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Uma candidatura vencedora depende de inúmeros fatores, inclusive o imponderável. Alguns deles podem pesar mais na sucessão de Paulo Garcia

Afonso Lopes

Como vencer uma eleição para prefeito em uma grande capital? Bem, em primeiro lugar, não existe um formato perfeito. Existem, sim, alguns pontos considerados fundamentais não apenas em uma eleição de prefeito em Goiânia, mas de uma maneira geral em todas as eleições para Executivos, tanto em nível estadual como nacional. É o trivial mesmo que todas as candidaturas competitivas precisam atender.

A começar pela estrutura partidária e as alianças. Bons candidatos não conseguem passar da esquina porque se lançam sem se preocupar com uma boa chapa de vereadores próprios e aliados. São os vereadores que mantém viva a mensagem dos candidatos em todos os bairros, não permitindo que ela se perca tão rapidamente quanto alguma caminhada. Essa estrutura partidária é, portanto, fundamental para a construção de alguma chance real de vitória. Começa exatamente aí: os candidatos a vereador.

Mas nem uma multidão de candidatos a vereador significa muita coisa. Depende sempre da representatividade popular que eles tem. Além da boa distribuição geográfica, ter 50 candidatos excelentes em uma só região é pior do que contar com 50 candidatos apenas bons que cobrem uma região bem maior, mais abrangente e com maior número de eleitores.

E, assim, a eleição de Goiânia co­me­ça a tomar contornos. Coligações da base aliada estadual de Marconi, o PMDB de Iris Rezende e o PT sempre conseguem boas estruturas partidárias na capital. Os demais partidos, embora com um, dois ou três no­mes bons, não carregam uma candidatura a prefeito de maneira competitiva.

O segundo ponto é o tempo de campanha eletrônica no rádio e na televisão. Partidos menores e com alianças muito restritas frequentam muito pouco esse palanque, seja nos blocos diários, seja nas inúmeras pílulas de 30 segundos espalhadas nas programações das emissoras – e que surtem um bom efeito.

Também nesse ponto, a base aliada estadual, o PMDB de Iris e o PT surgem como favoritos.
Em terceiro lugar está a estrutura financeira. É importantíssima em qualquer eleição – com as regras eleitorais em vigor. Sem dinheiro, os programas eleitorais, mesmo que disponíveis, acabam sendo muito mal aproveitados pela falta de bom marqueteiro, profissionais e equipamentos. Não existe esse negócio de romantismo da câmara fechada, num estúdio improvisado e tal. Isso simplesmente não funciona.

Outro ponto importante na campanha e que é definido pela estruturação financeira que se estabelece é o apoio aos candidatos a vereador e ao material auxiliar da campanha. Dificilmente alguém é eleito por causa de um cartaz, outdoor ou santinho. Mas sem esse material é como se um clássico entre Goiás e Vila Nova com o Serra Dourada lotado não ficasse colorido de verde e vermelho. Já imaginou? Um estádio lotado com roupas brancas, azuis, pretas e amarelas e nada de verde e vermelho? Seria o clássico mais sem graça da história. Mal comparando, é a mesma coisa. Esses materiais não ganham o jogo, mas animam e marcam a presença.

Base aliada, PMDB de Iris e PT mais uma vez ficam à frente dos de­mais possíveis concorrentes quando o assunto é dinheiro para a campanha.

Esses são os pontos fundamentais e imutáveis na construção de qualquer candidatura realmente competitiva: boa aliança, bom tempo de palanque eletrônico e boa estrutura financeira para bancar tudo isso. Daí em diante entra o imponderável, especialmente em dois aspectos: o discurso do candidato e, mais importante, se a candidatura impacta ou não o eleitorado.

E é nesse ponto que, ainda muito longe do clima de eleição, a base aliada e o PMDB de Iris se desgarram inicialmente do PT. O discurso tanto de um quanto do outro será num tom oposicionista. Provavelmente, mais no candidato da base do que no candidato peemedebista, mas ambos no mesmo diapasão. O PT terá que defender o governo que aí está. Hoje, apesar de alguma recuperação, é certo que a administração petista em Goiânia não é cantada em verso e prosa pela maioria da população. Ao contrário, os desgastes gravíssimos do ano passado e início deste ainda pesam bastante. Já foi pior, mas ainda não é boa a imagem do governo da capital.

E o principal aspecto é a questão ad­ministrativa. Muito acima de qualquer questão política. O eleitorado goi­aniense, salvo correção de rumo a ser aferida por novas pesquisas de opinião, está bastante receptivo a um discurso de cunho fortemente administrativo. Esse é, no conjunto, o aspecto mais importante que cerca as eleições para a sucessão do prefeito Paulo Garcia.

E quem sai na frente nesse quesito, base aliada estadual ou PMDB. De­pen­de dos candidatos a serem escolhidos. Há nomes na base com perfil diretamente ligado ao aspecto administrativo. No PMDB, isso é exclusividade, em Goiânia, de Iris Rezende. Politicamente, o partido teria vários bons nomes, mas administrativamente só existe Iris Rezende. Esse desempate, portanto, vai começar a ser definido no meio do ano que vem, quando da realização das convenções partidárias. Até lá, segue o empate nesse clássico.