Quem são os representantes das polícias nas eleições de 2014
19 julho 2014 às 13h19
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O que pensam e quais são as propostas de candidatos ligados à Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Científica e Bombeiros Militar no pleito deste ano? Profissionais ligados à área se mobilizam para ter representantes no Parlamento goiano
Frederico Vitor
A segurança pública no Brasil vive uma crise sem precedentes na história recente. Os altos índices de criminalidade assustam de tal maneira a grande maioria da população, que a classe política já prepara discursos e propostas que serão debatidos durante a campanha do pleito deste ano. Uma coisa é certa, há um clamor público por alternativas que venha reverter a sensação de insegurança no qual a sociedade brasileira, incluindo a goiana, vive atualmente. Em meio a esta situação, as corporações policiais querem fazer uma bancada expressiva composta de seus integrantes na Assembleia Legislativa. Policiais militares, civis e bombeiros se mobilizam para que as classes tenham mais representatividade e voz no parlamento goiano.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das 769 candidaturas registradas que vão concorrer às 41 vagas da Assembleia Legislativa nas eleições deste ano, pelo menos 22 são de oficiais ou praças da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), ou delegados, agentes e escrivães da Polícia Civil que, por sua vez, também representam a Polícia Científica. Todas as principais chapas majoritária — Marconi Perillo (PSDB), Iris Rezende (PMDB), Vanderlan Cardoso (PSB) e Antônio Gomide (PT) — contam com representantes da segurança pública nas respectivas chapas proporcionais.
Os representantes
São esses os representantes da polícia que são candidatos a deputado estadual nas eleições de 2014: Capitão Wayne (PHS), Ademar Luiz de Oliveira (PSL), Coronel Macário (PRB), Coronel Nonato (PSD), Adriana Accorsi (PT), Major Araújo (PRP), Marcos Martins Machado (PSDB), Sargento Alberto (PTN), Sargento Neves (PMDB), Cabo Arlindo (PEN), Cabo Pereira (PSDC), Sargento Genyslane (PTN), Sargento Pereira (PSL), Major Carneiro (SD), Silveira Alves (PSB), Cabo Meire (PMN), Soldado Caetano (PDT), Escrivã Nelma Felix (PDT), Bombeiro Araújo (Pros), Sargento Silvio (PMN) e Sargento Waldson Araújo (PEN).
As demandas para área são grandes e as transformações dependem mais do Poder Executivo do que do Legislativo. Entretanto, a atividade parlamentar pode contribuir, e muito, com projetos e leis que venham a beneficiar a classe policial e todo o complexo que compõe a segurança pública do Estado. A principal carência é o déficit de efetivo tanto na PM, na Polícia Civil e Bombeiros. O problema tem sobrecarregado o quadro atual que reclama da enorme demanda, principalmente na Região Metropolitana de Goiânia e no Entorno do Distrito Federal. Além disso, há a necessidade de recuperação das estruturas físicas que vêm comprometendo as condições de trabalhos dos policiais, bombeiros e agentes carcerários. Existe a urgente necessidade de ampliação, reforma ou construção de quartéis, delegacias e penitenciárias goianas.
Servidores da segurança pública querem o fortalecimento político das polícias goianas
Coronel Macário (PRB), atualmente na reserva da PM e ex-subcomandante-geral da corporação, é um dos nomes fortes dos policiais militares para ocupar uma das 41 vagas na Assembleia Legislativa. Com grande respaldo e respeito da tropa, ele tem como principal proposta a criação de uma defensoria pública para os policiais. Macário argumenta que em casos de ocorrências em que há confronto entre policial e bandido, no qual o criminoso acaba levando a pior, o policial termina penalizado por ter que pagar do próprio bolso advogados particulares. Ele lembra que a grande maioria dos policiais não tem condições de gastar altas cifras com advogados, sendo que nesses casos, o Estado é que estava sendo defendido, portanto, um dever do poder público garantir a defesa de seus servidores da segurança pública.
Coronel Macário, que faz parte da base aliada do governador Marconi, pretende aprovar no Legislativo estadual projetos de leis que criem creches para filhos de militares e mais vagas para alunos filhos de policiais em colégios militares. Outra proposta é a criação de lista tríplice para a escolha de comandantes-gerais da PM, no qual os nomes teriam que ir a votação pela tropa para então ter um nomeado pelo governador.
Em relação a problemática da segurança pública, Coronel Macário diz que a área está carente por conta dos parcos recursos que os Estados recebem da União para investimentos. Ele critica a forma em que o governo federal trata a situação, classificando-a como retrógada. “Essa cartilha que vem do governo federal apenas persegue o policial, beneficia o bandido e prejudica a sociedade. Ou este quadro muda, ou a segurança pública no Brasil sempre será deficitária.”
Mais restruturação
O deputado estadual e delegado Marcos Martins Machado (PSDB) é um dos nomes fortes da segurança pública que compõe uma das chapas proporcionais da coligação de Marconi. O tucano foi duas vezes diretor-geral da Polícia Civil e idealizador das Delegacias Estaduais de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas (Decar), a de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA), o Grupo Antissequestro e o Grupo Tático 3 (GT3) —, além do Programa de Qualidade da Polícia Civil.
A proposta de Marcos Martins é de acompanhar a filosofia de trabalho do governo, ou seja, as polícias de Goiás precisam de uma restruturação em termos de recursos humanos e de estrutura física para atender a população. Uma das ideias é o ressurgimento da patrulha rural que, segundo ele, é de suma importância para um Estado de vocação agropecuária como Goiás.
Para a Região Metropolitana de Goiânia, que vive um surto de homicídios, assaltos e furtos e roubos de veículos, a saída proposta por Marcos Martins é o aumento do número de delegacias 24 horas. Ele argumenta que a capital comportaria, tranquilamente, pelo menos dez centrais de flagrante distribuídas em locais estratégicos da cidade.
O candidato tucano lembra que o governo federal tem falhado em guarnecer as fronteiras, que é a porta de entrada de drogas e armas que abastecem o crime organizado. Ele cobra mais investimentos dos governos, principalmente o federal, não só em segurança pública, mas também na área social. “Todas as mazelas da sociedade desaguam nas delegacias e nos quartéis. O Brasil precisa avançar e ter uma legislação penal e processual penal mais fortes e rígidas.”
Fortalecimento das instituições
Capitão Wayne (PHS) é uma tradicional figura do meio político ligado à segurança pública. Filho de delegado de polícia e ex-deputado estadual Rosiron Wayne, o oficial da reserva remunerada tem como proposta o fortalecimento das instituições policiais, em especial, da PM goiana. Ele argumenta que os policiais devem passar a imagem de respeito à sociedade, mas não é a de brutalidade, e sim a de profissionais dedicados e pais de família que ao mesmo tempo em que são a mão amiga da sociedade também são duros no cumprimento das leis.
O candidato do PHS diz ser necessário a criação de leis mais rígidas que resguardam crianças e adolescentes da pedofilia, além de mecanismos de proteção às mulheres vítimas de agressões de companheiros. Projetos voltados para a segurança no trânsito também estão na agenda do candidato. “Noventa por cento dos pacientes nos hospitais de urgências estão lá por decorrência de acidentes no trânsito.”
O agente de polícia e presidente licenciado da União Goiana dos Policiais Civis (Ugopoci), Ademar Luiz de Oliveira (PSL), é o representante de agentes e escrivães da Polícia Civil ao Legislativo estadual. Se eleito, o investigador de polícia que, desde 1983 integra os quadros da Polícia Civil, pretende cobrar do Executivo mais investimento para as melhorias das condições de trabalho dos profissionais de segurança em Goiás. Entretanto, ele lembra que segurança pública precisa ser uma tríade de investimentos, ou seja, deve receber recursos tanto dos governos municipais, estaduais e federal.
Outra demanda defendida por Ademar de Oliveira é por mais concursos para preenchimento de vagas na Polícia Civil, que enfrenta um problema crônico de déficit de quadros. Atualmente, a instituição goiana conta com 3.775 servidores, entre delegados, agentes, escrivães e instituto de identificação, um número considerado baixo para as demandas do Estado, cuja população é estimada em pouco mais de 6 milhões de habitantes. “E menos de 70% dos municípios goianos contam com a presença de policiais e este quadro precisa mudar, para o bem do Estado e de toda a população goiana.”
Oposição entra na briga para formar bancada policial no Legislativo
As chapas proporcionais dos partidos da oposição, como o PT do candidato a governador Antônio Gomide, e o PRP, que compõe a chapa de Vanderlan Cardoso (PSB), também candidato ao governo estadual, contam com candidatos ligados à segurança pública. A ex-diretora-geral da Polícia Civil e delegada Adriana Accorsi (PT) é uma forte candidata a conquistar uma vaga no Legislativo. Ela e o deputado Marcos Martins são ligados ao Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de Goiás (Sindepol-GO). A filha do ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi até pouco tempo compunha o primeiro escalão da administração do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), como secretária de Defesa Social.
Adriana Accorsi afirma que sua prioridade, se eleita, será de dedicar o mandato pela garantia dos direitos da criança e adolescentes, causa esta que já defendia quando ocupava a titularidade da DPCA. Políticas de prevenção do envolvimento de jovens com drogas e a efetividade da Lei Maria da Penha são outras bandeiras que a candidata diz não abrir mão de defender na Assembleia Legislativa. “Precisamos de mais políticas de prevenção ao uso de drogas, prevenção e rigor para combater a pedofilia e fortalecimento dos mecanismos de combate à violência contra a mulher.”
Para Adriana Accorsi a crise de segurança pública vivida hoje no Brasil é resultado de décadas de descaso por parte das autoridades. Ela diz acreditar que é necessário políticas de curto, médio e longo prazo, em dois aspectos: primeiro o Estado deve prover melhores condições de trabalho aos policiais, mais efetivos compatíveis com a demanda além de melhorias na capacitação dos servidores de segurança pública.
Falta investimento
O deputado de oposição major Araújo (PRP) vai tentar a reeleição no pleito deste ano. Oficial da PM desde 1987, já ocupou a presidência da Associação dos Oficiais da Polícia Militar e Bombeiros Militar de Goiás (Assof). Atualmente é diretor de articulação política da entidade e vice-presidente da União dos Militares do Estado de Goiás (Unimil), associação que reúne praças e oficiais. Atualmente Major Araújo é o único representante dos militares no parlamento goiano e que dar continuidade ao trabalho que, segundo ele, é de valorização da classe dos militares.
Major Araújo aponta como um dos principais problemas enfrentados hoje pela área é a falta de efetivo tanto na PM, Polícia Civil, Bombeiros e Polícia Científica. O deputado critica a gestão atual do governo ao dizer que o Estado apenas gasta com o custeio das polícias e que inexistem investimentos. Segundo ele, há improvisações. “Não existe isso de fazer mais com o mesmo, o que vemos é a improvisação como a contratação de policiais militares temporários do Simve.”
Escalada de criminalidade e violência assusta população de Goiânia
Somente no mês de junho foram registrados 80 homicídios em Goiânia, um novo recorde que superou o dezembro sangrento de 2013, quando 65 mortes violentas foram notificadas na capital. O homicídio, potencializado por disputas e acerto de contas por causa do tráfico de drogas, é apontado pela polícia como o principal ingrediente para as elevadas taxas de assassinatos na Região Metropolitana da capital.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) 15 bairros de Goiânia concentram 30% dos homicídios. São eles: Jardim Novo Mundo, Setor Pedro Ludovico, Jardim Guanabara, Centro, Real Conquista, Norte Ferroviário, Conjunto Primavera, Parque Amazônia, Vila Finsocial, Conjunto Vera Cruz, Bairro São Francisco, Eldorado Oeste, Estrela Dalva, Recanto das Minas Gerais e Jardim Curitiba.
Mesmo com o reforço do patrulhamento da polícia, em especial de equipes de policiamento especializado da PM (Rotam, Choque e Graer) nessas áreas, a criminalidade ainda continua assustando a população goianiense. É nos finais de semana em que as ocorrências de crimes se elevam. No sábado, 12, e domingo, 13, por exemplo, foram registrados além de homicídios, roubos e apreensão de armas sem registro.
No domingo, dois postos de combustíveis foram assaltados, um no bairro Ipiranga e outro do Recanto do Bosque. Também no dia 13 um homem foi morto ao tentar assaltar a casa de um policial militar no Setor Jardim Helvécia. O policial reagiu matando o assaltante com um tiro na cabeça. Também no domingo um homem morreu após reagir a um assalto num estabelecimento comercial no Bairro Ilda, em Aparecida de Goiânia. A vítima, Edésio Soares Bento, de 43 anos de idade, foi atingida após trocar tiros com o assaltante. Ele chegou a ser levado ao Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo), mas não resistiu aos ferimentos.
Na noite daquele sábado, um homem foi preso em flagrante na posse de uma arma de fogo sem registro. Alfredo Manoel Amador de Almeida foi conduzido para o 14º Distrito Policial na Vila Pedroso em Goiânia. Também na noite de sábado, um motociclista foi morto a tiros quando pilotava sua motocicleta. O crime ocorreu no Jardim das Oliveiras e foi registrado na Delegacia de Polícia de Trindade.
Crise é nacional
Em média 154 pessoas morreram vítimas de homicídio no Brasil, em 2012. Ao todo, foram 56.337 pessoas que perderam a vida assassinadas, 7% a mais do que em 2011. Os dados são do Mapa da Violência 2014, que mostra um crescimento de 13,4% de registros desse tipo de morte em comparação com o número obtido em 2002. O porcentual é um pouco maior que o de crescimento da população total do país: 11,1%.
As principais vítimas são jovens do sexo masculino e negros. Ao todo, foram vítimas desse tipo de morte 30.072 jovens, com idade entre 15 e 29 anos. O número representa 53,4% do total de homicídios do país. Também, desse total, 91,6% eram homens.
Ao longo dessa década, morreram 556 mil pessoas vítimas de homicídio, um quantitativo que excede largamente o número de mortes da maioria dos conflitos armados registrados no mundo. Comparando 100 países que registraram taxa de homicídios, entre 2008 e 2012, para cada grupo de 100 mil habitantes, o estudo conclui que o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking dos analisados, ficando atrás de El Salvador, da Guatemala, de Trinidad e Tobago, da Colômbia e Venezuela.