Partidos esperam por mais espaço com Caiado
17 fevereiro 2019 às 00h00
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Após um mês e meio de mandato, parte dos aliados ainda aguarda por um aceno do democrata
Um mês e meio após a posse do governador Ronaldo Caiado (DEM), lideranças de partidos que participaram da aliança que levou o democrata à vitória na eleição de outubro do ano passado ainda aguardam por mais espaço no governo. Poucos dentre os diversos representantes partidários que estiveram ao seu lado durante o período eleitoral vestiram a camisa dos titulares no primeiro escalão do governo, como o ex-prefeito de Formosa, Ernesto Roller (MDB), que, diante da proposta, entregou a prefeitura para integrar o secretariado.
A articulação de Caiado resultou na maior coligação entre os candidatos que disputaram ao seu lado. Intitulada A Mudança é Agora, a chapa contou com o apoio de PRP, PROS, PMN, PMB, PSC, DC, PSL, Podemos, PTC, PRTB e PDT. Com a candidatura consolidada, o democrata venceu a disputa no primeiro turno, com quase 60% dos votos.
Evidentemente, a aproximação de cada um dos partidos normalmente é pautada por interesses diversos. Com as definições tomadas por Caiado na escolha dos nomes do primeiro escalão, uma dúvida insiste em permear: qual espaço terão seus apoiadores neste governo que se inicia? Para alguns, esta é só uma questão de tempo, tendo em vista os inúmeros cargos que ainda não foram delegados.
Muitos são aqueles que aguardam ansiosamente pela convocação do democrata, o que abrirá, consequentemente, mais espaço a seus partidos. Para entender que rumo deve tomar a tão comentada distribuição de cargos nos próximos meses, o Jornal Opção conversou com algumas lideranças que apoiaram a candidatura do democrata, eleito com mais de 1 milhão e 700 mil votos.
Alianças políticas
Segundo o deputado federal José Nelto, eleito pelo Podemos, o partido ainda não alcançou espaço algum. “Não fomos chamados para uma conversa. Mas acredito que o governador deva estar arrumando um tempo na agenda para nos receber. Ele (Ronaldo Caiado) sabe o que está fazendo. É um político experiente e sabe que na política ninguém governa sozinho.”
O deputado federal disse ainda que, apesar de ter sido o primeiro partido a apoiar a candidatura do governador, o Podemos não reivindicou nenhum cargo no Executivo. “O espaço dependerá unicamente do governador. Não recebemos convite para ocupar cadeira alguma. Mas o prazo para isso existirá enquanto houver cargos no governo”, pontuou.
Segundo o deputado estadual Major Araújo, o PRP também não foi convidado para uma reunião com Caiado. “Nem o PRP, nem o Patriota, que se fundiram”, assegurou. Ele diz acreditar que o partido só terá espaço se assumir “uma postura mais agressiva”. “Se tivermos espaço, certamente isso irá nos ajudar, mas se não tivermos, também não atrapalha.”
Araújo avalia que “a sigla não está satisfeita”. “Há grande descontentamento por parte do PRP. Mas deixamos a cargo do governador, que foi parlamentar por muitos anos e entende muito bem sobre essa questão.” Apesar do descontentamento, o deputado acrescenta: “Não houve aliança com Caiado em troca de espaço, mas é comum que os governos contemplem as siglas e as lideranças que estiveram ao seu lado. Isso lamentavelmente não vem ocorrendo por parte do governador”.
Já o prefeito de Catalão, Adib Elias (MDB), se posicionou de maneira completamente favorável às definições e abertura dada pelo democrata. “Gostaria de deixar claro que nunca apoiamos Ronaldo Caiado em troca de cargos. Estou extremamente satisfeito com o tratamento que temos recebido por parte do governador. De qualquer forma, (ainda que houvesse oportunidade) não deixaríamos nossas prefeituras para ocupar cargos no governo. Essa é uma decisão nossa”, destacou.
Ao ser questionado sobre o nome de Ernesto Roller, integrante do partido que deixou a prefeitura de Formosa para assumir a Secretaria de Governo, Adib rebateu: “O Ernesto aceitou pois entendeu que era importante”. O prefeito reforçou que membros do MDB se reúnem semanalmente com o governador e que em nenhum desses encontros esse assunto foi abordado por eles.
Já o secretário de Governo de Caiado, Ernesto Roller, ao ser questionado sobre a abertura do governo para os partidos apoiadores do democrata, avaliou “como uma questão absolutamente normal, decorrente da atividade política. Estamos avaliando sobre critérios técnicos. Esse é o nosso critério.”
Líder do PSL na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), o deputado Paulo Trabalho alegou que o governador tem tratado “muito bem” os integrantes do partido. “O PSL foi um dos primeiros partidos a abraçar a campanha de Caiado, na figura do presidente estadual e deputado federal Delegado Waldir.” O parlamentar explica que a sigla tem tramitado com facilidade no Executivo e reforçou que estão construindo o espaço gradativamente. “Estamos agindo de maneira calma e inteligente”.
Quanto ao fato do governador ter escolhido nomes majoritariamente técnicos para compor a equipe de secretários, o parlamentar foi incisivo: “É algo inovador que vai ao encontro das medidas adotadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A medida desagrada setores políticos que estavam acostumados a fazer as velhas indicações. Mas concordo com ele e faria o mesmo se estivesse em seu lugar. Só assim poderemos diminuir o jogo de interesses particulares”, disse. Por fim, o parlamentar reforçou que em breve o partido deverá receber o devido reconhecimento por parte de Caiado.
Eleito com a maior quantidade de votos da 19ª legislatura da Alego, o deputado Henrique César (PSC) diz que o governador tem aberto espaço não só para o PSC, mas também para os demais partidos. Ainda que na contramão da opinião de alguns políticos, o parlamentar reforçou que a harmonia de Caiado com os partidos políticos trará muitos benefícios para o povo goiano.
Ao ser questionado sobre as possíveis indicações do democrata, Henrique César alegou que “ainda há muito espaço no governo que não foi preenchido”. “Justamente para que haja esse diálogo com os demais partidos. Ele já começou a chamar alguns. A Agência de Habitação (Agehab) já conta com a presença do presidente do PSC, Eurípedes do Carmo, por exemplo.” Para ele, os demais presidentes também devem ser convidados para compor outras posições dentro do governo.
Quanto à situação do PDT, o deputado Karlos Cabral salientou que ainda há uma conversação articulada na figura do presidente estadual da sigla. “Nos próximos dias, creio que deva haver uma aproximação com o Executivo para consolidar os espaços que iremos ocupar no governo. Repartir o poder é necessário. Só assim é que podemos nos considerar aliados de alguém”.
O parlamentar não escondeu a expectativa existente, por parte da sigla, em compor alguns cargos no governo. “Acreditamos que em breve, passado esse momento de turbulência, as coisas vão se assentando e as composições partidárias vão acontecendo naturalmente.” Segundo Cabral, o partido está aguardando “o tempo que o governo precisa para conversar conosco.”