Momento favorável para Marconi
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As oposições imaginavam em 2012 que agora, no final de maio de 2014, o governador estaria nocauteado em pé. Erraram feio
Afonso Lopes
Os tempos tenebrosos, para Marconi Perillo, começaram em abril de 2012. A base governista federal, e soube-se depois, incentivada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, instalou a CPI do Cachoeira. Foram nada menos que oito longos meses de intenso bombardeio e absolutamente nenhum resultado prático. No final, nem o relatório do deputado Odair Cunha, do PT lulista, foi aprovado.
Perda de tempo e dinheiro público, mas com objetivos políticos claríssimos. O mandato do Senador Demóstenes Torres virou pó, mas a Delta, empreiteira-mor de contratos públicos no Brasil inteiro, deixaram de ser investigados. Perto da importância e abrangência financeira da então mais poderosa empreiteira do país, todo o dinheiro de Carlinhos Cachoeira era trocado. Contra Marconi, registrou-se que ele vendeu a casa onde morava para um empresário que teria ligações com Cachoeira. Foi o primeiro caso do planeta de acusação de corrupção baseado num negócio a preço de mercado, registrado no Imposto de Renda e cujo acusado vendeu e não recebeu uma casa.
A CPI se prolongou por oito meses e não apresentou qualquer prova concreta de ligação entre Marconi e Cachoeira. Os sigilos bancários quebrados também não revelaram nada de anormal. O assunto foi esvaziado aos poucos, mas requentado sempre que possível pelos opositores do governo goiano. Ainda hoje, e certamente na campanha eleitoral, o tema será usado e martelado, mas é difícil imaginar que não é lenha que virou cinzas. Virou poeira.
Ao mesmo tempo em que enfrentava os constrangimentos via CPI, Marconi adentrou o segundo ano de mandato devendo resultados administrativos impactantes. Em 2011, ao receber o governo para seu terceiro mandato, ele encontrou um cenário típico de terra arrasada: sem dinheiro nos cofres, com dívidas fluentes vencidas, parte dos salários também atrasados, enormes demandas nas escolas e estradas e um déficit potencialmente explosivo calculado na época em 2 bilhões de reais.
Tudo somado, foram provavelmente os dois anos mais complicados de toda a vida pública de Marconi, iniciada com mandato de deputado estadual em 1990. Jamais, até então, ele havia se deparado com tantas e longas tempestades. Foi muito pior do que em 1999, quando chegou pela primeira vez ao Palácio das Esmeraldas. Também não havia dinheiro, salários eram histórica e sistematicamente pagos com atrasos e os salários dos servidores eram tão insignificantes que certas categorias recebiam abonos para não receberem menos que o salário mínimo legal.
É óbvio que as oposições rejeitam a ideia de que Marconi sobreviveu às tempestades políticas do mar revolto, endireitou a proa e seguiu para ondas muito mais favoráveis. Conforme as pesquisas de todos os institutos de Goiás, Marconi chega às vésperas da definição de candidaturas em plenas condições não apenas de disputar a eleição. Ele tem chances reais de vencer mais uma vez. E, conforme o cenário pesquisado, a vitória pode acontecer já no 1º turno.
Se o grosso da militância das oposições desdenha dos números, os pensadores avaliam de maneira diferente, e com dados reais e menos emocionais. Marconi realmente saiu praticamente da lona, no final de 2012, e recuperou a imagem e a administração. Numa comparação direta e ilustrativa desse quadro, o governo dele era o menos aprovado e o mais rejeitado entre os três níveis, municipal, estadual e federal. Hoje, bate com sobras o governo de Goiânia e está com boa vantagem positiva em relação ao governo de Brasília.
Os líderes da oposição projetavam em 2012 que o estrago político-eleitoral de Marconi era irreversível para 2014. E não construíram nenhum discurso estrutural contra ele. Primeiro, bateram nas péssimas condições dos prédios públicos que abrigam os colégios. Depois, a buraqueira terrível das rodovias estaduais. Em seguida, o péssimo atendimento na rede hospitalar estadual. Esses discursos conjunturais perderam completamente o sentido, e foram abandonados. Hoje, e ainda com temática conjuntural, os opositores esfolam o tema da insegurança, que realmente tomou proporções gigantescas. Mas o problema é nacional, comum a todas as cidades e Estados brasileiros, e a população goiana tem pleno conhecimento desse fato. Em outras palavras, o Brasil é um país inseguro, e Goiás faz parte do Brasil.
Cabe à oposição criar um bom discurso estrutural para tentar a criação de um ambiente político favorável ao debate. Como, por sinal, pregam os pensadores opositores importantes. Até pela óbvia razão prática de que não existe nenhuma perspectiva a curto prazo de que o momento favorável atual de Marconi não vai receber mais anabolizantes administrativos nos próximos meses. O acelerador já está no máximo, mas ainda não foi usado o turbo.