Principais candidatos sinalizam o rumo que devem seguir
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Um dos principais fatores de qualquer campanha eleitoral bem estruturada é a tematização, o chamado discurso ou proposta de governo. Embora esse quadro ainda não esteja totalmente moldado, é possível identificar tendências
Afonso Lopes
Para a militância engajada e apaixonada, falar em tematização da campanha não tem nenhuma importância. Qualquer coisa que os comandos das campanhas pede, os militantes seguem. Embora essa seja uma força importante em qualquer campanha, nem a mais aguerrida militância consegue vencer uma eleição sem argumentação forte, consistente, e que tenha apelo fora dos limites da candidatura. Ou seja, a campanha precisa chegar bem à “população civil”, digamos assim. É essa população que ganha a guerra eleitoral.
Em tese, o eleitorado costuma se dividir, no caso de Goiás, em três grupamentos mais ou menos em partes iguais. Um terço costuma acompanhar o governismo, outro tanto segue a oposição e o terço restante se torna o fiel da balança. Tem sido exatamente dessa forma o comportamento do eleitorado goiano desde o retorno das eleições diretas para governador, em 1982.
Tendência
Não se vence a eleição sem conseguir se inserir dentro de um dos dois grupamentos e sem agregar o maior número de eleitores “independentes”. E é aí que entra, de maneira central, a tematização da candidatura, a forma como o grupamento “civil” enxerga o candidato.
Pesquisas qualitativas — que não têm nada a ver com pesquisas quantitativas normalmente publicadas e divulgadas pela mídia com dados codificados em porcentuais — podem oferecer alguma informação relevante para a composição dessa tematização, mas a maior parcela caberá sempre ao candidato e seu feeling político. Se não fosse assim qualquer pessoa poderia se lançar candidato e vencer sozinho desde que estivesse ancorado numa campanha alicerçada nas pesquisas qualitativas.
O grande enigma nesse caso é conciliar perfeitamente o que dizem as qualitativas e o perfil do candidato. Isso nunca é tarefa simples, por incrível que possa parecer. É por esse motivo que uma das piores encrencas enfrentadas por alguns políticos é migrar a imagem que a população faz dele. Para não buscar exemplos, inúmeros, em passado distante da memória da maioria dos goianos, basta lembrar o insucesso do deputado federal delegado Waldir Soares quando tentou se eleger prefeito de Goiânia, nas eleições de 2016.
A boa imagem que ele sempre teve, e que resultou numa estonteante e recordista votação como candidato a deputado federal em 2014, não era suficiente para fazer dele um candidato a prefeito palatável aos anseios do eleitorado, que evidentemente procura depositar mais confiança em alguém com perfil diversificado e que possa se apresentar também como gestor. Waldir foi eleito deputado como um duríssimo discurso de delegado. Prefeitos podem até ajudar no combate à criminalidade, mas eleitorado algum do país elege alguém que carregue somente esse perfil.
Entre os três principais candidatos ao governo do Estado, que representam mais claramente estruturas partidárias visivelmente maiores, há uma tendência de exibição de certo grau de tematização. Não é ainda um caminhar em direção ao campo das propostas de governo, o que fatalmente terá que ser feito em algum momento da campanha. E são três estilos bem diferentes um do outro.
O governador José Eliton, que será candidato à reeleição, obviamente tematiza com o sentido claro de ser oferecer como continuidade do projeto de governo. Em determinado momento mais à frente talvez ele também se utilize da chamada triangulação — o que evidenciaria ainda mais a continuidade e evitaria um desvio fatal rumo ao continuísmo.
No outro grupamento, onde navegam as candidaturas de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela, o tema central, também por óbvio, é oposição ao governo. Ambos têm discursos com alguns pontos em comum, mas há diferenças. Embora nenhum dos dois se espraie em direção à proposta de governo, o medebista Daniel Vilela tenta se encontrar nessa direção. O democrata Ronaldo Caiado, ao contrário, tem mantido a tematização contra o governo, sem se permitir a avanços em relação aos compromissos de governo.
Essas posições não são definitivas, e devem sofrer mudanças ao longo do tempo. Nenhum deles vai precisar de uma mudança radical de imagem, o que em tese deve facilitar tanto na tematização do candidato, como na composição do quadro geral de propostas.