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Gestor público da capital não depende mais de amarras políticas e de compromissos partidários que o impediam de imprimir face própria à sua administração. Petista trilha caminho de independência enquanto grande volume de obras é executado

Prefeito Paulo Garcia: nova fase administrativa deu condições para protagonismo político | Foto: Prefeitura de Goiânia
Prefeito Paulo Garcia: nova fase administrativa deu condições para protagonismo político | Foto: Prefeitura de Goiânia

Frederico Vitor

Terminado o processo eleitoral de 2014, o prefeito Paulo Garcia (PT) mudou o modo de gerir Goiânia, governando a capital com mais autonomia e independência administrativa. Este novo modelo de gestão se caracteriza pelo republicanismo nas relações com os demais poderes, em especial o governo estadual, além de um considerável volume de obras importante que são executadas atualmente. Tais realizações, em diferentes locais da cidade, será o legado desta gestão que começou com dificuldades, passou por crises e agora sinaliza para uma fase que será marcada pela agenda positiva e por extensa folha de serviços.

Desatado o nó que prendia Paulo Garcia a seu padrinho político, o líder peemedebista Iris Rezende, o petista vive momento que nada lembra o início de sua administração. O gestor da capital está com nova roupagem, ou seja, despacha com personalidade própria, o que também pode ser interpretado como ações que passam longe das sombras de seu antecessor. Paulo demonstra vontade de deixar boa impressão administrativa junto ao contribuinte goianiense e não considera que é tarde demais para perseguir este objetivo. Mesmo que para isso ele tenha que aparecer publicamente junto ao maior adversário político de Iris, o governador Marconi Perillo (PSDB).

Esta aproximação republicana entre o chefe do Executivo estadual e o prefeito se dá em um mo­mento em que as relações entre Iris e o senador e líder dos Democrata em Goiás, Ronaldo Caiado, se aprofundam. A aliança PT-PMDB se encontra abalada, e não há sinais de que as duas legendas possam caminhar lado a lado mais uma vez nas eleições de 2016. O processo de ruptura da parceria entre petistas e peemedebistas libertou Paulo das amarras que o impediam de imprimir uma gestão mais solta e com sua marca. O prefeito está livre para buscar parcerias entre município e governo e circula com mais desenvoltura na sociedade civil organizada, inclusive no que se refere a dialogar politicamente com líderes de outros partidos.

Iris Rezende: líder peemedebista quer companhia de Caiado | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Iris Rezende: líder peemedebista quer companhia de Caiado | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Radicalizaçã­o de Iris

Enquanto Iris persegue um caminho da radicalização política juntamente com Caiado, o gestor petista da capital segue a direção oposta, ou seja, abre diálogo e não exclui nenhuma força política que possa somar a sua administração. Justamente isso vem ocorrendo no cenário político de Goiânia. Iris e Caiado mais excluem do que agregam. As duas lideranças formam um palanque pesado para 2016, no sentido de deixar pouco espaço para demais forças partidárias, exceto o Solidariedade do ex-deputado Armando Vergílio. O que se desenha, portanto, é a mesma formação política de 2014 que uniu no mesmo grupo Iris, Armando e Caiado, em 2016.

A tendência do PMDB metropolitano é de continuar o processo de afastamento do PT, em proveito do desgaste da sigla no âmbito nacional, o que não deixou de refletir na esfera municipal. Mas o titular do Paço municipal dá mostras de que é possível reverter a imagem de sua legenda e da própria administração na capital. Nesse sentido, saiu o prefeito que tinha as decisões guiadas por Iris, para dar entrada ao gestor Paulo Garcia, ou seja, o homem público comprometido com as demandas da cidade, a quais ele coloca acima das convenções e interesses políticos e partidários.

Deste modo, surpreendentemente, Paulo Garcia se torna um ator fundamental na formação de um novo cenário político não somente em Goiânia, mas em todo o Estado. Se o PMDB quer abandonar o PT, por sua vez, o partido do prefeito tende a buscar novos aliados, como o empresário Vanderlan Cardoso. O ex-prefeito de Senador Ca­nedo e presidente estadual do PSB pretende disputar a Prefeitura de Goiânia nas eleições de 2016. Mas ele sozinho — isto é, uma candidatura isolada do PSB — fatalmente terá chance reduzida de vencer o pleito municipal. O líder socialista precisa ampliar suas bases em Goiânia e o PT atende esta necessidade.

Além de Vanderlan Cardoso, Paulo Garcia também pode agregar outras forças políticas à formação de uma nova frente partidária, como o megaempresário José Batista Júnior, o Júnior Friboi. Neste momento nada impede o prefeito de sentar-se à mesma mesa do homem de negócios que também mantém atividade no mundo da política. Como não pode se reeleger, Paulo pode se tornar uma espécie de “diplomata” com o objetivo de dar continuidade a seu legado na prefeitura, construindo um novo grupo político com plenas condições de derrotar Iris e Caiado na capital.

Ao se aproximar de Marconi, prefeito mostra independência administrativa

Outro aspecto importante desta nova fase de Paulo Garcia à frente da Prefeitura de Goiânia é a aproximação republicana com Marconi e o governo do Estado. As aparições públicas e as trocas de gentilizas não se restringem apenas a liturgia dos respectivos cargos. Há efetividade na “parceria” entre Palácio das Esmeraldas e Paço Municipal. No final de tudo quem ganha são os moradores da região metropolitana da capital, que são beneficiados por iniciativas administrativas.

Relação republicana entre Paulo Garcia e Marconi Perillo beneficia Goiânia | Foto: Prefeitura de Goiânia
Relação republicana entre Paulo Garcia e Marconi Perillo beneficia Goiânia | Foto: Prefeitura de Goiânia

Uma delas está encravada no coração de Goiânia, ou seja, a revitalização da Praça Cívica. O equipamento público emblemático e carregado de simbolismo está em reforma e, assim que concluída, promete ser um renovado cartão-postal da cidade. O Estado tinha viabilizado um projeto de reforma, mas não tinha verba para executá-lo. Por sua vez, o município tinha a verba, oriunda do PAC Cidades Históricas, mas não tinha projeto. Deste modo juntou-se o útil ao agradável. O governo estadual cedeu o projeto à prefeitura que por sua vez executa uma ampla frente de serviço em frente à sede do Poder Executivo estadual.

Outra parceria entre Estado e município ocorre no Centro Cultural Cora Coralina. O equipamento público que engloba o Teatro Goiânia, terá a administração repassada ao comando da prefeitura, justamente pelo fato do governo estadual não ter neste momento recursos humanos para administrá-lo. Já o município tem quadros de servidores para área cultural, mas não tem espaço físico que possa acomodá-los. Sendo assim, em breve, por meio da parceria entre Estado e prefeitura, o espaço dará mais opções aos goianienses na área cultural.

A mudança de comportamento de Paulo para com Marconi e vice-versa comçeou timidamente após o término do processo eleitoral de 2014. Já em 2015, mais especificamente no final de junho, o prefeito visitou o Hospital de Urgência Go­verna­dor Otávio Lage de Siqueira (Hugol) na região Noroeste da capital e cobriu de elogios a obra, reconhecendo a magnitude do nova unidade hospitalar.

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Recentemente, foi a vez de Marconi retribuir a gentileza. A convite do prefeito petista, o governador tucano visitou a frente de serviço do projeto Parque Macambira-Anicuns na Região Sudoeste de Goiânia, e o canteiro de obras do BRT, na Avenida Goiás Norte. Paulo apresentou as intervenções para Marconi e afirmou que o convite para a visita é “retribuição ao tratamento respeitoso” que vem recebendo do governador e da administração estadual.

Mais maleável em relação ao governo estadual, Paulo segue o mesmo caminho de outros prefeitos de cidades goianas importantes, como Aparecida de Goiânia e Anápolis. O gestor do primeiro município, Maguito Vilela (PMDB), há tempos está próximo do governador. A relação cordial entre os dois, inclusive, rendeu reprimendas por parte da direção peemedebista, quando se aproximavam as eleições de 2014. Já o chefe do Executivo municipal de Anápolis, João Gomes, é amigo pessoal de Marconi há vários anos, portanto, mais do que natural as boas relações entre os poderes.

Fator Jeovalter

Mas não é por causa da aproximação com o governo estadual que a prefeitura toca grande volume de obras. Afinal de contas nenhuma de­las recebeu verba estadual. Depois de quase três anos, somente agora o caixa do município opera com superávit financeiro e fechou as contas do primeiro quadrimestre de 2015 com saldo positivo de R$ 99,6 milhões. De acordo com o balanço orçamentário, a receita orçada era de R$ 1,898 bilhão, enquanto a realizada foi de pouco mais de R$ 1,143 bilhão, diferença de R$ 755,1 milhões. Já a despesa total líquida foi de R$ 1,43 milhão.

A despesa bruta com a folha de pagamento do Poder Executivo mu­nicipal atingiu R$ 1,937 milhão. Os números respeitam a Lei de Res­pon­sabilidade Fiscal (LRF), de 54%. A aplicação em Saúde atingiu R$ 340.886.751 milhões, 17,91%. O ín­di­ce é 2,91% maior que o mínimo es­tabelecido por lei, de 15%. Parte do dinheiro é oriundo de impostos, re­ceitas de transferências do Sistema Ú­nico de Saúde (SUS). Esta mudança de direção das contas da prefeitura muito se deve ao secretário de Fi­nanças, Jeovalter Correia. O contador, ex-presidente do Ipasgo, Aganp e do Sindifisco assumiu o lugar de Cairo Peixoto, que ficou à frente da pasta por três meses e cuja saída se deu em meio a polêmicas causadas por posição críticas às contas municipais.

Obras em toda parte de Goiânia reconstroem imagem de Paulo como gestor

Qualquer cidadão, sobretudo o eleitor, no fundo quer ver de seus governantes, obras e realizações. Não basta os gestores públicos ficarem no âmbito do discurso. É necessário apresentar uma folha de serviços que atenda as necessidades da coletividade. Para ver de perto como anda os trabalhos da prefeitura, a reportagem visitou duas importantes frentes de serviços em execução na capital. Tais obras, assim que concluídas, serão as marcas da administração do prefeito Paulo Garcia, e vão contribuir para a formação da imagem de gestor público do petista.

Prefeitura ajusta detalhes da continuação da Avenida Parque próxima ao Setor Novo Horizonte | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Prefeitura ajusta detalhes da continuação da Avenida Parque próxima ao Setor Novo Horizonte | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

A primeira obra visitada foi a do Programa Urbano Ambiental Ma­cambira-Anicuns (Puama). O parque linear, de 24 quilômetros de extensão — um dos maiores parques lineares da América Latina — foi idealizado em 2003 pelo então prefeito Pedro Wilson (PT). O objetivo do Puama é contribuir na solução de problemas ambientais, urbanísticos e sociais que afetam a cidade, resultante da ocupação desordenada do espaço urbano (especialmente das margens dos cursos de água) e estimular a participação dos cidadãos (individual e coletiva) no processo de construção de um desenvolvimento sustentável da cidade.

Estima-se que cerca de 350 mil pessoas sejam beneficiadas diretamente pelo programa por meio das intervenções de infraestrutura urbana e social nos 131 bairros localizados em sua área de abrangência. O local onde a obra está mais adiantada é na continuação da Avenida Parque, que ligará a Rua Miguel do Carmo, no Residencial Granville, à Avenida Milão, no Jardim Europa. A via está tecnicamente asfaltada, faltando apenas o revestimento do calçamento e alguns retoques de paisagismo. O córrego Macambira neste trecho está totalmente canalizado. No momento em que a reportagem esteve no local, operários trabalhavam no asfalto que ligará a Avenida ao Setor Novo Horizonte.

O projeto Macambira-Anicuns é uma iniciativa da Prefeitura de Goiânia, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvol­vimento (BID), que abrange uma área planejada de 25,5 hectares, no Setor Faiçalville. A previsão é de que o conjunto total de obras do primeiro trecho seja finalizado em setembro de 2016. O Parque Ambiental Macambira (PAM), no Setor Faiçalville, por sua vez, será entregue em setembro deste ano.

BRT

A outra obra que estará no roll das grandes realizações da administração de Paulo Garcia é do BRT Norte-Sul. Com quase 22 quilômetros de extensão, quando inaugurado, o corredor exclusivo de ônibus percorrerá 148 bairros de Goiânia e Aparecida de Goiâ­nia, atendendo 120 mil usuários por dia. Orçado em R$ 242,4 milhões, a obra é o maior investimento em mobilidade urbana da história da capital e será executado pelo consórcio formado pelas empresas Isolux, EPC e WVG, vencedor da licitação.

Operários trabalham na concretagem da via por onde passará o modal BRT Norte-Sul | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Operários trabalham na concretagem da via por onde passará o modal BRT Norte-Sul | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

A reportagem esteve no trecho mais adiantado das frentes de serviços, na Avenida Goiás Norte, em frente à Praça do Violeiro, no Setor Urias Magalhães, até as proximidades do terminal rodoviário de Goiânia, no Setor Norte Fer­roviário. Nesta parte, é possível ver os operários trabalhando na preparação do solo para concretagem no espaço em que o BRT vai percorrer. No lugar de asfalto, as pistas exclusivas de ônibus serão encobertas de concreto rígido, que tem tempo de duração muito mais elevado que o asfalto comum.

O itinerário do corredor fará a ligação do terminal de integração Recanto do Bosque, na Região Noroeste da cidade, ao terminal de integração Cruzeiro do Sul, na Região Sudoeste, divisa com Aparecida de Goiânia. O projeto prevê a construção de três novos terminais (Correios, Rodoviária e Perimetral) e a reconstrução dos terminais Isidória e Recanto do Bosque, além de adaptação do terminal Cruzeiro.