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A um ano da eleição que vai definir os representantes do Legislativo em nível estadual e federal e o próximo presidente do Brasil, os nomes que vão disputar o Executivo federal pelo espectro da direita permanecem mais nebulosos do que nunca. Isso porque, desde a consolidação do fenômeno ‘Jair Bolsonaro’, que deu uma novo cara e um novo corpo para a direita no país, antes descoordenada e sem líderes, todo e qualquer indivíduo que manifeste desejo de concorrer por esse segmento, que se divide entre abrasileirados “conservadores”, “liberais” e alguns extremistas, precisa pedir a bênção da corrente originada pelo ex-presidente – que insiste em fazer mistério sobre quem vai apoiar no ano que vem. Com exceção de um.

Governador de Goiás reeleito no primeiro turno, com mais de 1,8 milhão de votos, Ronaldo Caiado foi o primeiro dos governadores com pretensão eleitoral para 2026 a lançar sua pré-candidatura, evento ocorrido ainda em abril deste ano. Enquanto outros cotados para disputar o Palácio do Planalto em 2026 pela direita evitam se movimentar e aguardam, pacientes, o aval do ex-presidente Bolsonaro (inelegível e condenado à prisão por tentativa de golpe), o goiano tem cumprido agendas de forma incessante em torno de sua pré-candidatura.

Para se ter uma ideia, o governador de Goiás teve mais de 70 agendas fora de Goiás entre abril, quando lançou sua pré-candidatura em Salvador, Bahia, e o final de setembro.

Caiado ainda aparece com pontuação pouco expressiva nas pesquisas de intenção de voto (a última Genial/Quaest trouxe o governador com 3% das intenções). No entanto, cientistas políticos e lideranças partidárias apontam uma série de fatores que fazem com que Ronaldo Caiado seja o pré-candidato com “a maior chance de projeção e crescimento” até o pleito eleitoral do ano que vem.

Segurança pública

Dados do Observatório da Segurança Pública da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-GO), divulgados em julho deste ano, mostram que o Estado alcançou, em junho de 2025, o menor número de homicídios da série histórica iniciada em 2016.

Conforme a SSP-GO, foram 54 ocorrências registradas em todo o território goiano ao longo do mês, com destaque para o fato de que 213 municípios não registraram nenhum homicídio consumado, incluindo feminicídio, durante o período.

Também em julho, a Secretaria divulgou que os latrocínios, casos de roubo seguido de morte, tiveram queda foi de 95%, com registros de 8 casos este ano, até o mês em questão, contra 59 no mesmo período de 2018. Ainda no mesmo comparativo, houve reduções drásticas, ainda segundo a SSP-GO, nos crimes de roubo a transeunte de 92% (2.080 em 2025 contra 25.717 em 2018), roubo a comércio de 92% (171 casos agora e 2.242 em 2018), roubo a residência de 85% (200 registros em 2025 contra 1330 em 2018) e roubo de carga de 98% (6 casos em 2025 contra 248 em 2018).

Os números que mostram quedas expressivas nos índices de criminalidade no estado podem, talvez, explicar a alta aprovação de Caiado. Em agosto deste ano, a administração do goiano era aprovada por 88% da população de Goiás, de acordo com pesquisa Genial/Quaest.

A segurança pública e os reflexos da melhora nessa área são, justamente, um dos principais pontos que devem projetar Caiado em 2026. É o que explica o cientista político Guilherme Carvalho, em entrevista ao Jornal Opção. Segundo ele, a estratégia do governo de “viralizar” dados da segurança pública pelos chamados “memes” de redes sociais e numa linguagem acessível e divertida para a população foi um grande acerto para nacionalizar os bons números do estado nessa área. É uma questão que, segundo Carvalho, precisa receber ainda mais atenção do governador.

“Essas coisas que estão fazendo nas páginas do governo de Goiás, como “Ah, a pessoa vem do Rio de Janeiro e assusta porque aqui pode usar celular na rua”, é um acerto. É isso, é usar isso de uma forma ostensiva e ‘memética’. É isso que ganha a grande massa. É lá onde ele tem que olhar”, explicou.

Guilherme Carvalho, cientista político | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ainda conforme o cientista político, Caiado tem resultados para expor “na vitrine” ao longo da pré-campanha e da campanha, algo que falta a outros governadores cujos estados perecem com altos índices de criminalidade.

“Quando a gente cruza os dados, dá pra concluir isso. O povão está no campo da direita. E muita gente votou no Bolsonaro por muito tempo por conta de discurso de agenda de segurança pública, mas ele não teve entrega. Já o Caiado tem entrega. Não pode ser só isso, mas precisa ser carro-chefe. Mas está muito técnico ainda, precisa ser mais popular”, pontuou.

O empresário, deputado federal e presidente do Podemos em Goiás, Glaustin da Fokus, é uma liderança política que faz coro ao especialista. De acordo com ele, Ronaldo Caiado “deu conta de um grande segmento no estado” e que é deficitário em outros estados.

“Hoje, o Brasil sofre assustadoramente com isso. Pega São Paulo, por exemplo, que é comandado pelas facções. O Rio de Janeiro também, e vários outros. E aqui deu uma trégua, deu paz para nós. Sou testemunha disso, porque faço seguro de carga, seguro de caminhão e caiu o preço, porque caiu o risco. Se ele levar isso para um debate nacional ninguém ganha dele”, avaliou.

Trajetória e “autoridade moral”

Jurista, escritor e ex-deputado federal, Vilmar Rocha, considerado um dos “caciques” do PSD, também cita a segurança pública como sendo o grande legado de Caiado, como governador, para Goiás. “A percepção de segurança aqui é grande. Ele precisa fazer com que essa percepção chegue ao grosso do eleitorado nacional”, afirma.

Rocha também destaca dois quesitos que dão a Caiado um diferencial para 2026 dentro da direita. “Primeiro, a trajetória dele, de ter sido sempre antiPT. Ele nunca foi petista, de esquerda. Esse é um ponto fundamental. Segundo, Caiado tem autoridade política e moral porque ele não tem o rabo preso. Ele tem condição de fazer um combate duro com o Lula. Poucos nomes na direita e centro-direita tem esses dois perfis: trajetória de antiPT e moral política”, afirmou.

Vilmar Rocha: deputado federal por cinco vezes | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Na questão da “autoridade moral”, citada por Vilma Rocha, traz-se à tona inevitavelmente comparativos da situação dos pré-candidatos perante à Justiça. Enquanto o governador de Goiás deve sustentar sua posição de não possuir pendências com a Justiça, outros nomes, como Tarcísio de Freitas, podem não dizer o mesmo.

Em setembro deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, chegou a dar um prazo de cinco dias para a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestar sobre um pedido de abertura de investigação contra o governador de São Paulo. O pedido foi protocolado na Corte pelo deputado federal Rui Falcão (PT), que pediu que Tarcísio – um dos principais cotados para 2026 – seja investigado pelo crime de obstrução de Justiça por ir a Brasília durante o julgamento da trama golpista, para articular a votação da anistia no Congresso para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, um dos réus condenados.

Mesmo que a movimentação em questão seja infrutífera, a iniciativa de Moraes sinaliza que Tarcísio de Freitas pode ser mais uma liderança política da direita a entrar na mira do STF, podendo ter complicações mais à frente.

Independência do bolsonarismo

Tido como um representante da direita moderada, o governador Ronaldo Caiado pode ser, talvez, o único pré-candidato à presidência da República pela direita que se movimenta livremente, independente do aval de Bolsonaro e seus seguidores.

Enquanto outros pré-candidatos, como Ratinho Júnior, Romeu Zema e Tarcísio de Freitas são duramente atacados pelo clã Bolsonaro por qualquer movimento fora do controle da família (Eduardo Bolsonaro chegou a chamá-los de abutres), Caiado afirmou em diversas ocasiões que sua candidatura não está condicionada a nenhuma liderança política que não ele.

Deputado Federal Glaustin da Fokus | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O deputado Glaustin da Fokus afirma que o ideal seria que Caiado tivesse uma conversa com Bolsonaro para que o ex-presidente passasse seu apoio para os nomes com mais viabilidade para 2026. “Estou falando de Caiado, Ratinho e Tarcísio. Lá na frente afunila. O melhor dos três vai para a disputa com o Lula. Mas não tem jeito, Caiado é o melhor deles”, concluiu.

O cientista político Guilherme Carvalho, por sua vez, afirma que o governador de Goiás tem um eleitorado de peso que dá a ele a vantagem de poder caminhar com as “próprias pernas”. “Ele tem plataforma, tem política pública para apresentar. Este é o momento em que Bolsonaro tem cada vez menos projeção de poder, e quem conseguir capturar agora vai ficar com o espólio. A questão toda é ele se desvencilhar disso e se apresentar como alternativa”, analisa.

Nacionalização do projeto

Ainda de acordo com Guilherme Carvalho, a baixa densidade eleitoral de Goiás é um problema na questão de nacionalização do projeto caiadista. Em resumo: o governador é muito conhecido e bem aceito em Goiás, mas esse cenário perde força fora do estado. No entanto, ainda segundo Carvalho, Caiado já teria identificado esse problema e estaria atento a solucioná-lo.

“Ele deu o tom disso ao lançar sua pré-candidatura em Salvador”, comentou o cientista político, mencionando a Bahia como um dos maiores colégios eleitorais de Goiás. A escolha do vice, nesse ponto, é essencial.

“Caiado precisa de um vice que tenha influência em um eleitorado mais amplo. Como normalmente se contrabalanceia: o candidato do Nordeste pega um vice do Sul. Como estamos no centro do Brasil, é uma decisão difícil […]. Ele precisa de um nome forte da direita ou centro do Nordeste ou Sudeste, de um perfil de vice mais jovem, com alcance para fora do Centro-oeste”, considera.

O ex-deputado Vilmar Rocha reforça o fato de os estados do Nordeste serem cruciais na corrida eleitoral. O jurista aponta caminhos viáveis para o governador de Goiás conquistar esse eleitorado, e cita alianças já em curso e que podem beneficiá-lo, e muito.

“Representamos pouco mais de três por cento do eleitorado nacional. O governador precisa conquistar o eleitorado do Nordeste e Sudeste. A Bahia tem uma influência muito grande no Nordeste. Na eleição passada o Lula ganhou muito em parte porque ele teve uma votação esmagadora lá”, disse. E acrescentou: “Se o ACM Neto, que parece que está bem nas pesquisas para governador, ficar firme com Caiado, ele pode ter uma expressão melhor que os outros na Bahia”, concluiu.

Segundo a pesquisa Real Time Big Data, divulgada no último dia 22 de setembro, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (UB), lidera a corrida pelo governo da Biahia com 40% das intenções de voto. Em segundo aparece o atual governador, Jerônimo Rodrigues (PT), com 36%.

ACM Neto é um dos principais apoiadores do nome de Caiado para 2026. Em entrevista recente ao Blog do Valente, o ex-prefeito disse que o “conhece há muitos anos, e ele é considerado o melhor governador do Brasil, que tem a melhor avaliação do país, um político extremamente preparado, experiente, sério, um homem de palavra”. “Se depender de mim, candidato a presidente é o Ronaldo Caiado. Vou trabalhar por isso”, declarou.