Mesmo com problemas, Friboi tem potencial para crescer
17 maio 2014 às 13h57
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Integrantes da base marconista e adeptos de Iris Rezende manifestam certo menosprezo com a candidatura do empresário, mas eles sabem que ela pode dar “canseira”
Cezar Santos
Júnior Friboi está parado. Friboi “arranjou” essa cirurgia da hérnia umbilical para preparar sua desistência à candidatura. Friboi estagnou nas pesquisas. Afirmações como essas, e outras no mesmo teor, são ditas por integrantes dos partidos da base governista e por peemedebistas que preferem ver Iris Rezende como candidato ao governo, no lugar do empresário José Batista Júnior.
Mas a verdade é que a candidatura do magnata da carne preocupa seus adversários internos e externos. Os internos, no PMDB, por acreditarem que ele, Friboi, não terá fôlego para competir com Marconi Perillo. Por isso, preferem Iris na disputa, uma vez que as pesquisas mostram que neste momento o ex-prefeito e ex-governador é o único que tem índices competitivos.
Já pelo lado da base aliada governista, a preocupação também existe. E isso ficou evidente nos últimos dias, quando o empresário levou um petardo duríssimo: o vazamento da dívida bilionária da JBS com o fisco estadual. Na verdade, essa dívida já era do conhecimento púbico, mas foi devidamente “jogada para o alto” neste momento, estampando manchetes. No que, a rigor, nada tem demais, já que os goianos precisam mesmo saber dessas coisas. É um parâmetro para análise do eleitor. Os devedores que se expliquem, se puderem, e esse deverá ser o maior problema na campanha do milionário.
Friboi sentiu o golpe, tanto que falou exatamente isso, que foi estranho o vazamento neste momento. Alguém aí é ingênuo suficiente para achar que as coisas aconteceram por acaso? Não, não foi por acaso. Há quem avalie que o “vazamento” deveria ter sido segurado mais um tempo, para produzir estrago mais perto da eleição. Mas de táticas e estratégias eleitorais sabem os políticos e seus marqueteiros.
A candidatura de Júnior Friboi preocupa os governistas por um motivo simples: ela pode crescer — pouco ou muito, não se sabe — a partir do momento em que a propaganda eleitoral começar. A imagem de vencedor, de um trabalhador humilde que saiu do nada, que carregou carne nas costas e se tornou um megaempresário, tem apelo. Há dúvida se isso pode alavancar um crescimento substancial, mas que o apelo existe, existe, não há como negar.
Mas o que assusta mesmo é o recurso financeiro praticamente ilimitado que Júnior Friboi já explicitou que vai colocar na campanha. Só a Justiça eleitoral poderá dar um breque nessa gastança, e como se sabe, ela tem limitações de atuação. Será a campanha eleitoral mais cara da história goiana, talvez ombreando com a de São Paulo, Rio e Minas, os Estados mais ricos e mais populosos.
Friboi vai inflacionar a campanha como nunca visto. Aliás, já inflacionou. Os pretensos parceiros veem o empresário como um cifrão a ser explorado. Tem gente leiloando apoio. Por isso, Friboi é temido como adversário. Lutar contra esse poderio financeiro não é fácil para ninguém, porque obriga a gastar também, mesmo que em níveis menores (pela menor disponibilidade orçamentária), mas acima do que estaria previsto.
É verdade que, por enquanto, Júnior Friboi não ostenta índices animadores nas pesquisas eleitorais. A mais recente, do Instituto Fortiori, pode ter sido um tanto decepcionante no staff friboizista. Acreditava-se que ele teria uma melhora substancial após Iris Rezende ter anunciado sua saída do processo. No entanto, o empresário continua atrás de Vanderlan Cardoso (PSB) no levantamento espontâneo, empatado com Antônio Gomide (ambos com 2% das intenções de votos). Mas Friboi pelo menos cresceu um pouco em relação a levantamentos anteriores. Isso anima as hostes friboizistas, já que o índice de indecisos é muito grande.
Na pesquisa estimulada do Fortiori, o empresário também está atrás de Vanderlan, mas somente 1 ponto, o que é positivo, já que o socialista começou a campanha bem antes — na verdade, desde 2010, quando foi candidato ao governo e ficou em terceiro lugar.
Friboizistas garantem: não estão parados
Não tem nada de parado, como dizem adversários externos e internos de Júnior Friboi. Pelo menos é o que garante o deputado Wagner Siqueira, um dos apoiadores do empresário. Segundo Vaguinho, não tem nada parado na pré-campanha de Friboi. “Estamos trabalhando, estamos conversando com os partidos, com os prefeitos, não tem nada de parado, estamos movimentando.”
Wagner Siqueira afirma que Júnior Friboi, já no dia seguinte à cirurgia, na quarta-feira, 14, atendeu várias ligações telefônicas de partidários. “Ele só parou mesmo no dia da operação. Júnior sabe que este momento é importante para as articulações, para a formação das alianças. E mesmo que tenha de ficar convalescendo por uns dez dias, ele continuará fazendo os contatos, as articulações”, diz, lembrando que o telefone é uma importante ferramenta nesse momento.
Sobre uma freada no trabalho após Iris Rezende ter anunciada seu afastamento da pré-campanha, Wagner Siqueira diz que isso não ocorreu. “Não houve nenhum dia que Júnior Friboi não tenha dado 30 a 40 telefonemas a dirigentes partidários, líderes, dirigentes de entidades de classe. Júnior não parou, pelo contrário, está acelerado. O trabalho está fluindo, não há dúvida”, afirma o deputado.
As palavras de Wagner Siqueira fazem eco ao que diz o ex-deputado Marcelo Melo, coordenador da campanha do empresário peemedebista no Entorno do Distrito Federal. Baseado em Luziânia, Melo diz que o trabalho continua a todo vapor naquela região. Como prova de que o trabalho não parou, ele lembra que há poucos dias Friboi conversou com Iris Rezende, e que essas conversações continuam também com o pessoal ligado ao ex-prefeito.
Também o prefeito de Porangatu, Eronildo Valadares, atesta a continuidade do trabalho da ala friboizista. Ao contrário de estar parado, como parte da imprensa tem noticiado nos últimos dias, Eronildo assegura que Friboi está articulando nos bastidores de forma consistente e atuante. “Estamos na pré-campanha, por isso há o cuidado para que ele não seja penalizado por fazer antecipação de campanha eleitoral. Ele está atuante e vai crescer nas pesquisas”, diz.
O prefeito de Porangatu afirma que a maior missão do pré-candidato peemedebista neste momento é de atrair Iris Rezende à disputa pela vaga ao Senado. “Sabemos do potencial que Iris tem ao Senado e seria bom tê-lo no palanque juntamente com Antônio Gomide na vice de Friboi. Essa é a chapa dos sonhos.”
Convalescência nada!
Na quinta-feira, 15, o empresário Júnior Friboi deu uma demonstração de que está com todo o ânimo para a campanha. Ele chegou praticamente carregado a um evento do partido Solidariedade na Câmara de Vereadores de Goiânia, – suspendendo o repouso dois dias depois de passar pela cirurgia para corrigir uma hérnia de umbigo.
O gesto tem um significado simbólico: mostrar a todos, principalmente a Iris Rezende e seus aliados, que ele, Friboi, não vai desistir de ser o candidato do PMDB ao governo estadual.
O pré-candidato chegou à Câmara amparado pelo presidente estadual do Solidariedade, deputado Armando Vergílio — por sinal, cogitado pelo PT para ser vice de Antônio Gomide!
Iris diz que não marcha com endinheirado
Na quarta-feira, 14, Iris Rezende participou de um debate político na Faculdade Araguaia, quando falou muito de política. Entre o mais interessante que ele externou estão críticas explícitas à gastança na política, dizendo que não acredita que o alto gasto com campanha seja a melhor saída para a disputa eleitoral. “Eu sempre me limitei em todas as minhas campanhas a gastar somente o essencial, eu acho um crime nesse país ganhar a eleição aproveitando da pobreza do povo.” Uma direta a Júnior Friboi, sem dúvida.
No mesmo sentido, mas ainda pior para Friboi, no sentido eleitoral, é que Iris disse que não estará com o empresário na campanha: “Se um dia eu fosse disputar uma eleição, marcando passo com alguém com dinheiro, eu estaria negando tudo o que eu defendi. Se por ventura eu venha disputar eleições no futuro vai ser sempre uma eleição simples e humilde”.
Ou seja, se o empresário Júnior Friboi se impuser dentro do PMDB como candidato ao governo, não terá o grande líder do partido como cabo eleitoral.
Outra revelação interessante feita pelo ex-prefeito, e que suscitava dúvidas a quem acompanha a política, diz respeito ao fato de ele inicialmente ter dito que não seria candidato, para depois anunciar que era. Segundo Iris, ele se declarou pré-candidato para dar uma satisfação à posição do PT, levada oficialmente a ele por quatro petistas — Paulo Garcia, Olavo Noleto, Mauro Rubem e Carlos Soares —, que teriam dito: “O PT só apoia candidato a governador pelo PMDB se for você. Se for outro não apoiamos. E você tem de decidir antes do Gomide renunciar, porque depois que ele renunciar, mesmo que seja você, aí não tem como”.
Iris Rezende anunciou a pré-candidatura antes da renúncia de Antônio Gomide. Alguém faltou com a palavra.