Previsões da Ciência para 2023

01 janeiro 2023 às 00h00

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Vamos procurar vida fora da terra
No início de 2023, o programa Cosmic Seti entrará em operação e irá acelerar a busca por inteligência extraterrestre. As 27 antenas de amplo espectro (Very Large Array, VLA) do National Radio Astronomy Observatory que já funcionam posicionadas ao redor do mundo irão compartilhar dados dos céus, registrados 24 horas por dia, 7 dias por semana, com a iniciativa Seti de procura por sinais de rádio ou quaisquer sinais de atividade não causados por fenômenos naturais.
O programa Seti (search for extraterrestrial intelligence, busca por inteligência extraterrestre) existe desde os anos 1980, mas, pela primeira vez, terá acesso a essa quantidade de dados. Se espera que a iniciativa seja capaz de detectar qualquer assinatura tecnológica em 40 milhões de sistemas estelares galácticos ao longo de dois anos. Na prática, qualquer sinal de radiação eletromagnética emitida na faixa de frequência de 230 MHz a 50 GHz dentro 81 anos-luz será detectada.
O astrofísico Jack Hickish, Líder de Instrumentação Digital do programa Seti, escreveu sobre as expectativas para o próximo ano: “Ter todos os sinais digitais disponíveis para o sistema COSMIC é um marco importante. É a pesquisa de tecnoassinatura mais abrangente já realizada. Agora seremos capazes de monitorar milhões de estrelas com uma sensibilidade alta o suficiente para detectar transmissores em muitas partes do espectro que ainda não foram exploradas.”
O direito digital vai mudar para sempre
Até 2023, 65% da população mundial terá seus dados pessoais cobertos por regulamentações de privacidade. Em 2020, apenas 10% dos países tinham proteções legais ao direito de usuários da internet. O Brasil foi pioneiro no assunto com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), de 2018, e com o Marco Civil da Internet, de 2014. Para a maior parte do planeta, entretanto, a posse das próprias informações não era garantida em constituição.
No próximo ano, o direito internacional vai se aproximar de uma base jurídica comum com mais países introduzindo a privacidade dentro do modelo europeu. Em comparação com outros códigos, a legislação europeia (na qual a LGPD brasileira se baseia) é vista como severa por não permitir a venda de dados pessoais sem autorização expressa de usuários, por exemplo.
Também devemos ver maiores taxações sobre companhias de tecnologia. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estabeleceu para meados de 2023 um acordo tributário global em que pressionará legisladores do mundo todo a firmar em lei medidas para exigir que empresas de tecnologia multinacionais paguem mais impostos nos países onde obtêm seus lucros. O secretariado da OCDE publicou nesta segunda-feira, 26, um projeto de regras sobre como o acordo funcionaria. A proposta garante que não haja dupla tributação dos lucros através dos países em que as empresas de tecnologia operam.
A pandemia de Covid-19 chegará ao fim
Uma equipe de analistas da Universidade de Lanzhou, China, previu que a pandemia de Covid-19 terminará ao fim de 2023, com infecções em todo o mundo atingindo pelo menos 750 milhões. A previsão foi feita por meio do Sistema Global de Previsão da Pandemia de Covid (GPCP), criado na universidade.
Desde seu lançamento, em maio de 2020, o GPCP faz previsões diárias, mensais e sazonais para mais de 180 países usando dados epidêmicos. As previsões para a epidemia em cidades chinesas foram consistentes com a situação real. O sistema combina modelos epidêmicos e matemáticos para prever a variação do vírus com base nos dados fornecidos de medidas de controle do governo, medidas de autoproteção das pessoas, vacinas e fatores naturais – como temperatura e umidade.
Segundo o GPCP, com base na transmissão atual da variante Omicron e nas medidas de controle em todo o mundo, a pandemia global está em tendência descendente e pode terminar no final de 2023, com o número total de infecções chegando a menos 750 milhões (se nenhuma novidade surgir).
Sensos de governos substituídos por Big Data
Em 2023, o tráfego global da Internet vai alcançar 302 exabytes (cada exabyte equivale a um bilhão de gigabytes). Quase 90% da população global terá um supercomputador no bolso. Seja em redes sociais ou endereços de e-mail, 80% das pessoas na Terra terão uma presença digital online. Isso significa que será mais fácil contar e identificar pessoas através dos dados gerados pelo uso da internet do que aplicando questionários de porta em porta.
Alguns países, como o Reino Unido, já estão tentando substituir os levantamentos dos Censos oficiais pelos cruzamentos das informações registradas em bancos de dados públicos. As informações registradas pelos usuários do sistema de saúde, por exemplo, podem ser cruzadas com dados da educação. Essa combinação forneceria um perfil mais detalhado e preciso do que aquele fornecido pelo censo.
Além dos serviços públicos, o uso da internet também gera dados. Mesmo com regras rígidas de confidencialidade, equipes estatísticas e jurídicas do órgão britânico Office for National Statistics (ONS) ainda debatem questões éticas. Por exemplo: as escolas precisam conhecer as necessidades de suporte linguístico dos alunos – informação que pode ser obtida através dos dados do Facebook, onde o estudante escolhe o idioma que deseja ler em sua rede social. Mas o dado também levanta desconfiança no governo: há o medo de que os dados também possam ser usados para verificações de status de imigração. Isso pode levar à deterioração da qualidade dos bancos de dados, com pessoas mentindo em seus registros para evitar problemas legais.
Entretanto, o consenso é de que, mais cedo ou mais tarde, informações mais responsivas e atualizadas serão o futuro dos bancos de dados públicos. Os relatórios continuarão anonimizados (cada pessoa gera estatísticas apenas, e não dados pessoais que possam ser identificados por agências). Mas será possível cruzar características para identificar as necessidades específicas de cada grupo de pessoas.
Início da migração dos combustíveis fósseis para matriz energética limpa
A Rússia usou suas riquezas em combustíveis fósseis para financiar sua invasão da Ucrânia. Ela passou a usar seu petróleo e gás natural como arma, revirando o cenário energético global. A guerra elevou os preços de quase tudo que precisa de energia para ser produzido e enviado ao redor do mundo, incluindo alimentos. Como resultado, a Europa teve de encontrar fornecedores alternativos de energia, como os Estados Unidos, o maior exportador de gás do mundo, que já negocio envio de gás natural liquefeito por muitos anos.
A Agência Internacional de Energia publicou relatório em que afirma haver sinais de que a crise energética pode atuar como um “acelerador” para uma transição de energia limpa. Enquanto isso, porém, os europeus estão sofrendo sem o gás utilizado para luz e aquecimento, e regrediram às termelétricas movidas a carvão – a fonte de energia mais poluente. As luzes estão apagadas em muitas cidades europeias, incluindo Paris.
Os Estados Unidos, o maior poluidor mundial, finalmente aprovou uma grande legislação climática, segundo a qual o governo dará apoio financeiro a iniciativas que utilizem energia renovável. O pacote de US$ 370 bilhões incentiva as empresas a mudar para energia limpa e disponibiliza dinheiro público para pesquisas sobre novas inovações climáticas. O dinheiro começa a ser lançado em 2023 e deve remodelar a paisagem americana e a vida dos americanos comuns. Sem dúvida, isso levará a disputas locais e desafios inesperados. Acompanhar o processo será importante, pois a migração para matriz energética limpa terá de ser feita por todos os países em um futuro mais distante.