 1,898 bilhão, enquanto a realizada foi de pouco mais de R$ 1,143 bilhão, diferença de R$ 755,1 milhões. Já a despesa total líquida foi de R$ 1,43 milhão.
A despesa bruta com a folha de pagamento do Poder Executivo municipal atingiu R$ 1,937 milhão. Os números respeitam a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 54%. A aplicação em Saúde atingiu R$ 340.886.751 milhões, 17,91%. O índice é 2,91% maior que o mínimo estabelecido por lei, de 15%. Parte do dinheiro é oriundo de impostos, receitas de transferências do Sistema Único de Saúde (SUS). Esta mudança de direção das contas da prefeitura muito se deve ao secretário de Finanças, Jeovalter Correia. O contador, ex-presidente do Ipasgo, Aganp e do Sindifisco assumiu o lugar de Cairo Peixoto, que ficou à frente da pasta por três meses e cuja saída se deu em meio a polêmicas causadas por posição críticas às contas municipais.
Obras em toda parte de Goiânia reconstroem imagem de Paulo como gestor
Qualquer cidadão, sobretudo o eleitor, no fundo quer ver de seus governantes, obras e realizações. Não basta os gestores públicos ficarem no âmbito do discurso. É necessário apresentar uma folha de serviços que atenda as necessidades da coletividade. Para ver de perto como anda os trabalhos da prefeitura, a reportagem visitou duas importantes frentes de serviços em execução na capital. Tais obras, assim que concluídas, serão as marcas da administração do prefeito Paulo Garcia, e vão contribuir para a formação da imagem de gestor público do petista.

A primeira obra visitada foi a do Programa Urbano Ambiental Macambira-Anicuns (Puama). O parque linear, de 24 quilômetros de extensão — um dos maiores parques lineares da América Latina — foi idealizado em 2003 pelo então prefeito Pedro Wilson (PT). O objetivo do Puama é contribuir na solução de problemas ambientais, urbanísticos e sociais que afetam a cidade, resultante da ocupação desordenada do espaço urbano (especialmente das margens dos cursos de água) e estimular a participação dos cidadãos (individual e coletiva) no processo de construção de um desenvolvimento sustentável da cidade.
Estima-se que cerca de 350 mil pessoas sejam beneficiadas diretamente pelo programa por meio das intervenções de infraestrutura urbana e social nos 131 bairros localizados em sua área de abrangência. O local onde a obra está mais adiantada é na continuação da Avenida Parque, que ligará a Rua Miguel do Carmo, no Residencial Granville, à Avenida Milão, no Jardim Europa. A via está tecnicamente asfaltada, faltando apenas o revestimento do calçamento e alguns retoques de paisagismo. O córrego Macambira neste trecho está totalmente canalizado. No momento em que a reportagem esteve no local, operários trabalhavam no asfalto que ligará a Avenida ao Setor Novo Horizonte.
O projeto Macambira-Anicuns é uma iniciativa da Prefeitura de Goiânia, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que abrange uma área planejada de 25,5 hectares, no Setor Faiçalville. A previsão é de que o conjunto total de obras do primeiro trecho seja finalizado em setembro de 2016. O Parque Ambiental Macambira (PAM), no Setor Faiçalville, por sua vez, será entregue em setembro deste ano.
BRT
A outra obra que estará no roll das grandes realizações da administração de Paulo Garcia é do BRT Norte-Sul. Com quase 22 quilômetros de extensão, quando inaugurado, o corredor exclusivo de ônibus percorrerá 148 bairros de Goiânia e Aparecida de Goiânia, atendendo 120 mil usuários por dia. Orçado em R$ 242,4 milhões, a obra é o maior investimento em mobilidade urbana da história da capital e será executado pelo consórcio formado pelas empresas Isolux, EPC e WVG, vencedor da licitação.

A reportagem esteve no trecho mais adiantado das frentes de serviços, na Avenida Goiás Norte, em frente à Praça do Violeiro, no Setor Urias Magalhães, até as proximidades do terminal rodoviário de Goiânia, no Setor Norte Ferroviário. Nesta parte, é possível ver os operários trabalhando na preparação do solo para concretagem no espaço em que o BRT vai percorrer. No lugar de asfalto, as pistas exclusivas de ônibus serão encobertas de concreto rígido, que tem tempo de duração muito mais elevado que o asfalto comum.
O itinerário do corredor fará a ligação do terminal de integração Recanto do Bosque, na Região Noroeste da cidade, ao terminal de integração Cruzeiro do Sul, na Região Sudoeste, divisa com Aparecida de Goiânia. O projeto prevê a construção de três novos terminais (Correios, Rodoviária e Perimetral) e a reconstrução dos terminais Isidória e Recanto do Bosque, além de adaptação do terminal Cruzeiro.