O ano em que Iris “deixou” de ser Iris
30 dezembro 2017 às 11h40

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Vereadores relembram os 12 primeiros meses da gestão do decano peemedebista, marcada por problemas que castigaram os goianienses

Um ano se passou e nenhuma ação efetiva da Prefeitura de Goiânia conseguiu sanar os problemas básicos da cidade desde que Iris Rezende Machado (PMDB) assumiu a chefia do Executivo. Os problemas, na verdade, se agravaram. É o que afirmam vereadores ouvidos pelo Jornal Opção.
Eleito para administrar a capital, Iris é, para adversários e mesmo para aliados, um “ex-Iris”. Há apenas um detalhe, apontam vereadores, que remete ao Iris de antigamente: os mutirões. Pelo menos R$ 1 milhão é gasto em cada evento anunciado pela televisão.
Mas, depois dos mutirões de Iris, sobraram cidadãos deixados à mercê da própria sorte, sem vagas – as prometidas vagas – nos Centros Municipais de Ensino Infantil (Cmeis), sem médicos, ruas esburacadas e sem recolhimento de lixo, para citar alguns dos problemas crônicos.
É o que lembra o vereador Elias Vaz (PSB), no que tange o jeito passadista de Iris Rezende administrar. “Iris montou uma forma ultrapassada de gerir a cidade. Montou um secretariado ruim que não deixa a gestão sair do lugar. Não consigo imaginar uma administração que flua, sem um prefeito dando autonomia.”
Vaz destaca ainda que o próprio secretariado do prefeito reclama. “Até pela idade ele não tem a mesma dinâmica do passado. Iris precisa descentralizar, confiar em sua equipe”, salienta.
Politicamente, Elias Vaz afirma que o peemedebista também ficou longe, muito longe do que já foi. “É uma tragédia. Ele se esqueceu da origem dele, que é a Câmara de Goiânia.”
O vereador participou sistematicamente de discussões importantes em 2017. Ele presidiu a Comissão Especial de Inquérito (CEI) da SMT e é relator da CEI Saúde, ambas para investigar irregularidades nas gestões do antecessor Paulo Garcia e de Iris Rezende. “Encontramos muitos problemas, mas a Prefeitura continuou aceitando as irregularidades com empresas. A SMT é uma tragédia, só serve para arrecadar.”

Vaz ressalta ainda o problema na Saúde. “É a área que tem maior problema na gestão. Iris acertou ao colocar uma secretária que está fora da máfia, mas, infelizmente, ela não tem capacidade administrativa. Sinceramente, a má-fé e incompetência podem gerar os mesmos problemas”, diz. Ele cita como exemplo o fato de Prefeitura estar terceirizando raios X, quando a Secretaria de Saúde tem sete aparelhos guardados.
Centralizador, o prefeito parece não ter entendido que a confiança no secretariado otimizaria o andamento da gestão, mas não há previsão de que isso se resolva. É que ele não permite que os titulares das pastas andem com as próprias pernas.
Do Iris que se preocupava com a Saúde de seu povo em gestões passadas, sobrou um Iris que não impediu que a administração municipal goianiense afundasse nos interesses eleitoreiros, com cargos distribuídos entre amigos e cabos eleitorais, o que aparelhou politicamente um setor vital para a população.
Com isso, em 2017, Goiânia esteve repleta de obras paradas. Nesse caso de paralisia está o BRT. A obra está empacada e Iris, que é do mesmo partido do presidente da República, Michel Temer, não conseguiu articular uma solução para o problema. Bem diferente de outros tempos, quando Iris conseguia recursos graças ao seu prestígio em Brasília.
Desde janeiro, contudo, a falta de diálogo entre Iris e os vereadores – findou o ano e o prefeito continua sem líder na Câmara – é uma das reclamações mais recorrentes. Esse distanciamento ocasionou sucessivas derrotas de pautas do Paço remetidas à Câmara, como a questão do reajuste do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
“Foi um ano perdido”

O vereador Lucas Kitão (PSL) diz que 2017 foi um ano perdido. “Iris Rezende não consolidou nenhuma política pública. A única coisa que fez foi mutirão. Nada a longo prazo. Nenhuma melhoria estrutural, na saúde, na mobilidade, na educação.”
Kitão destaca ainda que o prefeito não conseguiu fazer uma reforma administrativa, que, para ele, é emergencial. “Para fazer um comparativo, Goiânia tem o dobro de secretários de Porto Alegre, cidade com mais habitantes. E um dos grandes equívocos da administração goianiense é querer cobrar os ‘puxadinhos’, aumentar o IPTU. Precisaria cortar na própria carne, racionalizar os custos, diminuir pessoal.”
O vereador ressalta ainda a falta de consenso entre o prefeito e a Câmara de Vereadores. “Isso demonstra o quanto Iris é arcaico. Quando ele não conseguiu conversar com a Câmara, preferiu procurar a Justiça. Foi frustrante para mim este primeiro ano da gestão de Iris Rezende.”
Outros problemas irritam vereadores, como a intenção de se mexer na Previdência do Município. “Isso sem nos escutar”, lembra Kitão. “Sem falar que ele não pagou a data-base. No histórico, já se parcelou a data-base, agora ficar sem pagar é inadmissível. Queremos que em 2018 Iris deixe de gerir a cidade como uma gestão analógica e se torne digital. Que seja moderna!”
O vereador ainda discute o uso da administração para fins eleitoreiros. “O mais grave é constatar que Iris chamou para a administração 45 candidatos a vereador derrotados. Muitos não têm nem capacidade técnica. É preciso devolver aos cidadãos os benefícios que lhe são de direitos a partir dos impostos que pagam”, finaliza.
Os problemas, em 2017, “sambaram” debaixo dos olhos do homem que cuspia experiência sobre seus adversários na campanha eleitoral. Os buracos aumentaram, a falta de atendimento no Instituto Municipal de Assistência Social (Imas), a falta de consenso com a Pasta da Saúde que fechou postos de saúde sem consultar previamente os moradores, transferindo médicos, acabando com serviços especializados. Tudo sem explicação.
Mas há quem defenda a gestão do peemedebista. O vereador Vinicius Cerqueira (Pros) é otimista. Para ele, Iris Rezende vai conseguir reverter os problemas, com a ajuda de uma base mais sólida, assim que voltarem do recesso em fevereiro. “Certamente, ano que vem os goianienses vão se surpreender com um trabalho voltado para a cidade por parte do prefeito. E vamos estar com ele para ajudá-lo”, resume.