Iris Rezende disse para Romário Policarpo: “Um dia você vai ser prefeito de Goiânia”
19 fevereiro 2023 às 00h00

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Na década de 1960, a revista “Realidade”, uma das melhores do País, enviou um correspondente a Goiás para relatar o surgimento de um novo líder político. A reportagem recebeu o título de “Nasce um líder”. Tratava-se de Iris Rezende. Pouco antes de ser cassado, circulavam santinhos com os dizeres: “Bom pra 70”. Seria candidato a governador. Com os direitos políticos suspensos, recolheu-se a um escritório de advocacia. Em 1982, foi eleito governador. Em 1989, quase foi candidato a presidente da República. Em 1990, foi eleito governador pela segunda vez. Depois, foi eleito senador e prefeito de Goiânia. Uma trajetória vitoriosa.

Uma imagem que retrata um professor e um aluno, sentados juntos à margem de um rio, ambos olhando para o mesmo horizonte. A fotografia registra um instante de silêncio que diz muito: uma atmosfera fraterna entre mentor e o discípulo.
Essa foi uma das fotos que o presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Romário Policarpo (Patriota), usou para homenagear o ex-governador de Goiás e ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (a figura mais ilustre do MDB na história do Estado) quando ele morreu, em 9 de novembro de 202, aos 87 anos.
Na data em que os goianos amanheceram em luto pela perda de uma das maiores lideranças políticas do Estado — equiparável a Pedro Ludovico, o fundador de Goiânia —, muitos foram às redes sociais com suas fotos junto ao ex-prefeito de Goiânia. Mas poucas eram tão carregadas de significado quanto a que Romário Policarpo usou em homenagem. Iris Rezende foi “um” (talvez “o”) mentor político do vereador, que demonstra ter absorvido e assimilado uma das características mais notáveis do emedebista: a habilidade de exímio articulador político, ou seja, a capacidade de agregar forças díspares.
Não é por ironia do destino que Romário Policarpo está em seu terceiro mandato de presidente da Câmara de Goiânia. Esta é uma posição que tanto para chegar, quanto para se manter nela, é preciso habilidades políticas, que o vereador não esconde quem lhe ensinou. “Tive a honra e o privilégio de ser vereador, vice-prefeito e presidente da Câmara de Goiânia com Iris prefeito. Um aprendizado inestimável, para a política e para a vida”, registra um dos textos postados nas redes sociais por Romário Policarpo.
O início da relação fraternal entre Iris Rezende e Romário Policarpo foi testemunhada por outros grandes líderes da política goiana, como o caso do ex-senador Mauro Miranda. Em 2007, já em meio do segundo mandato de Iris Rezende na capital, o ex-parlamentar era um dos auxiliares da administração, e assim pôde presenciar a proximidade entre um jovem guarda municipal e o chefe do Executivo.

Romário Policarpo tinha acabado de assumir a função de guarda municipal e cumpria suas tarefas no Paço Municipal. Mauro Miranda relata que, com apenas 20 anos, Romário era o responsável por abrir o portão da garagem para Iris Rezende e, numa dessas passagens, Iris, ao vê-lo, perguntou quem era aquele garoto. “Ele, meio tímido, confirmou ser da guarda municipal e foi ali que o Iris disse que era para se apresentar no dia seguinte para trabalhar no gabinete do prefeito. No outro dia Romário estava lá antes das 6 horas da manhã, antes de Iris chegar”, lembra o ex-senador. Mauro Miranda, por sinal, foi um dos melhores amigos e um dos maiores aliados de Iris Rezende.
Mauro Miranda narra que Romário passou a ficar na antessala do prefeito, tendo acesso a todos que aguardavam para se reunir com Iris. “Ele, ainda jovem, ficou muito atento a tudo que se passava na recepção. Todas as pessoas que chegavam, ele conversava e se inteirava de muitos assuntos. Ele conseguiu se aproximar do prefeito e entender que a política é feita junto às pessoas. Isso ele aprendeu”, conta. O ex-senador aponta que o jovem guarda tinha um olhar muito atento e sagaz, o que chamou a atenção do prefeito.
Com o passar do tempo, a proximidade de Iris e Romário aumentou ao ponto do jovem assumir a função de motorista do prefeito em algumas circunstâncias. Mauro Miranda diz crer que esses foram os momentos de maior aproximação entre os dois. “Na política se fica de olho em todo mundo para saber quem é mais preocupado com a sociedade e que tem uma visão política. É nessas escolhas que surgem novas lideranças. Foi assim que eles passaram a conversar mais.”
Mauro Miranda recorda que foi nessa época que Iris disse a Romário: “Um dia você vai ser prefeito de Goiânia”. O relato é confirmado por outro amigo e auxiliar do prefeito, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) Paulo Ortegal. É ele quem confirma que a entrada do jovem guarda municipal na política foi incentivada pelo prefeito. Iris disse que o começo de sua trajetória deveria ser como presidente do sindicato dos Guardas Municipais.
Seguindo as orientações de seu mentor, Romário se candidatou a presidente da Associação da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia (ASGCMG). Essa pode ser considerada a sua primeira disputa eleitoral, e com sucesso. Foi eleito com quase 80% dos votos. Em 2012 ele disputou para vereador mas não venceu; no entanto, já estava na política e apadrinhado pelo maior líder político goiano daquele momento.
Em 2016, filiado ao PTC, Romário conquistou 3.185 votos — sendo eleito vereador de Goiânia. Nos primeiros dois anos na Casa colocou em prática o que assimilou durante sua convivência com Iris. Articulou, agregou, fez a verdadeira política e, em 2018, o vereador em primeiro mandato, chegou à presidência do Legislativo da Capital. O homem que há pouco anos era motorista do prefeito de Goiânia e ouvia seus conselhos, passou a ser o vice-prefeito da cidade — Iris Rezende foi eleito em 2016 tendo como seu vice o Major Araújo, que renunciou ao cargo, fazendo com que o presidente da Câmara Municipal passasse a ser o primeiro na ordem sucessória do cargo de prefeito.
“Nessa época, Iris e Romário tiveram uma relação de muita cordialidade e troca de experiências. Não houve nenhum estremecimento. Pelo contrário. Eles atuaram juntos para a aprovação da Reforma da Previdência, que foi um marco para a prefeitura”, frisa Paulo Ortegal. “Presenciei algumas vezes Iris falando: ‘Você na Câmara está tendo uma grande oportunidade de ser um líder e exercer uma função boa para cidade. Você pode se o futuro prefeito desta capital’”.

Em conversas com colegas e auxiliares mais próximos, Romário diz que em razão do legado de Iris e da proximidade com o ex-prefeito, ele se sente duplamente responsável por Goiânia. Na retomada dos trabalhos da Câmara Municipal, após o feriado de carnaval, o presidente da Casa promete adotar um discurso mais focado nas demandas estruturais e gestão da capital.
Quem foi testemunha da proximidade entre Iris e Romário, garante que eles possuem similaridades na compreensão de políticas públicas necessárias para Goiânia. Mauro Miranda aponta que Romário aprendeu a política de agregar lideranças. Paulo Ortegal salienta que Iris ensinou muito sobre a paixão que Goiânia desperta e os cuidados de que necessita. “Não posso dizer que Romário representa o legado do Iris Rezende, mas esse legado está presente na vida política do Romário”, pontua o ex-senador.
Romário é um político que já tem presente, pois é vereador e vice-prefeito de Goiânia. Mas o futuro, se persistir no caminho adequado, pode ser ainda mais auspicioso. Há quem postule que, no momento, há um vazio político na capital. E, como se sabe, não há vácuo muito longo na política. Quem se posicionar agora, falando a “língua” da sociedade, tende a ocupá-lo o mais rápido possível.