A experiente bancada de opositores na Assembleia Legislativa prometia balançar o coreto governista, mas não foi além da banda de música

Afonso Lopes

Logo após os festejos dos vitoriosos e o lamento dos perdedores, a oposição posou de galo carijó na Assembleia Legislativa. À boca miúda, falou-se que apesar de terem conseguido a eleição de apenas 12 deputados, nos momentos cruciais os oposicionistas somariam mais dois votos, atingindo assim o quórum mínimo para criar algum tipo de constrangimentos no governo, como pedido e aprovação automática de instalação de CPIs. A primeira delas, por sinal, seria a do Detran, órgão que ainda hoje surge enrolado num emaranhado cibernético que ninguém consegue explicar ao certo.

Da promessa de jogo duro para o combate da vida legislativa real, mudou tudo. A oposição não apenas não conseguiu materializar os tais dois votos eleitos como governistas como perdeu um voto dado como certo, o do deputado Simeyson Silveira, que se rendeu ao fato de que seu partido, o PSC, é parte integrante do governo estadual. Em outras palavras, se já estava muito ruim com 12 votos, com 11 é bem pior.

Crise

Nem a fortíssima redução da máquina pública que está sendo promovida providencialmente pelo governador Marconi Perillo abalou seriamente os alicerces da sólida estrutura da base de governo na Assem­bleia Legislativa ou na bancada federal. Quem era oposição, continua por lá. Quem foi eleito com o rótulo governista, mantém a faixa.

Mas e a crise? Se realmente existiu algum momento de tensão grave, aparentemente isso já é coisa do passado. Ou sobrou capacidade e capacitação de diálogo, ou era apenas pressão política um pouco além do tom. A aposta na segunda hipótese parece ser mais segura.

O curioso nessa história é que a própria oposição na Assembleia Legislativa se rendeu ao plano de governo. Se não se rendeu, pelo menos não consegue oferecer melhor contra-ponto ou apontar questionamento da curva proposta pelo governo. É um silêncio eloquente.

O problema é exatamente esse: dizer o que diante do pacotaço doloridíssimo baixado pelo governo neste início de mandato? Ir contra a diminuição no número de secretarias de Estado seria de uma insensatez política ímpar, digna de ingresso fácil no anedotário da história política de Goiás. Ficar contrariado com o corte de servidores de vínculo precário também não dá pedal. Então, o único jeito foi ficar calado para não ter que elogiar.

O assunto já rendeu tudo o que teria para render? Longe disso. Esse novelo aí só agora começou a ser desfiado. A secretária da Fazenda Ana Carla, anda apavorada com o tamanho da encrenca que surge nas previsões financeiras deste ano, e que são resultado do tranco recessivo absurdamente duro desfechado pelo governo federal e do natural e rotineiro desequilíbrio das contas públicas em todos os finais de mandato no Brasil. O primeiro ano de mandato de todos os governantes do país, em todos os níveis, sempre é de recuperação. Some-se a essa dificuldade localizada o desarranjo estrutural da economia federal e o resultado é negativo mesmo. Como há muito tempo não se via.

E é nesse ponto, novamente, que entra a dificuldade de movimentação dos opositores: reclamar do quê? Protestar contra qual medida adotada pelo governo estadual? Haja experiência de luta para encontrar um ponto absolutamente vulnerável e de fácil compreensão e absorção por parte da população. Principalmente porque o cidadão faz as suas contas políticas: enquanto em Goiás cortou-se secretarias aos montes, em Brasília reclama-se da crise, mas não se diminuiu um único ministério na imensa e imponente Esplanada. E os dois principais partidos de oposição ao governo estadual são parceiros de unha e fé em nível nacional, PT e PMDB.

De qualquer forma, e ao final, o que se percebe claramente é que o governador tem feito mais cobranças públicas do único setor que causa vergonha ao governo, o Detran, do que toda a oposição somada. Talvez seja mesmo uma questão de experiência na arte de ser, entender e se comportar na política.