Lúcia Vânia e Wilder Morais: quem vai disputar a 2ª vaga?
27 maio 2017 às 10h30

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Os dois senadores da base governista estão em plena pré-campanha
para a reeleição e centram fogo no municipalismo para se cacifarem

Nas chamadas eleições gerais, realizadas simultaneamente em todo o país, são eleitos o presidente e o vice-presidente da República, os governadores e seus vices, senadores, deputados federais e estaduais. Na eleição geral do ano que vem serão renovados dois terços do Senado, ou seja, cada Estado vai eleger dois senadores – lembrando que na eleição passada o primeiro terço foi eleito, e em Goiás deu Ronaldo Caiado (DEM).
Obviamente, todos os partidos poderão lançar até dois nomes, mas para a grande maioria das siglas, fazer isso seria um autêntico “tiro n’água”, sem efeito prático nenhum, pela absoluta falta de condições de sucesso. Eleição para o Senado – como a de governador — exige candidato com fôlego financeiro e uma estrutura partidária pelo menos razoável, que assegure alianças para proporcionar capilaridade nos municípios.
Ao que consta, o governador Marconi Perillo (PSDB) será postulante da base governista a uma das vagas à senatória. Se for candidato, realmente – há possibilidade de sair para uma disputa nacional –, dificilmente não será eleito. Pelo cacife do tucano, portanto, restaria apenas UMA vaga na disputa.
Em Goiás, os senadores Lúcia Vânia, do PSB, e Wilder Morais, do PP, são candidatos naturais à reeleição. Ambos são da base governista e aí é que mora o problema: dois nomes para uma vaga apenas. Nesse contexto, duas perguntas permeiam a questão:
— Qual dos dois reúne maiores e melhores condições para ganhar a indicação na chapa majoritária da base aliada?
— Há um que conte com a simpatia da maioria dessa base aliada?
Nas conversas de bastidores as opiniões se dividem.
Há quem diga que Wilder Morais ganhou favoritismo na base quando Marconi Perillo disse que votará no empresário – foi em março, num momento em que a senadora testava a paciência do governador, por conta da proposta de criação de uma secretaria de habitação para substituir a agência que administra projetos na mesma área (Agehab), sob influência do deputado federal Marcos Abrão Roriz (PPS), seu sobrinho; depois, os ânimos serenaram.
Mas também há quem diga que Lúcia Vânia tem um histórico político tão denso, e atuação tão destacada no Senado em favor de Goiás, que dispensa considerações, cabendo a ela a preferência natural para a reeleição.
Pelo sim, pelo não, está claro que tanto Lúcia Vânia quanto Wilder Morais estão trabalhando para estar em boas condições quando chegar o momento certo de definir a chapa. Eles querem a vaga.
Como dois corpos não ocupam o mesmo espaço, nos bastidores levantam-se duas hipóteses alternativas que podem acontecer a partir dos desdobramentos políticos: Lúcia se lançar candidata fora da base aliada governista; Wilder sair candidato a deputado federal.
Wilder Morais
O empresário entrou na política como suplente de Demóstenes Torres, na eleição de 2010. Eleito Demóstenes, Wilder foi convidado por Marconi Perillo a assumir a Secretaria de Infraestrutura do Estado. Com a cassação do mandato de Demóstenes Torres pelo Senado Federal, o empresário deixou a secretaria para assumir como senador efetivo de em julho de 2012.
Wilder, que era praticamente um neófito na política até herdar o cargo de senador, cercou-se de uma equipe experiente, tomou gosto pela coisa e se lançou de forma arrojada, até surpreendente para muitos. Se começou meio tímido, parece que o contato com as personalidades políticas nacionais o entusiasmaram, tornou-se amigo de líderes de vários Estados.
Não custa lembrar, Wilder está nesse trabalho há quatro anos. E não caiu na tentação de se isolar em Brasília. O senador do PP dá atenção às bases. A pré-campanha à reeleição vai de vento em popa. Ele está fazendo palestras, reunindo-se com correligionários. Na semana passada, ele esteve em Porangatu, em Goiânia (três lugares). Conversa muito com os aliados do governo e faz muita articulação de bastidores.
Nos últimos meses, estiveram com senador em Goiânia pelo menos 202 prefeitos, de todos os partidos. Nas últimas semanas, em reuniões temáticas, que são encontros menores, conversou com mais de 70 prefeitos. “Mas prefeito é apenas uma figura, porque Wilder está se reunindo também com vereadores, com deputados estaduais, mais de uma vez. Além disso, ele leva esse pessoal para reivindicações em Brasília, nos ministérios, onde vai buscar recursos”, diz um auxiliar.
Em relação a emendas, a assessoria do senador do PP contabiliza que foram beneficiados 180 municípios. As maiores emendas, ultimamente, foram para obras em Trindade, Senador Canedo, Aparecida de Goiânia, e a própria capital.
Há na assessoria do senador uma tática deliberada de não dar muita publicidade ao que Wilder tem feito, até para não “entregar” aos adversários suas articulações. Mas reitera-se que tem recebido gente de todos os partidos, mesmo adversários do governo e da base aliada que ele integra. O senador convida todos a ir em seu escritório político em Goiânia, no Setor Sul, a qualquer momento, sem precisar marcar. “Quem chega já pode entrar, não precisa agendar, e é recebido imediatamente”, diz um assessor.
Wilder Morais também recebe correligionários em sua casa no Setor Marista, mas o local em que mais recebe gente é em sua fazenda, a Toca da Orca, no município de Nerópolis. Lá, além dos assessores, até a mãe do senador, dona Angélica, ajuda na boa recepção aos aliados e candidatos a aliados do senador.
Lúcia Vânia
A senadora tem tradição de trabalho forte em todo o Estado, desde que se elegeu deputada federal (primeira mulher em Goiás), o que continuou quando foi eleita para a Câmara Alta (também a primeira goiana senadora).
E o trabalho dela tem foco principal nos municípios. Essa atuação municipalista por excelência é balizada em sua trajetória desde que foi ministra da Ação Social (governo FHC), quando criou vários programas sociais para o País. “Vem daí essa inclinação municipalista da senadora, que muitos dizem ser, mas apenas da boca pra fora, o que ela exerce na prática, seja na forma como conduz suas emendas, via projetos ou em programas que ela trabalha juntos aos ministérios”, afirma um assessor.
Segundo o auxiliar, isso dá credibilidade à senadora para buscar mais um mandato, que é importante para a política de Goiás. “E é isso que os prefeitos de todos os partidos, incluindo PMDB e PSDB, têm falado a ela. Lucia é apartidária quanto se trata de ajudar os municípios, faz o que é possível no sentido de buscar emendas e recursos. Daí essa capilaridade e aceitação. Lúcia soma votos para o Senado tanto na oposição quanto na base.”
A senadora tem se concentrado mais em Brasília em função da grave crise política, e também por ter assumido a presidência da importante Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado. Isso lhe tem tomado muito tempo, mas ela tem reservado todas as segundas-feiras (e quase todas as sextas-feiras também) para receber dezenas e dezenas de lideranças, de todos os partidos, isso das 7 da manhã às 11 horas da noite, em seu escritório em Goiânia.
Esse trabalho foi bastante acentuado nos últimos 30 dias – sim, é a pré-campanha para a reeleição. O escritório político de Lúcia Vânia tem se tornado um ponto de encontro de lideranças do interior em Goiânia.
Nos últimos dias, a senadora esteve com líderes de Palmeiras de Goiás, Niquelândia, Cristalina, Silvânia, Luziânia, Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto, Porangatu, Itumbiara, Lagoa Santa, Aporé, Bonfinópolis e Trindade. São agendas extensas que a senadora atende em Goiânia.
Não é diferente em Brasília, em seu gabinete, onde Lúcia atende principalmente prefeitos do Nordeste goiano. Na semana passada, muitas pessoas de Cavalcante, de Posse e outros municípios. Não é apenas conversa política, mas também ajuda na busca de recursos para atender esses municípios.
Lúcia não esquece as demandas do Estado, e está sempre buscando recursos, além de atuar de forma firme nos interesses de Goiás, como na questão da Celg, quando se desdobrou, ao lado do governador Marconi Perillo, para o bom desfecho na questão da federalização e depois privatização da empresa, o que garantiu investimentos na área energética.
“Tem gente que diz que ela quer ser eleita na ‘sombra’ de Marconi, mas não é isso. Ambos têm sombra e luz próprias e sempre foram parceiros. Quando Marconi foi eleito deputado estadual em 1990, o foi na ‘sombra’ de Lúcia Vânia, que andou Goiás inteiro com ele. Agora, um precisa do outro, um complemente o outro, eles juntos têm total afinação. Separados, eles desafinam”, diz o correligionário, que acompanha os dois políticos há mais de 30 anos.