Mercado exige adequações e melhor gestão para enfrentar crise
26 novembro 2016 às 10h59

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Empresários buscam parcerias e inovação para manter negócio aquecido em momento difícil do cenário econômico

Augusto Diniz
Leopoldo Moreira Neto, de 54 anos, mantém a Gráfica e Editora Formato em funcionamento há mais de duas décadas. O negócio familiar tem 27 anos de existência e é tocado ao lado da esposa Mirian Mansur, de 50 anos, e da filha, a estudante de Engenharia de Produção, Isabela Mansur, de 22 anos.
Quando abriu a Formato, Leopoldo mantinha a gráfica basicamente com convites de casamento. “Hoje os convites representam 3% do faturamento da empresa”, conta o fundador. Do tempo de atividade da empresa, mais da metade dele foi conduzido com ajudas e parcerias do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Goiás (Sebrae Goiás).
“Essa parceria já dura mais ou menos 15 anos. Atualmente estamos desenvolvendo o nosso site com consultoria do Sebrae, que custeia 70% do trabalho e nós pagamos 30% do valor do serviço.” Leopoldo destaca a importância desse trabalho junto às atividades oferecidas pela entidade em seu negócio.
Das muitas consultorias que lembra ter feito com o Sebrae, uma das principais foi o diagnóstico dos pontos fracos e aqueles que poderiam ser melhor trabalhados na gestão da gráfica. “Várias dessas ações foram determinantes para o sucesso da Formato”, afirma Leopoldo.
Quando a gráfica precisou criar um padrão de imagem, Leopoldo contou com a ajuda para criar uma nova identidade visual da empresa. “Comecei a trabalhar com a imagem da logo da empresa igual à do material distribuído. Isso ajudou muito.”
O treinamento dos funcionários, além da participação em palestras, somou na profissionalização do negócio familiar. “Às vezes, as empresas não sabem valorizar o que essas consultorias e cursos têm a oferecer”, destaca. Leopoldo lembra que uma consultoria particular sairia caro para a empresa custear.
Começo de tudo
Leopoldo detalha o início da empresa, há 27 anos, quando a esposa Mirian cursava a faculdade de Direito e ele era funcionário em um banco. A Gráfica e Editora Formato, que fica na Rua das Hortências, no Parque Primavera, em Aparecida de Goiânia, começou as atividades com convites de casamento.
Dos convites de casamento, o negócio chegou à impressão de jornais, folders e embalagens. “O próximo passo é incrementar a parte de embalagens”, relata Leopoldo. Ele, que prefere tratar a crise econômica como um momento de “transformação” pelo qual o País atravessa, diz acreditar que o empresário tem que encontrar alternativas.
“O Estado está se industrializando cada vez mais. Há um mercado grande para ser explorado com as embalagens.” Esse olhar para as oportunidades foi despertado de uma parceria antiga entre o Sindicato das Indústrias Gráficas do Estado de Goiás (Sigego) e o Sebrae. Outro parceiro de Leopoldo em suas atividades na Formato é o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Goiás (Senai Goiás).
O que mudou
Leopoldo lembra que antes não havia essa quantidade de cursos, palestras e apoios oferecidos tão facilmente ao pequeno empresário. “Quando eu comecei a gráfica, era preciso aprender sozinho apanhando para tocar a empresa. Hoje você pode usar esses apoios, que te dão normativas para errar menos no negócio.”
O fundador da Formato afirma que as ferramentas de auxílio às empresas para conduzir o negócio de forma mais séria e profissional ajudaram a empresa a avançar. “A mortalidade do micro e pequeno empresário é cada vez menor com tantas oportunidades de aprendizado oferecidas de forma tão facilitada como temos hoje.”
Do ar condicionado à carne

Rodrigo de Melo tem 42 anos e é chef de cozinha formado desde 2009. Mas sua atividade comercial era outra: os condicionadores de ar. Sua empresa entrou em crise e ele resolveu encerrar as atividades. Por meio de uma consultoria de mercado para ver como andava o segmento da alimentação, Rodrigo entrou em contato com o Sebrae e viu ali uma oportunidade de negócio.
Em março deste ano, o chef de cozinha abriu a Macellaio Gastronomia, que oferece bufê especializado em carnes assadas e no bafo, além de consultoria. “Eu descobri que, mesmo com a crise, a área de alimentação ainda oferecia muita coisa a ser explorada”, observa.
Por meio das redes sociais, como o Instagram (@macellaiogastronomia) e o Facebook (facebook.com/macellaiogastronomia), Rodrigo começou a oferecer um serviço diferente que começou a render parcerias com bares e restaurantes. Na sexta-feira, 25, o chef realizou mais uma edição do Macellaio na Calçada, que aconteceu no Glória Bar e Restaurante.
Do nome Macellaio, que significa “açougueiro” em italiano, o chef passou a trabalhar com carnes e churrasco com estrutura própria. Das parcerias, que já incluíram outros estabelecimentos da capital, como o Devassa Goiânia, Velvet36 Rock’n Roll Bar e o Rocket 07 Pub & Restaurante, Rodrigo passou a trabalhar com um cardápio de carnes que inclui, por exemplo, o bife ancho defumado, o cumpim macellaio, que é preparado em baixa temperatura, e uma linguiça especial exclusiva.
Retorno
Das dificuldades com a empresa de condicionador de ar, Rodrigo encontrou na Macellaio Gastronomia a oportunidade de oferecer algo diferente. “O mercado recebeu com muita satisfação a chegada da empresa.” Uma das satisfações de Rodrigo no novo negócio foi conseguir trazer para Goiânia, em setembro, o 1º Festival de Carnes na Brasa.
Com dez diferentes tipos de corte de carne, Rodrigo explica que traz o seu serviço de bufê o trabalho com cortes dianteiros da carne — no Brasil, é mais comum o consumo de cortes traseiros. “Busquei trazer um diferencial nesse trabalho com carnes”, ressalta.
Negócio familiar se organiza para chegada da terceira geração no comando

Há 47 anos no mercado, a Reicol diversificou bastante suas atividades ao longo do tempo. Toda essa história começou em 1970 com Rubens Bernardes, que hoje tem 77 anos. Mas a atividade comercial familiar teve seu pontapé em 1956, quando, aos 15 anos, Rubens começou a trabalhar para a Máquinas Suzuki S/A como office-boy na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo (SP).
Quando os japoneses donos da fábrica viajavam, era Rubens quem cuidava do comercial da empresa, aos 17 anos. Depois de muita insistência, conseguiu a autorização para trabalhar como vendedor com 50% de comissão no Mato Grosso, em uma região que outros profissionais não conseguiram se dar bem. “Ele vendeu em 22 dias o que valeria por 17 anos de salário dele”, conta o filho de Rubens, Rubens Luiz Bernardes, de 53 anos.
Depois do Mato Grosso, Rubens foi representar a empresa do interior paulista no Paraná, em Maringá. Do Paraná para Goiás, quando veio com a família para Goiânia em 1970 e começou a trabalhar como representante comercial. Foi quando a Reicol Máquinas foi fundada.
A história de Rubens à frente da empresa durou até 1985, quando passou o controle da Reicol aos filhos. Na segunda geração de gestão da empresa, foi criado o Grupo Reicol, que passou a ter as atividades de comércio e distribuição de máquinas e peças, representação comercial, agropecuária, hoteleira, de eventos, automação e serviços.
A atividade industrial começou em 2008, quando foi aberta a Reicol Artefatos de Borracha. Outra fábrica do grupo é a Reicol Indústria de Peças. As duas, na divisão do grupo entre os irmãos em 2015, ficaram com Rubens Luiz Bernardes. “Eu já estou preparando a transição para a terceira geração da família, que são os meus filhos”, explica Rubens Luiz.
Nova geração
Rubens Bernardes Neto, de 26 anos, trabalha no departamento comercial da Reicol. Mariana Bueno Bernardes, de 24, é do departamento administrativo e de faturamento da empresa. Os dois são filhos de Rubens Luiz. E serão eles que irão continuar o trabalho, em breve, de gestão das indústrias Reicol.
Um trabalho que contou com atividades de capacitação financeira e reestruturação da marca em parceria com o Sebrae. Assim como nos casos da Macellaio e da Formato, a Reicol precisou ajustar seus negócios à realidade do mercado. “Nesse momento de crise, nós temos um problema de não conseguir produzir mais. E há uma demanda de mercado de mais produção”, explica Rubens Luiz.
Com uma crise a ser enfrentada, o responsável pelas indústrias Reicol reconhece que é preciso mudar para continuar no mercado. “Para o meu concorrente, a diferença que eu tenho para oferecer é o serviço”, afirma.
Rubens Luiz destaca o que ele considera primordial para sobreviver à crise. Em primeiro lugar, ele orienta que a empresa tenha foco. Para isso, é preciso traçar um objetivo. “É preciso procurar ser o melhor possível. Tem que ter uma empresa enxuta, ágil, aliada à tecnologia e que ofereça um serviço de qualidade.”
E parte desta meta depende da motivação da equipe de funcionários. “E tivemos a oportunidade de reaprender com o Sebrae a fazer o negócio e fazer melhor. Meu pai tinha o 4º ano do Grupo. Eu estudei até o 2º Grau. Encontrar parceiros para orientar melhor a gestão foi de grande importância.”
Balanço das atividades
Parte da atividade de micros e pequenos empresários no Estado contou em 2016 com parcerias e atividades que receberam a ajuda do Sebrae em diversas áreas. E os trabalhos com outras entidades incluíram o governo, como as seis edições do Governo Junto de Você, com aplicação de R$ 12 mil que possibilitaram atender 600 pessoas.
Ao lado do governo estadual, o Sebrae também participou de 43 edições do Ação Cidadã, com investimento de R$ 86 mil para realizar 1.075 atendimentos. O Plano de Negócios para Empreendedores da Agência Goiana de Fomento (Goiás Fomento) também contou com a parceria do Sebrae, com 2,3 mil pessoas atendidas em 92 edições, nas quais foram aplicados R$ 110 mil. Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg) e Sebrae se uniram no Goiás Mais Competitivo.
Das atividades do Sebrae, o Agentes Locais de Inovação (ALI) atendeu 2.450 empresas. O Negócio a Negócio – Agentes de Orientação Empresarial chegou ao número de 36 mil negócios atendidos. As consultorias tecnológicas do Sebraetec tiveram 2 mil empresas incluídas nas atividades, assim como foram realizadas 15 mil horas de consultas gerenciais.
Ainda nas atividades de 2016 do Sebrae estão 20 mil cursos presenciais, 14 mil de ensino a distância, 11 mil oficinas do Empreendedor Individual, 118 mil pessoas atendidas com diferentes informações prestadas, 136 mil orientações empresariais, 22 mil participantes em palestras, seminários para 12,6 mil pessoas, 520 participantes em missões e caravanas, além de feiras com total de 300 participantes.
O Sebrae esteve presente nos Vapt Vupts Empresariais da Juceg e da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) com mais de 7 mil atendimentos. A entidade participou de feiras em Anápolis, Ceres, Rialma, Mineiros e outras cidades, firmou parcerias com a Associação Goiana de Municípios (AGM), Associação de Jovens Empresários (AJE), esteve em convenções, congressos e encontros classistas. As atividades do Sebrae Goiás chegaram a outros Estados.
A entidade ofereceu cursos como Crescendo e Aprendendo para 9 mil alunos, Despertar para 84.495 estudantes. O Sebrae ainda prestou consultoria para regulamentação do Estatuto Estadual da Micro e Pequena Empresa (Lei Estadual número 117 de 2015), abriu novas agências em Itumbiara, Ipameri, Iporá, Mineiros e Piranhas, além de realizar eventos em parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e outros órgãos.
Avaliação

Igor Montenegro, diretor superintendente do Sebrae, faz boa avaliação do trabalho realizado junto aos micro e pequenos empresários
De acordo com o diretor superintendente do Sebrae Goiás, Igor Montenegro, é papel do Sebrae atuar na busca de cumprir sua missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e fomentar o empreendedorismo para fortalecer a economia goiana. “Atuamos de norte a sul, de leste a oeste no Estado, por meio de 12 escritórios regionais e cerca de 40 agências abertas ao público, além do atendimento pela internet. Ampliamos nossa rede de parceiros e pudemos ampliar a oferta de serviços para os pequenos negócios goianos.”
Montenegro destaca que as micro e pequenas empresas totalizam 95% dos negócios formalizados no Brasil e em Goiás esse percentual chega a 98%. “Elas são responsáveis pela geração de 50% da mão-de-obra empregada e por 27% de tudo o que é produzido no País. Nos últimos quatro anos, as micro e pequenas empresas geraram 73.515 postos de trabalho formal em Goiás, enquanto as médias e grandes empresas reduziram seus quadros funcionais em 39.633 vagas”, observa.
A atuação do Sebrae, como afirma o diretor superintendente, ficou focada neste ano na oferta de ações, atividades e serviços que contribuíssem para que esses empresários conseguissem enfrentar a crise. “Para tanto, a instituição colocou toda sua estrutura física, equipe técnica, de consultores credenciados à disposição das mais de 400 mil micro e pequenas empresas goianas.”
Soluções gratuitas
O Sebrae lançou o Virando o Jogo, um pacote de produtos e serviços gratuitos para donos de pequenos negócios. Ele está disponível na internet. “O pacote foi criado para dar um suporte no empresário e aproveitar as oportunidades que surgem na crise. Enquanto muitos choram, outros vendem lenços, como diz o dito popular”, afirma Montenegro.
A expectativa, de acordo com Montenegro, é que em 2017 a agenda do Sebrae Goiás seja iniciada com uma programação de verão “totalmente voltada para o atendimento e a capacitação dos empreendedores goianos”.