Moradores denunciam insegurança e abandono em área do antigo CRAS na Vila Finsocial
18 outubro 2025 às 21h00

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Moradores e comerciantes da Vila Finsocial, nas proximidades da Rua VL 42, denunciam que pessoas em situação de rua e usuários de drogas tomaram conta do terreno onde funcionava um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Mesmo após a demolição do prédio, os ocupantes permaneceram no local, instalando barracas e continuando as atividades que geram insegurança à vizinhança. Vale ressaltar que situações como essa se repetem em diversos pontos de Goiânia.
A equipe do Jornal Opção esteve no local e constatou a presença de cerca de 20 pessoas vivendo no terreno. Durante a visita, o repórter foi ameaçado e convidado a se retirar por um homem que aparentava ser o líder do grupo.

Enquanto o repórter conversava com moradores, uma viatura do Tático Operacional Rodoviário (TOR), comandada pelo sargento Rodrigo e composta por outros três policiais, passou pelo local e realizou uma abordagem ao grupo que estava reunido. A ação, porém, não resultou em nenhuma ocorrência ou prisão. Segundo o sargento, tratou-se apenas de uma abordagem de rotina e, como não houve flagrante, não havia medidas adicionais a serem tomadas naquele momento.
Apesar de o terreno estar localizado ao lado do 21º Distrito Policial, moradores relatam que os ocupantes da área não demonstram intimidação. Pelo contrário, afirmam se sentir protegidos. “Eles dizem que ninguém pode mexer com eles, porque senão o pessoal dos direitos humanos denuncia. Falam para todo mundo ouvir que têm até proteção da polícia”, afirmou um morador.
Os CRAS oferecem serviços como o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif) e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), além de orientações sobre programas sociais e benefícios como o Cadastro Único. Com a desativação do equipamento público, moradores relatam que o bairro perdeu acesso direto a esses serviços essenciais.
“Aqui tem de tudo, só não tem sossego e segurança”
De acordo com relatos, o prédio do antigo CRAS já vinha sendo ocupado antes da demolição e servia como ponto de uso e venda de drogas. Um morador que pediu anonimato contou que as brigas e pequenos furtos são constantes na região.
“Já teve mortes entre eles mesmo, já teve morte por acerto de contas. Aqui tem de tudo, só não tem sossego e segurança para a população. Onde estão as autoridades que fazem vistas grossas para essa situação?”, questionou.
Uma moradora aposentada afirmou que evita sair de casa à noite. “A gente não pode nem andar nem de dia, à noite então é pior ainda. Quase nem vou mais à igreja, pois é preciso passar perto do lote onde eles estão”, contou.
Outro morador, com mais de 80 anos, relatou que o problema é antigo. “Meu filho, isso é antigo, tem mais de 30 anos. Eles só mudam de lugar. Eu moro aqui há mais de três décadas e sempre foi assim. Já vi assassinatos nessa rua, traficante mandando matar usuários e aviãozinho que não pagam a dívida. Eu já até me acostumei com isso. Na verdade, o Finsocial está abandonado”, lamentou.

Uma mãe de aluna do CEMEI Finsocial I, que fica ao lado do terreno, disse que vive em constante medo. “Eu mesma preciso deixar minha filha aqui, mas é sempre com medo. Eu sei que essas pessoas são dignas de dó e precisam de ajuda para saírem dessa situação, mas também reconheço que elas não querem ou não têm força para dar o primeiro passo. Por isso o poder público precisa agir. Nós, os moradores, não podemos conviver com esse medo e essa insegurança em nosso bairro”, desabafou.
Outra moradora lamentou a retirada dos serviços sociais da região. “Queremos nosso CRAS de volta. Eles retiraram o nosso CRAS em vez de retirar essas pessoas daqui. Aí nós é que perdemos todos os serviços que tinha aqui e agora temos que ir para longe se quisermos resolver algum problema”, reclamou.
Paróquia vizinha enfrenta furtos e insegurança
O auxiliar administrativo Yuri Swamy, que atua na paróquia vizinha ao terreno, contou que a situação também afeta diretamente a igreja.
“A prefeitura deixou o atendimento do CRAS e o imóvel, e aí eles acabaram ocupando o espaço”, afirmou. “Mesmo com a demolição da estrutura, eles continuam lá. Não se intimidaram com a retirada.”

Segundo Yuri, os furtos e danos se tornaram frequentes. “Tivemos problemas com roubo de fiação, tivemos que pagar tudo de novo e até levantamos o muro para dificultar o acesso. Já encontramos facas e drogas perto do muro, porque quando a polícia fazia uma ação, eles jogavam as coisas para dentro do terreno da igreja.”
Ele destacou que a proximidade com o 21º Distrito Policial não tem impedido a criminalidade. “Mesmo com a delegacia do lado, isso não inibe ninguém. Quando roubam algo, a orientação é apenas abrir um boletim de ocorrência. E fica por isso mesmo.”
O auxiliar criticou a falta de presença da prefeitura. “Nunca apareceu nenhum servidor público para conversar, tentar resolver. A gente fica de mãos atadas. Isso atrapalha as atividades da igreja, porque os fiéis têm medo, principalmente à noite. Muitos idosos evitam vir à missa das 19h30 por causa da insegurança.”
Yuri estima que cerca de 20 pessoas vivem no local. “A gente ajuda quando pode, com água ou alguma coisa, mas acaba virando rotina. Eles não buscam uma solução, ficam dependentes. Muitos são usuários de drogas e acabam indo para o crime para sustentar o vício.”
Para ele, o problema deve ser tratado com políticas de acolhimento. “Essas pessoas precisam ser tratadas, humanizadas e integradas de novo à sociedade. A prefeitura deveria oferecer um local adequado e apoio para que saiam dessa situação. Do jeito que está, só traz medo e insegurança para todo mundo.”

Prefeitura promete novo CRAS e reforça oferta de serviços sociais
A secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Assistência Social e Direitos Humanos, Eerizania Freitas, informou que o antigo CRAS foi demolido por recomendação da Defesa Civil, devido às más condições estruturais. Segundo ela, os atendimentos foram remanejados para a unidade do Setor Balneário Meia Ponte, e um novo centro está sendo planejado para o local.
A Secretaria confirmou que os recursos destinados à reconstrução do novo CRAS já estão assegurados em convênio firmado com o governo federal. De acordo com a pasta, o valor encontra-se disponível em conta e será utilizado por meio de uma licitação exclusiva para a obra.

Segundo a Secretaria, o processo licitatório é necessário devido à complexidade do projeto, que está sendo conduzido pela Sekap. A reconstrução seguirá as diretrizes da Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB-SUAS), que define a tipificação e os parâmetros técnicos dos serviços socioassistenciais.
O objetivo, conforme destacou a gestão, é garantir que o novo CRAS atenda plenamente às famílias em situação de vulnerabilidade social atendidas pela unidade.
Sobre as pessoas em situação de rua, Eerizania destacou que a Secretaria oferece suporte por meio do Centro Pop, que disponibiliza emissão de documentos, passagens para retorno à cidade de origem, encaminhamento para acolhimento institucional e reinserção no mercado de trabalho.
“Se for o caso, algumas pessoas temos procurado encaminhar para comunidades terapêuticas. Nós temos, por causa de uma recomendação do Ministério Público, comunidades credenciadas e aptas a receber essas pessoas”, explicou.
“Se alguma pessoa quer retornar para o seu município, a gente faz a aquisição da passagem. Além disso, há a possibilidade de escolarização e encaminhamento para o trabalho. Uma lei municipal garante que 5% das vagas de contratos terceirizados sejam destinadas a pessoas em situação de rua”, completou.
Polícia Civil
Procurado pela reportagem, o delegado Alessandro Tadeu, titular do 21º Distrito Policial, afirmou que não pode adotar providências sem uma denúncia formal. Segundo ele, o patrulhamento da área é de responsabilidade da Polícia Militar, cabendo à Polícia Civil apenas a investigação e abertura de inquéritos.
O delegado disse não ter conhecimento sobre a gravidade da situação relatada pelos moradores. Durante sua conversa por telefone como o repórter, chegou a afirmar que abriria um inquérito com base nas informações repassadas pelo jornalista— o que foi recusado pelo profissional da imprensa.

Mesmo assim, o delegado decidiu instaurar um inquérito policial e encaminhou uma intimação para que o jornalista comparecesse ao 21º Distrito Policial (DDP) a fim de prestar esclarecimentos, na condição de denunciante dos fatos relatados. A medida, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, pode configurar abuso de autoridade, já que o profissional apenas exercia seu direito de questionar a atuação da polícia diante de denúncias apresentadas pela população.
Secretaria de Segurança Pública
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que o caso envolve não apenas questões de segurança, mas também desafios sociais e de saúde pública, exigindo ação conjunta entre Estado e Município. O órgão destacou ainda que o policiamento ostensivo é realizado diariamente na região.
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