Integrantes da base marconista e adeptos de Iris Rezende manifestam certo menosprezo com a candidatura do empresário, mas eles sabem que ela pode dar “canseira”

Cezar Santos

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Pré-candidato do PMDB ao governo estadual, Júnior Friboi: imobilização é o problema maior, segundo adversários internos e externos

Júnior Friboi está parado. Friboi “arranjou” essa ci­rur­gia da hérnia umbilical para preparar sua desistência à candidatura. Fri­boi estagnou nas pesquisas. A­fir­ma­ções como essas, e outras no mes­­mo teor, são ditas por integrantes dos partidos da base go­vernista e por peemedebistas que pre­ferem ver Iris Rezende como candidato ao governo, no lugar do empresário José Batista Júnior.

Mas a verdade é que a candidatura do magnata da carne preocupa seus adversários internos e externos. Os internos, no PMDB, por acreditarem que ele, Friboi, não terá fôlego para competir com Marconi Perillo. Por isso, preferem Iris na disputa, uma vez que as pesquisas mostram que neste momento o ex-prefeito e ex-governador é o único que tem índices competitivos.

Já pelo lado da base aliada governista, a preocupação também existe. E isso ficou evidente nos últimos dias, quando o empresário levou um petardo duríssimo: o vazamento da dívida bilionária da JBS com o fisco estadual. Na verdade, essa dívida já era do conhecimento púbico, mas foi devidamente “jogada para o alto” neste momento, estampando manchetes. No que, a rigor, nada tem demais, já que os goianos precisam mesmo saber dessas coisas. É um parâmetro para análise do eleitor. Os devedores que se expliquem, se puderem, e esse deverá ser o maior problema na campanha do milionário.

Friboi sentiu o golpe, tanto que falou exatamente isso, que foi estranho o vazamento neste momento. Alguém aí é ingênuo suficiente para achar que as coisas aconteceram por acaso? Não, não foi por acaso. Há quem avalie que o “vazamento” deveria ter sido segurado mais um tempo, para produzir estrago mais perto da eleição. Mas de táticas e estratégias eleitorais sabem os políticos e seus marqueteiros.

A candidatura de Júnior Fri­boi preocupa os governistas por um motivo simples: ela pode crescer — pouco ou muito, não se sabe — a partir do momento em que a propaganda eleitoral começar. A imagem de vencedor, de um trabalhador humilde que saiu do nada, que carregou carne nas costas e se tornou um megaempresário, tem apelo. Há dúvida se isso pode alavancar um crescimento substancial, mas que o apelo existe, existe, não há como negar.

Mas o que assusta mesmo é o recurso financeiro praticamente ilimitado que Júnior Friboi já explicitou que vai colocar na campanha. Só a Justiça eleitoral poderá dar um breque nessa gastança, e como se sabe, ela tem limitações de atuação. Será a campanha eleitoral mais cara da história goiana, talvez ombreando com a de São Paulo, Rio e Minas, os Estados mais ricos e mais populosos.

Friboi vai inflacionar a campanha como nunca visto. Aliás, já in­flacionou. Os pretensos parceiros veem o empresário como um cifrão a ser explorado. Tem gente leiloando apoio. Por isso, Friboi é temido como adversário. Lutar contra esse poderio financeiro não é fácil para ninguém, porque obriga a gastar também, mesmo que em níveis menores (pela menor disponibilidade orçamentária), mas acima do que estaria previsto.

É verdade que, por enquanto, Júnior Friboi não ostenta índices animadores nas pesquisas eleitorais. A mais recente, do Instituto Fortiori, pode ter sido um tanto decepcionante no staff friboizista. Acre­ditava-se que ele teria uma melhora substancial após Iris Rezende ter anunciado sua saída do processo. No entanto, o empresário continua atrás de Vanderlan Cardoso (PSB) no levantamento espontâneo, empatado com Antônio Gomide (ambos com 2% das intenções de votos). Mas Friboi pelo menos cresceu um pouco em relação a levantamentos anteriores. Isso anima as hostes friboizistas, já que o índice de indecisos é muito grande.

Na pesquisa estimulada do Fortiori, o empresário também está atrás de Vanderlan, mas somente 1 ponto, o que é positivo, já que o socialista começou a campanha bem antes — na verdade, desde 2010, quando foi candidato ao governo e ficou em terceiro lugar.

Friboizistas garantem: não estão parados

Não tem nada de parado, como dizem adversários externos e internos de Júnior Friboi. Pelo menos é o que garante o deputado Wagner Siqueira, um dos apoiadores do empresário. Segundo Vaguinho, não tem nada parado na pré-campanha de Friboi. “Estamos trabalhando, estamos conversando com os partidos, com os prefeitos, não tem nada de parado, estamos movimentando.”

Wagner Siqueira afirma que Júnior Friboi, já no dia seguinte à cirurgia, na quarta-feira, 14, atendeu várias ligações telefônicas de partidários. “Ele só parou mesmo no dia da operação. Júnior sabe que este momento é importante para as articulações, para a formação das alianças. E mesmo que tenha de ficar convalescendo por uns dez dias, ele continuará fazendo os contatos, as articulações”, diz, lembrando que o telefone é uma importante ferramenta nesse momento.

Sobre uma freada no trabalho após Iris Rezende ter anunciada seu afastamento da pré-campanha, Wagner Siqueira diz que isso não ocorreu. “Não houve ne­nhum dia que Júnior Friboi não tenha dado 30 a 40 telefonemas a dirigentes partidários, líderes, dirigentes de entidades de classe. Júnior não parou, pelo contrário, está acelerado. O trabalho está fluindo, não há dúvida”, afirma o deputado.

As palavras de Wagner Siqueira fazem eco ao que diz o ex-deputado Marcelo Melo, coordenador da campanha do empresário peemedebista no Entorno do Distrito Federal. Baseado em Luziânia, Melo diz que o trabalho continua a todo vapor naquela região. Como prova de que o trabalho não parou, ele lembra que há poucos dias Friboi conversou com Iris Rezende, e que essas conversações continuam também com o pessoal ligado ao ex-prefeito.

Também o prefeito de Poran­gatu, Eronildo Valadares, atesta a continuidade do trabalho da ala friboizista. Ao contrário de estar pa­ra­do, como parte da imprensa tem noticiado nos últimos dias, Ero­nildo assegura que Friboi está articulando nos bastidores de forma consistente e atuante. “Estamos na pré-campanha, por isso há o cuidado para que ele não seja penalizado por fazer antecipação de campanha eleitoral. Ele está atuante e vai crescer nas pesquisas”, diz.

O prefeito de Porangatu afirma que a maior missão do pré-candidato peemedebista neste momento é de atrair Iris Rezende à disputa pela vaga ao Senado. “Sabemos do potencial que Iris tem ao Senado e seria bom tê-lo no palanque juntamente com Antônio Gomide na vice de Friboi. Essa é a chapa dos sonhos.”

Convalescência nada!

Na quinta-feira, 15, o empresário Júnior Friboi deu uma demonstração de que está com todo o ânimo para a campanha. Ele chegou praticamente carregado a um evento do partido Solidariedade na Câmara de Vereadores de Goiânia, – suspendendo o repouso dois dias depois de passar pela cirurgia para corrigir uma hérnia de umbigo.

O gesto tem um significado simbólico: mostrar a todos, principalmente a Iris Rezende e seus aliados, que ele, Friboi, não vai desistir de ser o candidato do PMDB ao governo estadual.

O pré-candidato chegou à Câmara amparado pelo presidente estadual do Solidariedade, deputado Armando Vergílio — por sinal, cogitado pelo PT para ser vice de Antônio Gomide!


Iris diz que não marcha com endinheirado

Ex-prefeito Iris Rezende: “Disputar eleição marcando passo  com alguém com dinheiro seria negar tudo o que defendi”
Ex-prefeito Iris Rezende: “Disputar eleição marcando passo com alguém com dinheiro seria negar tudo o que defendi”

Na quarta-feira, 14, Iris Re­zen­de participou de um debate político na Faculdade Araguaia, quando falou muito de política. Entre o mais interessante que ele externou estão críticas explícitas à gastança na política, dizendo que não acredita que o alto gasto com campanha seja a melhor saída para a disputa eleitoral. “Eu sempre me limitei em todas as minhas campanhas a gastar somente o essencial, eu acho um crime nesse país ganhar a eleição aproveitando da pobreza do povo.” Uma direta a Júnior Friboi, sem dúvida.

No mesmo sentido, mas ainda pior para Friboi, no sentido eleitoral, é que Iris disse que não estará com o empresário na campanha: “Se um dia eu fosse disputar uma eleição, marcando passo com alguém com dinheiro, eu estaria negando tudo o que eu defendi. Se por ventura eu venha disputar eleições no futuro vai ser sempre uma eleição simples e humilde”.

Ou seja, se o empresário Júnior Friboi se impuser dentro do PMDB como candidato ao governo, não terá o grande líder do partido como cabo eleitoral.

Outra revelação interessante feita pelo ex-prefeito, e que suscitava dúvidas a quem acompanha a política, diz respeito ao fato de ele inicialmente ter dito que não seria candidato, para depois anunciar que era. Segundo Iris, ele se declarou pré-candidato para dar uma satisfação à posição do PT, levada oficialmente a ele por quatro petistas — Paulo Garcia, Olavo Noleto, Mauro Rubem e Carlos Soares —, que teriam dito: “O PT só apoia candidato a governador pelo PMDB se for você. Se for outro não apoiamos. E você tem de decidir antes do Gomide renunciar, porque depois que ele renunciar, mesmo que seja você, aí não tem como”.

Iris Rezende anunciou a pré-candidatura antes da renúncia de Antônio Gomide. Alguém faltou com a palavra.