Gestão ambiental e comunidade dão o tom

28 junho 2014 às 12h25

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Realizada pelo Sebrae, a Feira do Empreendedor ressalta cuidados com o meio ambiente

Yago Rodrigues Alvim
Sustentabilidade é qualidade de sustentável, o que suporta, apoia; protege, favorece e auxilia. É o que alimenta, nutre, explica um antigo Dicionário Aurélio. Hoje, sustentabilidade ganhou mais significados. Ampliou-se na perspectiva de continuidade da vida, manutenção do mundo, do que salva os filhos e os filhos dos filhos: as gerações futuras.
A agilidade do dia a dia, a quantidade de informações, por diversas infovias, anúncios estatelados em telas, muros, calçadas, nas ruas e em casa, mostra a velocidade que a contemporaneidade atingiu. São diversos crescimentos. Amontoamentos, até. A velocidade propôs benefícios e, ainda, cobriu a terra, espalhando casas em expansões de cidades e até num crescimento vertical.
São mais pessoas. Mais vidas que requerem o todo. O todo necessário para produzir, correção: viver. E, assim: mais lixo. O lixo não se retém em seu sentido único. O lixo de algumas destruições, desde as próprias subjetividades, que se atordoam, até a própria natureza verde que se extingue, pinta em verde. Ainda assim, não se nega o bom das construções, como brincou um intervencionista urbano: veracidade é ver a cidade.
E como crescer, sobreviver, nesse “hoje” e ainda preocupar com o verde das árvores, que faz visitas em estações? Empreender conscientemente. Já empreender é propor-se, tentar, é realização, cometimento: empresa, ainda com o Aurélio. E consciente requer cuidados, por isso o auxílio. A seccional goiana do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO) disponibiliza expertises para quem quer empreender sustentavelmente.
“Sustentabilidade, responsabilidade social e desenvolvimento são temas presentes no cotidiano das microempresas e dos pequenos negócios. Para contribuir neste caminhar do empreendedor, o Sebrae dispõe de informações, ações de capacitação, consultoria e projetos voltados para o pleno atendimento do empresário”, destacou o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-GO, Marcelo Baiocchi Carneiro.
Seja por meio de projetos, como o Sebraetec, por meio de ações no Centro Sebrae de Sustentabilidade, por práticas internas, adotadas na administração do Sebrae ou, agora, de forma ainda mais ampla, com a Feira do Empreendedor 2014 (realizada de 31 de julho a 3 de agosto), o Serviço traz um plano de gestão ambiental e de responsabilidade social. O propósito, ressaltou Baiocchi, além de atender o cliente Sebrae, é ampliar a acessibilidade e a participação efetiva da comunidade na Feira, reduzindo e compensando os impactos ambientais gerados. “É um momento para tornar a cultura do empreendedorismo sustentável mais conhecida e próxima do público”, disse.
Com a aplicação de ecotécnicas, acompanhamento e medição dos indicadores ambientais, a coleta seletiva de lixo e outras ações, a Feira do Empreendedor é uma vitrine para o empreendedor conhecer, vivenciar e conferir em que o Sebrae pode contribuir para o sucesso de um empreendimento. “Em virtude de um mercado tão heterogêneo, exigente e ávido por inovações é que o Sebrae expande sua expertise para proporcionar, ao empresário, as melhores alternativas que propiciem uma boa gestão, oferecendo conhecimento e alternativas de ações que impactem cada vez menos o meio ambiente e cada vez mais o sucesso das empresas.
Cora e Adveg
A Feira ainda propõe ações para o desenvolvimento empresarial e para despertar o empreendedorismo de mulheres e homens. No evento, a sustentabilidade é pensada em dois vieses: na gestão ambiental e no relacionamento com a comunidade. No último viés, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher Cora Coralina, ligada à Secretaria da Mulher, participará com suas mulheres, que recebem apoio na instituição, na aprendizagem de expertises. Serão ministrados cursos para que elas possam empreender e, até, se registrarem como Micro Empreendedor Individual. Uma contribuição a mais para que superem a violência doméstica cometida contra elas e, assim, deem um bom caminho a suas vidas.

O Centro fica próximo ao local da realização da Feira, o Centro de Convenções. A gestora em sustentabilidade Helen Camargo de Almeida diz que a Feira do Empreendedor se exemplifica a outros eventos, pois além dos benefícios maiores, como a troca de conhecimento e outros, também pensa nos desgastes que provoca, ambientais ou por ser um reduto. Por isso, um exemplo: dialoga com a comunidade próxima a Feira e cuida dos resíduos gerados durante os quatro dias.
A Associação dos Deficientes Visuais do Estado de Goiás (Adveg), que também fica próxima ao Centro de Convenções, participará da Feira do Empreendedor. Patrícia Sousa Oliveira, presidente da entidade, explicou como será essa presença. Foi apresentada à associação a temática principal, sua proposta empreendedora. “O que isso significa para Adveg? Nós temos associados com deficiência visual e buscamos estimular o empreendedorismo”, afirmou.
A possibilidade de sentarem com representantes de bancos, que fomentam, e discutir a linha de crédito para o empreendedor com deficiência é uma ação ressaltada por Patrícia, que expande a toda deficiência. Outra ação é a conversa com consultores para explicar e vislumbrar futuras possibilidades empresariais. “É uma solução para a problemática do mercado de trabalho das pessoas com deficiência. Por mais que tenhamos a Lei n° 8213, que assegura um porcentual de vagas, não é tão simples empregar. Isso passa por quebra de paradigma, tanto do empregado como do empregador, ou pela acessibilidade do ambiente de trabalho que, muitas vezes, dificulta a empregabilidade”, explicou Patrícia, que ainda considerou a vontade de empreender e não de trabalhar para alguém.
A Adveg participará de uma mesa-redonda, onde se discutirá o empreendedor mais amplamente. Há um nicho de mercado propício e é preciso alertar os empresários para o fato de que existem esses consumidores com deficiências. Essa é a primeira parceria mais sistematizada entre o Sebrae e Adveg. Em 19 de setembro de 1981, a associação foi criada.
É uma entidade de abrangência estadual, com mais de 2.700 associados. Porém, sublinhou Patrícia, esse número não revela a quantidade de pessoas com deficiência no Estado: “Eu digo que há muito, muito mais”. Por isso, alertar.
A presidente considera dois pontos importantíssimos: “Quando o Sebrae assume essa responsabilidade, ele reafirma seu cuidado social e que o empreendedor com deficiência também é um cliente do Sebrae. São ações, que de forma sinérgica, contribuem com as duas partes. Nós potencializamos o empreendedorismo e contribuímos com a participação social dessas pessoas. Quando o Sebrae senta e conversa conosco e ambas as partes colocam suas situações, nós encontramos um caminho, o que é muito positivo.” Sobre o tema da Feira, Patrícia concluiu que falar em sustentabilidade é olhar com olhos de águia, com diversas possibilidades e que agregar a associação é expandir e considerar o todo.
Sustentabilidade Empresarial
O coordenador de Inovação e Tecnologia do Sebrae-GO, Rodson Marden Witovicz, expandiu essa realidade empresarial que se encontra na preocupação com as gerações futuras. Rodson explica que as micro e pequenas empresas representam em torno de 99% das empresas do Brasil. Elas movimentam um quarto do Produto Interno Bruto (PIB). A população continua crescendo e, juntamente, o consumo e o poder de compra aumentam.
Para acompanhar todo esse “crescer” é preciso produzir mais para conseguir atender as demandas existentes e, com isso, há um impacto ambiental e social. Nessa cadeia, aumenta também o consumo dos recursos naturais e geram-se mais resíduos que poluem e degradam a natureza, o meio ambiente.
Enfim, contrapôs uma necessidade: “é preciso ser sustentável”. Considerando todos os fatos que apresentou, Rodson pontuou que “não é mais possível produzir e fazer negócios se não for de maneira sustentável”. Ele lembra que uma empresa para se tornar competitiva, atualmente, tem que ser sustentável, afinal já existem leis que regulamentam e fiscalizam as empresas para que atuem com essas diretrizes. Segundo ele, é uma busca contínua em atender as necessidades atuais sem comprometer as necessidades das gerações futuras.
Assim, o que é sustentabilidade empresarial? Rodson explica que, para o Sebrae-GO, a sustentabilidade é e representa oportunidade, um aumento de competitividade e inovação nas e para as micro e pequenas empresas. Considerações: primeiro, há o microempreendedor individual e o pequeno produtor rural, cujo enquadramento descreve os que faturam até R$ 60 mil ao ano –– pessoa que trabalha por conta própria e se legaliza como pequeno empresário optante pelo Simples Nacional; pode possuir um único empregado e não pode ser sócio ou titular de outra empresa.
Segundo, a microempresa –– uma sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário, devidamente registrados nos órgãos competentes –– descreve os que faturam acima de R$ 60 mil até R$ 360 mil ao ano. Terceiro e último, a empresa de pequeno porte, a pequena empresa, cujo faturamento é de até R$ 3,6 milhões ao ano. Os valores têm como base as receitas de mercado nacional. Ou seja, esses enquadramentos apresentam que são seres humanos/cidadãos em uma dinâmica contemporânea veloz, que faturam e movimentam as cidades.
Mais pontualmente, explicou Rodson, sustentabilidade empresarial não é modismo, o “correto” que se banalizou em críticas vagas, até. Empresarialmente é uma forma de gestão que terá que ser adotada por todos que quiserem manter suas empresas, independentemente do porte ou segmento de atuação.
“O empresário precisa entender que quando ele adota uma gestão sustentável não é apenas a questão financeira, matéria-prima, eficiência produtiva que estão em questão; há também a questão do não gerenciamento dos riscos ambientais, que pode causar acidentes, infringir normas e leis ambientais, levar a empresa a ter restrição a créditos e investimentos bancários, perda de mercado e de competitividade, em seu segmento”, complementa o coordenador.
Ações
O Sebrae propõe aos empreendedores uma gestão sustentável, com a adoção de ações e soluções que suportem, apoiem; protegem, favorecem e auxiliam. Rodson exemplifica quais seriam essas ações e soluções: “Uma empresa que tem, em seu planejamento, ações em trabalhar sua eficiência energética, diminuir e tratar os resíduos produzidos por ela, trabalhar com fornecedores de produtos, que se preocupa com questões ambientais, utiliza produtos e embalagens biodegradáveis; ou, ainda, que trabalha a reciclagem de produtos, que utiliza máquinas e equipamentos que consomem menos energia ou poluam o menos possível; tudo isso se enquadra dentro de ações e soluções que podem ser implantadas dentro de uma gestão sustentável”.
O objetivo que toda empresa procura alcançar é ter uma atuação regulamentada dentro das exigências da lei, ser competitiva dentro do seu segmento e ter rentabilidade e lucro para gerar riquezas e poder, ainda assim, cumprir com seus compromissos, disse o coordenador. Dessa forma, todos os envolvidos ganham, toda a sociedade se beneficia e a sustentabilidade se tornou um dos requisitos para esse lucro.

Rodson apresenta alguns desses benefícios, mais especificamente, como o menor consumo de água, pois há o devido uso racional; o menor consumo de energia, pela redução de desperdícios; a menor exploração de matérias-primas e, assim, sua menor utilização, pois se racionaliza o seu uso; geram-se menos sobras e resíduos, por as empresas adequarem-se ao uso de insumos, por exemplo; trabalha-se a reciclagem, reutilizando e vendendo, quando possível; e se gasta menos com o controle da poluição.
Isso já foi comprovado, afirmou. As empresas que cuidam dos seus passivos ambientais e praticam uma gestão sustentável tem ganhos, pois os custos são reduzidos. Assim, quando amenizam os valores, as empresas se tornam mais competitivas e têm a possibilidade de aumentar sua competitividade mercado afora, ganhar novos consumidores que, a cada dia, estão mais exigentes e conscientes das responsabilidades ambientais de cada um, tanto dos governantes, empresários e consumidores.
Portanto, o que falta para que as empresas percebam, mais efetivamente, a necessidade de se cuidar do todo para que se mantenha, se sustente? Rodson acredita que um dos maiores paradigmas que precisa ser quebrado é que sustentabilidade e a inovação é algo caro e somente para grandes empresas. Procedimentos muitas vezes simples podem levar a empresa a inovar de forma sustentável e torná-la mais rentável. O Sebrae-GO atua nesse desafio. Leva palestras, orientações, capacitações, oficinas, seminários e, principalmente, consultorias em tecnologia e inovação, tratando do tema e sensibilizando empreendedores sobre a importância de se adequar às legislações vigentes e manter suas empresas inovando de forma sustentável para que se mantenham competitivas e ganhem mercados. Afinal, é uma forma de participar do todo e acrescentar, de forma consciente.
Soluções Sustentáveis
Gestora do Sebrae-GO, Karoline Otaviano Alexandre Souza explica algumas práticas sustentáveis que são propostas e desenvolvidas na e além da sede do Serviço, em Goiânia. O primeiro projeto é um espaço interno, que se chama “Ambiente do Conhecimento”, que fica dentro da unidade de Inovação e Competitividade. É um espaço físico onde se trabalha gestão do conhecimento com empregados e consultores. O projeto contou com uma revitalização de uma biblioteca. “A sensação é estar em outro lugar que foge do azul e branco do Sebrae”, contou.
A socialização do conhecimento parte do layout do espaço, pois há um acervo de livros e as pessoas ali interagem em atividades, potencializando o projeto. Patrícia destaca que o ambiente foi todo pensando e trabalhado inicialmente com uma perspectiva sustentável. “É um projeto de referência para todo Sistema Sebrae, inclusive a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), fez um trabalho sobre ‘Modelos de Excelência em Gestão’, e esse projeto é referência, por ser uma prática inovadora.”
Como trabalhamos as questões de sustentabilidade nesse ambiente? – indaga a gestora, que explica: “Todo nosso mobiliário é sustentável. Trabalhamos madeira em bambu, de demolições e, no mobiliário, há placas que informam os servidores sobre seu aspecto de reutilização”. A solução é um exemplo de gestão empresarial que difunde, entre os trabalhadores, noções e a importância de ser sustentável.
Os servidores que tem o Ambiente do Conhecimento como lugar de convivência se conscientiza de diversas formas: o uso de papel reciclado, para impressões; agenda-calendário, que informa sobre o dia da árvore, por exemplo; lixeiras específicas para vidro, plástico, papel e metal; distribuição de material com questões mais técnicas, como eficiência energética, tratamento de resíduos sólidos e outras. É um espaço coletivo, de troca.
Esse ano foi formado um Comitê de Sustentabilidade, onde se discute um projeto de ações práticas para o Sebrae-GO. Do Mato Grosso, onde há um Centro de Referência em Sustentabilidade, veio uma consultora que compartilhou expertises aprendidas com a experiência de formação do Centro. Assim, o projeto é espalhar, por toda a seccional goiana do Sebrae, ir além Ambiente do Conhecimento, as informações e ações de sustentabilidade. “Economizamos energia, não deixamos máquinas ligadas, aproveitamos melhor a luz do dia”, exemplificou Karoline sobre os benefícios.
Aplicativo
Outra solução foi proposta: um aplicativo foi desenvolvido. O portfólio de soluções é um livro, um manual, com fichas técnicas utilizadas pelos consultores e gestores que ofertam aos clientes do Serviço. A revisão do conteúdo era anual e os portfólios eram reimpressos. Esse ano, o material é online, por esse aplicativo. O que facilita, afinal não há necessidade de gráfica ou o uso de um material obsoleto. Ainda não foi disponibilizado na plataforma iOS, da Apple, mas até o final de julho já estará disponível nessa plataforma.
Foi feita uma pesquisa de avaliação interna e, além do benefício sustentável, o cliente final pode baixar o aplicativo. Ou seja, a informação se democratiza. “Além da inovação, pensamos se está sendo uma prática sustentável, se aproveitamos bem o recurso, se evitamos o desperdício”, concluiu a gestora.