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Tucano aumentou diferença em relação ao peemedebista na região metropolitana da capital. Erro de estratégia de campanha centrada na retórica do ódio é apontado como um dos fatores que resultaram na derrocada do projeto político oposicionista em seu principal colégio eleitoral

Marconi ganha dianteira da intenção de votos em Goiânia, tradicional colégio eleitoral de Iris Rezende | Fotos: Fernando leite/Jornal Opção
Marconi ganha dianteira da intenção de votos em Goiânia, tradicional colégio eleitoral de Iris Rezende | Fotos: Fernando leite/Jornal Opção

Frederico Vitor

O que pode explicar o crescimento do go­v­er­nador e candidato à reeleição Marconi Pe­rillo (PSDB), no principal reduto eleitoral — região metropolitana de Goiânia — de seu maior adversário, o ex-prefeito Iris Rezende (PMDB)? Seriam as obras que a administração tucana entregou até o momento, juntamente com as que ainda vão ser inauguradas, ou seria a má gestão do prefeito Paulo Garcia (PT) à frente da prefeitura da capital, que passa por um período de letargia e de crises? Será que o programa eleitoral do peemedebista, centrado em ataques e que pouco prioriza propostas, pode ter desagradado o eleitor goianiense? Ou poderia ser a combinação de todos esses fatores?

Cientistas políticos discorrem sobre a questão e apontam para várias circunstâncias que resultaram na subida de Marconi em Goiânia em contraste à queda de Iris. De acordo com a última pesquisa Serpes, o candidato tucano está 7 % à frente do peemedebista na capital. O governadoriável do PSDB avançou sobre os votos do líder do PMDB e um pouco nos indecisos, a poucos dias para a eleição. Na pesquisa estimulada, o governador ampliou de 14% para 18% sua vantagem em relação a Iris, apesar de que este cenário não garantiria vitória logo no primeiro turno. Outro fator a ser considerado foi que os candidatos Van­derlan Car­doso (PSB) e Antônio Gomide (PT) também cresceram na capital nesta reta final de campanha.

Iris sempre obteve bons resultados nas urnas em Goiânia. Seus estrategistas avaliam a região metropolitana como o fiel da balança frente à máquina eleitoral marconista que, historicamente, costuma se sobressair e compensar a desvantagem na capital, com votações expressivas nos colégios eleitorais das regiões do Entorno do Distrito Federal, Sul, Sudeste, Sudoeste e Centro goiano. Não fosse a vitória acachapante de Marconi no Entorno e em Anápolis, possivelmente o resultado do pleito de 2010 poderia ser diferente, segundo análises de cientistas políticos.

Iris perde fôlego eleitoral por bancar campanha centrada em ataques
Iris perde fôlego eleitoral por bancar campanha centrada em ataques

O que fazia Iris, até então, imbatível em Goiânia? É inegável que suas últimas passagens — em 2004 e 2008, esta última, vencida no primeiro turno —, pela prefeitura o catapultou à disputa ao Palácio das Esmeraldas, em 2010. Derrotado naquela eleição no segundo turno, a campanha de Iris foi extremamente focada nas realizações frente à administração municipal, com ênfase na construção de viadutos, trincheiras, praças, parques e asfaltamento em bairros afastados do Centro, principalmente na região noroeste da capital.

Mesmo tendo fracassado no pleito de 2010, as administrações municipais de Iris trouxeram dividendos políticos, sendo o maior deles a eleição no primeiro turno de Paulo Garcia (PT) no processo eleitoral de 2012. Naquele momento, Marconi passava por um de seus períodos mais complicados politicamente, devido à crise do caso Cachoeira. Como estratégia para superar a turbulência política que abalava as estruturas do governo, saia de cena o político para dar espaço ao gestor.

Surpreendentemente, a situação atual é inversa à de três anos atrás. Enquanto o Paço Municipal atravessa uma espiral de crises administrativas, deixando Paulo Garcia terrivelmente avaliado pelos goianiense, o Palácio das Esmeraldas voa em céu de brigadeiro e vive uma verdadeira lua de mel com os habitantes da capital. O governo estadual tem implementado um dos maiores programas de obras da história de Goiânia. É comum ouvir nos bastidores da política que, nos últimos meses, o governo estadual assumiu o papel da prefeitura, tamanho o impacto das intervenções administrativas do Estado em Goiânia.

O gestor que empreendeu um dos maiores programas de obras na capital goiana

Obras do governo, como o Hugo 2 na região noroeste, fez Marconi crescer em tradicional reduto eleitoral de Iris | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção
Obras do governo, como o Hugo 2 na região noroeste, fez Marconi crescer em tradicional reduto eleitoral de Iris | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

Não custa lembrar. Enquanto a prefeitura estava atolada num vexatório imbróglio que ficou conhecido como a crise do lixo, em que ruas e as avenidas da capital ficaram inundadas de resíduos em sacos plásticos, o governo entregava a duplicação — com iluminação e ciclovia — de duas importantes rodovias que saem da capital, a GO-020 e a GO-060. Outrora fe­chado, o Centro Cultural Oscar Niemeyer tornou-se um dos principais equipamentos públicos de convivência social, relançando Goiânia na rota dos grandes eventos culturais do País.

As obras de construção dos viadutos das GOs 060, saída para Trin­dade, e 070, saída para Inhumas, foram concluídas recentemente, dando mais fluidez ao trânsito crítico próximo à região noroeste de Goiânia — tradicional reduto eleitoral de Iris. Um terceiro viaduto na GO-080, na confluência com a Avenida Perimetral Norte, também está em construção. Dentro do projeto de melhoria da malha viária estadual que sai da capital, os trabalhos prosseguem para levar a pista dupla da GO-020 até Bela Vista. A duplicação da GO-403 — trecho Goiânia-Senador Canedo — já está com mais de 50% das obras executadas.
Outra via de tráfego conturbado na Grande Goiânia, a GO-040, já conta com 7,6 quilômetros reconstruídos e duplicados no trecho que vai até o Bairro Madre Germana. A rodovia ganhou 15 quilômetros de iluminação e um viaduto na pista inferior da GO-040, ligando os setores Madre Germana 1 e 2. Mesmo não sendo sua atribuição, o governo estadual implantou iluminação em 28 quilômetros do perímetro urbano da BR-153, entre Goiânia e Aparecida de Goiânia. A obra — de iluminação diferenciada, com lâmpadas de alto rendimento e durabilidade — foi executada com o objetivo de oferecer mais segurança aos motoristas e pedestres que trafegam no trecho, uma antiga reclamação cuja solução ficava aprisionada no jogo de empurra entre município e o Depar­tamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Novos hospitais

Mas não só em obras de infraestrutura viária se resume as realizações do governo em Goiânia. Marconi, que tem como ídolo político o ex-governador Henrique Santillo, cujo governo é reconhecido pelo padrão alcançado na área da saúde, transformou o aspecto administrativo e físico das principais unidades hospitalares da cidade. O governo transferiu a administração dos hospitais públicos para as Organizações Sociais (OSs), o que possibilitou o alcance de bons resultados. O Hos­pital Geral de Goiânia (HGG), por exemplo, após a reforma e mudança de administração, tem sido chamado de “Hospital Sírio-libanês” de Goiás pelo alto padrão de excelência conseguido pela nova gestão.

O Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo), apesar de ainda não ter atingido um patamar ainda maior de qualidade, avançou muito tanto no atendimento quanto em suas instalações físicas. Fora isso, para reforçar as unidades de pronto atendimento na capital, o governo está prestes a inaugurar o Hugo 2, que estará localizado na região noroeste de Goiânia.

O novo hospital de urgência custou R$ 150 milhões e ocupa uma área de 71.165 metros quadrados. Ele prestará serviços de urgência e emergência, internações clínicas e atendimento a vítimas de queimaduras. A estrutura contempla um total de 485 leitos, sendo 80 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), centro cirúrgico com 22 salas, um auditório para 60 lugares, um heliponto e um estacionamento para mil vagas. O hospital terá a capacidade de realizar até mil atendimentos por dia.

Em outra região da cidade, quem anda pela Avenida Pa­ranaíba, à altura da Rua 74, no Centro, se surpreende com as obras do novo Estádio Olímpico e do moderno Centro de Excelência. Quando estiver em funcionamento, o complexo esportivo vai colocar a capital no cenário regional e nacional dos jogos amadores, podendo receber campeonatos e torneios internacionais. Ao todo serão 33,6 mil metros quadrados de área construída.

A reforma e reinauguração do Autódromo Internacional de Goiâ­nia foi outro marco deste governo na área do esporte e lazer. A pista foi totalmente reconstruída, assim como as áreas dos boxes, salas de imprensa, estacionamento e camarotes. Se­gun­do a mídia esportiva nacional especializada em esporte a motor, o circuito de Goiânia, depois de In­ter­lagos em São Paulo, é o mais moderno do País. A Stock Car, categoria máxima do automobilismo brasileiro, somente neste ano realizou duas etapas na capital, numa delas recebeu um público de 40 mil torcedores.

Em suma, é inegável contrapor que Marconi, juntamente com sua equipe de governo, conseguiu em um curto período de tempo tocar um dos maiores projetos de obras em Goiânia. As pesquisas demonstram que tais realizações estão gerando dividendos políticos.

Claro que outros fatores contribuíram para o fortalecimento do líder tucano na capital, e essas conjunturas são analisadas pelos cientistas políticos e pesquisadores ouvidos pelo Jornal Opção.

Ao comparar programas, eleitores goianienses têm optado por Marconi

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De acordo com Mário Rodri­gues, o pesquisador-chefe do instituto de pesquisas Grupom, o público observa os programas eleitorais de rádio e televisão e isso surte efeito. Ou seja, para alguns, o resultado é a subida nas pesquisas, para outros, a queda. Nada mais do que isso. Em relação ao poder de influência das obras de Marconi em Goiânia, ele afirma que se o candidato tem todas as informações colocadas na divulgação em seu programa eleitoral, automaticamente, o eleitorado observa e faz opção pelo projeto que julga como realizador.

Mário Rodrigues diz que na cabeça do eleitor, a situação atual da prefeitura, a maneira como Iris se apresenta, seus discursos e suas propostas são avaliados. Não é um pequeno detalhe que faz com que seja mais ou menos importante, e sim, um conjunto de fatores. “O eleitor está comparando os programas eleitorais, e deste comparativo ele faz a melhor opção para votar”, diz.

O cientista político Wilson Ferreira, argumenta que a pergunta que se deve fazer não é o porquê de Marconi está crescendo em Goiânia, mas os motivos que levam os outros candidatos a estarem caindo. Segun­do ele, a estratégia dos governadoriáveis que se opõem ao tucano não está fazendo efeito, pelo simples fato de não terem apresentado propostas que o eleitor avalie como melhores que as defendidas por Marconi. “Na verdade, faltam propostas viáveis e críveis, e essa ausência mostra a precariedade das oposições em Goiás”, afirma.

Wilson Ferreira realata que a má gestão de Paulo Garcia não teria prejudicado tanto o desempenho de Iris nas pesquisas. Ele diz que a estratégia do peemedebista de achincalhar e difamar o governador pode ter tido muito mais impacto do que a baixa avaliação da prefeitura. “Talvez esta estratégia de bater não deu certo.”

Equívocos de campanha

O professor e diretor do Instituto Signates de Pesquisa, Luiz Signates, afirma que as obras realizadas pelo governo e as intervenções na cidade, sobretudo nas regiões periféricas e nas saídas de Goiânia, repercutiram muito bem na imagem de Marconi. Ele avalia que a população goianiense passou a enxergar o governador como realizador e tocador de obras, notadamente no coração dos votos de Iris, que é a região noroeste. “É natural que se esperasse na imagem de Marconi uma intervenção positiva.”

Luiz Signates afirma que o candidato peemedebista faz uma campanha muito agressiva, centrada em ataques contra o governador, e isso tem gerado, de acordo com as pesquisas, números negativos ao projeto político do PMDB. “Iris se desgastou enfrentando um governador que estava entregando obras e passou a ser visto como alguém raivoso, que fala mais dos outros candidatos ao invés de apresentar propostas.”

Em relação à má gestão de Paulo Garcia na capital, Luiz Signates ressalta que a dificuldade de administração do próprio PT repercute mais do que a imagem de Iris na campanha. Para ele, o erro de estratégia da campanha peemedebista está em combater Marconi, tornando o governador a pauta central da campanha. “A im­pressão que fica é de que Marconi pautou a eleição da oposição.”

Gean Carvalho, do Instituto Fortiori, que tem realizado pesquisas divulgadas pelo Jornal Opção, explica que o que vem acontecendo com Marconi em Goiânia se verifica em outras regiões do Estado. Ele afirma que a avaliação positiva, com o tempo, vai se convertendo em intenção de votos. A subida de Marconi teria demorado a acontecer na capital, talvez pelo recall de Iris ser historicamente positivo na cidade. “O eleitor passou a notar uma melhora do governo nos últimos meses com realizações de obras, e a má gestão de Paulo Garcia é apenas um componente para a queda de Iris nas pesquisas”, afirma o pesquisador.

Outro fator que pode justificar o mal desempenho de Iris nas pesquisas em Goiânia, segundo Gean Carvalho, é a campanha em si do candidato. Ou seja, o posicionamento equivocado, apresentação agressiva, propostas exageradas e promessas duvidosas, o eleitor tem julgado sem pé na realidade. Outra questão a ser ressaltada é que, ironicamente, o segundo voto do eleitor de Iris é justamente de Marconi. “À medida em que Iris vai perdendo votos, eles migram mais para o governador do que para os outros candidatos.”