O que quer Kim Jong-un
07 setembro 2017 às 13h06
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A diplomacia pode ter seu lugar na “luta do século” entre Trump e Kim?
Desde a independência dos Estados Unidos em 1776, os EUA estiveram envolvidos em algum conflito em aproximadamente 91% do tempo, ou 220 anos. Alguns ex-presidentes carregam o fardo de terem tido a sua “própria guerra”: Barack Obama, na Síria, George W. Bush, no Iraque, e Bill Clinton, na Iugoslávia, para citar exemplos mais recentes.
Durante a campanha presidencial, Donald Trump deu a entender que se dedicaria a questões internas e adotaria um posicionamento mais isolacionista em relação à política externa, chegando a dizer em um dos debates que os Estados Unidos não deveriam ser a “polícia do mundo”.
No início do mandato, o discurso permaneceu o mesmo, mas o ataque a uma base militar do governo sírio, em abril, deu indícios de que poderia mudar.
O posicionamento dos EUA em relação à Coreia do Norte pode vir a concretizar essa mudança. A finalidade dos estadunidenses é pôr fim ao programa nuclear do país asiático. Sanções econômicas ainda não ajudaram a atingir esse objetivo e, portanto, a via militar é obviamente cogitada. Até o momento, trata-se apenas de uma ameaça. Contudo, a imprevisibilidade já é marca do governo Trump e uma intervenção não pode ser descartada.
Um conflito na região representaria uma catástrofe, principalmente para aliados estadunidenses, como a Coreia do Sul e o Japão, que seriam os principais alvos norte-coreanos em uma eventual resposta. Por isso, a diplomacia tem de ser a alternativa.
Manutenção do regime
Apesar da pouca idade e de ser comumente tachado de louco, Kim Jong-un, que foi educado na Suíça, é, na verdade, muito esperto. Ele sabe o que aconteceu com Muammar Gaddafi, na Líbia, e Saddam Hussein, no Iraque, e tenta evitar que a história se repita na Coreia do Norte. Kim não quer guerra. Ele quer apenas a manutenção de seu regime no poder.
Os seus testes nucleares, chamados de “pacotes de presente” pelo embaixador do país na ONU, Han Tae Song, servem como uma demonstração de força. Se passar uma imagem enfraquecida, isto é, de não ter tudo aquilo que diz ter, uma intervenção militar pode se tornar real.
A China, por sua vez, pede cautela. A possibilidade da queda de Kim e, eventualmente, de uma Coreia unificada — sendo a do sul a dominante — não é vista com bons olhos por Pequim. Além disso, um conflito na sua vizinhança é infinitamente pior do que a instabilidade na região provocada pelos testes norte-coreanos.
Neste momento, as sanções ainda são a opção mais inteligente porque elas podem forçar a Coreia do Norte a se sentar à mesa de negociações, assim como ocorreu com o Irã. E qualquer negociação com a Coreia do Norte, neste momento, já é positiva.
De qualquer maneira, a tendência é que Trump tenha a “sua guerra”. Se vai ser a Coreia do Norte ou algum outro país, nem ele deve saber. Mas, se for, Donald Trump vs Kim Jong-un será a verdadeira “luta do século”, pelo menos pode ser a que ponha fim ao XXI. l