Professores goianos concorrem a prêmio nacional de empreendedorismo na educação
22 setembro 2019 às 00h00
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Projeto do Sebrae-GO estimula educação empreendedora em todas as etapas da educação, valorizando iniciativas de professores
Levar novos horizontes para o ensino do país: é com essa premissa que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) promove a primeira edição do Prêmio Educação Empreendedora. Entre as mais de mil inscrições, Goiás tem três trabalhos selecionados para a etapa nacional, que será realizada nos dias 8 e 9 de outubro em Florianópolis, reconhecimento de iniciativas da docência goiana na promoção de projetos inovadores junto a alunos dos três níveis de ensino: fundamental, médio e superior.
Buscando reconhecer projetos desenvolvidos por professores, o prêmio é fruto do programa Educação Empreendedora, que leva conteúdos de empreendedorismo a escolas e universidades desde 2014. O conceito do programa, no entanto, não está só vinculado ao desenvolvimento de negócios, como explica a analista do Sebrae Goiás Cleonice Maria da Silva, responsável pelo projeto no Estado.
“Ser empreendedor significa ter comportamento diferenciado”, afirma Cleonice, que acrescenta que a atitude de empreender pode ser aplicada em todos os espaços da sociedade. “A pessoa pode ser empreendedora na família, na comunidade ou na escola”, cita.
O diretor técnico do Sebrae Goiás, Wanderson Portugal Lemos, destaca que o prêmio é o reconhecimento das ações do professores. “Capacitar os alunos desde o ensino fundamental, continuar no ensino médio e depois no universitário é ação basilar para o desenvolvimento do Brasil. Reconhecemos que bons empreendimentos se desenvolveram em virtude, dentre outros motivos, pelo conhecimento dos seus proprietários”, considera o diretor.
Os projetos
Em Goiás, os três projetos ganhadores das etapas regionais e estadual trazem diversidade de ações. Um deles vem do Colégio Estadual Santa Luzia, em Aparecida de Goiânia. Durante um ano, Elber da Silva estimulou alunos do ensino médio a criarem um mercadinho de guloseimas na própria escola. O propósito? Trabalhar a matemática financeira entre os alunos, a partir do senso de economia doméstica e uso de planilha de custos para controle das finanças.
“Os alunos foram incentivados a trabalhar de forma coletiva e o resultado sendo convertido para os próprios . Os alunos tinham por objetivo comprar um videogame para ser utilizado no intervalo do almoço, porém decidiram reverter os lucros em melhorias para escola, compra de itens para os banheiros, material para limpeza e assim por diante”, relata o professor.
O projeto vencedor na categoria Ensino Fundamental será o representante de Goiânia na disputa nacional. Com o projeto também voltado para a matemática financeira, o professor Ferdinand Tokarski Persijn desenvolveu junto aos alunos métodos de empreendedorismo com propósito de desenvolver produtos para a feira anual da Escola Interamérica. O processo passou por conceitos de matemática financeira, aplicando a teoria à prática, passando por comparativos de preços, cálculo de custos e lucros.
O professor defende que existem no processo educacional duas vertentes: “Uma curricular, que equipa os estudantes com disciplinas formais (Matemática, Física, História, Língua Portuguesa) e outras, que complementam e dão verdadeiro sentido à educação integral. Hoje é importante que o aluno aprenda a trabalhar em equipe, resolver conflitos, negociar e principalmente, planejar. Para isto, estabelecer metas para cumprir objetivos. E o principal agente de transformação é o professor, que motiva, instrui e depois participa do crescimento do estudante”, defende o professor.
Busca por transformação
O terceiro projeto entre os três representantes de Goiás vem de uma escola da zona rural de Niquelândia. Após a paralisação das atividades da Votorantim – empresa de minério -, ainda em 2016, o Instituto Educacional Tiradentes passou a buscar por medidas de compensação para a economia. É o que conta o professor Manoel Junior.
Segundo o docente, o caminho encontrado pela instituição foi a criação de um curso na área da agricultura, o de agropecuária. Com o empenho de gestores conseguiram, a partir de parcerias com entidades como o Tribunal de Justiça, rede de supermercados Smart e secretarias municipais de Educação, um total de 60 bolsas de estudos, isentando os alunos de custos como transporte e alimentação.
Entre as disciplinas do curso técnico está o cooperativismo — e vem dela a vitória nas etapas regional e estadual. “A prova final foi a fundação de uma cooperativa. Por lá começamos a trabalhar com os conceitos de cooperativismo, desenvolvendo compras e vendas dos produtos gerados no próprio Instituto”, explica o Manoel Junior.
O professor destaca que a ação foi uma forma de alternativa de desenvolver a disciplina. “A nossa matriz curricular é muito engessada. Nos esquecemos de trabalhar o ser humano”, pontua o professor, que afirma que vê na na palavra “empreender” um sinônimo de coletividade e cooperativismo.
Valorização de professores
Com o já conhecido diagnóstico de que a profissão de professor é desvalorizada, Cleonice afirma que a ação do Sebrae busca o inverso. Para a analista, foi fundamental criar o prêmio para reconhecer professores. “Além de eles terem que fazer todo o trabalho que a escola exige, de estar na sala, ensinando, elaborando atividades. Existem muitos professores empreendedores que além de tudo isso conseguem desenvolver projetos maravilhosos”, destaca Cleonice.
“Eu resumiria em uma única palavra: transformação. Transformação em todos os sentidos. Transformação do individuo e também transformação de uma sociedade e de uma economia. Quando a gente trabalha educação empreendedora, todos os vieses do empreendedorismo e que a gente mostra para pessoa que ela é capaz de se desenvolver como pessoa, como profissional, como empresário é muito visível a transformação da pessoa”, diz.
“Independente do resultado que conheceremos nos próximos dias, avaliamos que os projetos de Goiás já são vitoriosos por vários motivos, dentre os quais destacamos que eles são arrojados, venceram desafios e estão transformando vidas de crianças e adolescentes por meio da educação. As iniciativas premiadas serão divulgadas como práticas bem sucedidas para desenvolver, aperfeiçoar ou fomentar o comportamento empreendedor nos alunos das instituições de ensino em que atuam”, considera o Diretor Técnico do Sebrae, Wanderson Portugal Lemos.