Friboi prepara a hora da vingança contra Iris

14 junho 2014 às 14h19

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Empresário não saiu completamente do processo eleitoral deste ano, e está articulando a melhor forma de se vingar do tombo que o líder lhe deu

Afonso Lopes
O megaempresário Júnior Friboi nunca escondeu que seu sonho de consumo pessoal é governar o Estado de Goiás. Desde os tempos ele em que frequentava a seara tucana de Marconi Perillo já se sabia que o objetivo dele era se tornar inquilino do Palácio das Esmeraldas. Inviabilizado ali, migrou inicialmente para o aliado PTB e, depois, desembarcou de vez no campo oposicionista através do PSB.
No ano passado, percebeu que para enfrentar uma disputa pesadíssima contra o exército aliado estadual, só o PSB não seria suficiente. Assim, procurou o único grande partido com capilaridade suficiente em todo o Estado para bater de frente com a estrutura governista, o PMDB.
Para muitos observadores, esse desembarque não foi exatamente bem sucedido por causa do atalho que ele usou, buscando respaldo da cúpula nacional do PMDB e não as bênçãos do chefe da célula regional do partido, Iris Rezende. Ao fazer isso, ele comprou passe livre nacional e encrenca séria regional.
Retirada
Ao entrar no PMDB, inúmeros setores do partido viram no empresário uma chance real de questionar a posição de Iris no comando partidário e, principalmente, vencer a mão de ferro com a qual ele governou os destinos do partido nas últimas décadas. Friboi era o figurino que faltava para que os descontentes, que não são poucos, pudessem ir para batalha em campo aberto contra o irismo.
O problema é que a liderança de Iris não foi construída gratuitamente. Além de continuar sendo o peemedebista com maior penetração no eleitorado estadual, ele é um autêntico mestre do jogo político. Não foi a toa que ele botou pra correr, derrotados, tantas lideranças extremamente expressivas no passado, como Mauro Borges e Henrique Santillo (já falecidos), Irapuan Costa Júnior e Nion Albernaz. Os expurgos iristas não se deram apenas pela força do “trator”, mas também pela competência do seu operador.
Friboi foi quem mais exigiu de Iris Rezende em todas as disputas internas já travadas nos últimos 30 anos de história do PMDB goiano. Talvez até pelo fato de que Júnior, um estreante, não tenha jogado com patrimônio político pessoal, além de um nível determinação pessoal raro. Ou seja, como politicamente Júnior Friboi não tinha nada, pode ser ousado e determinado mais do que qualquer outro. E deu um trabalhão danado a Iris Rezende.
O jogo não acabou
Quando Friboi assinou carta renunciando à sua condição de pré-candidato do PMDB, fechou seu escritório político e se mandou para exílio em uma de suas fazendas, no norte do Estado, os iristas festejaram pra valer o que se imaginou ser o fim da sangrenta batalha interna. A festa não durou tanto tempo assim, e a realidade chegou batendo pesado às portas da candidatura de Iris Rezende ao governo.
Friboi está no jogo. E se antes ele não tinha que se preocupar com prejuízo no patrimônio eleitoral por não ter nenhum, agora é que se sente absolutamente livre por não ter nem mesmo as possíveis amarras de interesses imediatos junto ao irismo. Ou seja, antes ele precisava usar luvas de pelica numa batalha velada e não declarada contra os iristas porque sabia que dependeria da enorme popularidade de Iris durante a campanha. Agora, ao contrário, a derrota total de Iris passou a ter um valor prático para ele: se o irismo não tiver o poder em 2018, Friboi disputará posições em condições de igualdade com os demais jogadores.
A estratégia de Friboi
Ainda não está completamente clara a estratégia que Júnior Friboi adotará no seu combate ao irismo. Ou, pelo menos, essa estratégia não está devidamente externada, mas sabe-se, pelos primeiros movimentos dele, que o seu grupo inicial de apoio será reforçado na campanha. Friboi se retirou do processo interno do PMDB, mas “não deixará o seu grupo na chapada”, como disse esta semana um dos primeiros a defender a candidatura do empresário.
Não é somente isso. Durante a semana, comentou-se que o deputado estadual Francisco Gedda, presidente do PTN goiano e integrante do grupo friboizista original, poderia abrir mão de sua candidatura à reeleição para compor chapa, como candidato a vice-governador, com o PSB de Vanderlan Cardoso. Se isso vai se confirmar ou não, é indiferente do ponto de vista do caráter revelador de, pelo menos, parte da estratégia que Friboi vai adotar: reforçar uma candidatura que, pelo seu perfil de atuação, tenderia a avançar mais sobre o eleitorado de Iris Rezende do que sobre o eleitorado da base governista.
Enfim, e isso já parece estar bastante claro, Friboi prepara-se para estabelecer uma frente político-eleitoral que represente, no fundo, a pá de cal sobre o irismo, o que atenderá aos dois objetivos que ele mantém: zerar completamente o processo de 2018 e devolver a derrota imposta por Iris Rezende. Para Júnior Friboi, é a hora da vingança. E a artilharia que não pode ser usada antes por ele, agora está com uso liberado. l