Foco será na economia ou chegou a vez da segurança?

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Com a intervenção no sistema de Segurança Pública no Rio de Janeiro, analistas políticas entendem que o discurso eleitoral este ano será puxado pela segurança, e não para a economia
Afonso Lopes
A chegada dos soldados e oficiais do Exército brasileiro no Rio de Janeiro repercutiu intensamente no Estado, e vem contaminando as atenções gerais, chegando ao ápice de chamar a atenção de alguns dos principais analistas do mercado eleitoral. Para boa parte desses especialistas em comportamento do eleitor, o principal tema em discussão será a segurança pública, e não a economia.
Faz realmente sentido. Apesar dos dois anos seguidos da pior recessão da história do país, a economia começou um lento retorno à normalidade do crescimento. Antes rebelde pro alto, a inflação agora insiste em permanecer abaixo do teto mínimo, mesmo com aumentos de preços mais elevados de setores importantes como energia elétrica e combustíveis. No geral, a verdade é que praticamente todos os demais preços estão subindo em ritmo nitidamente menor e menos acelerado do que até recentemente. O câmbio, com o dólar – sempre o principal referencial – estabilizado em patamares civilizados, tem contribuído para manter a inflação baixa. Ao mesmo tempo, e como consequência direta dessa queda e também da lentidão na recuperação do PIB, o que também impacta negativamente no emprego, as taxas referenciais de juros despencaram enquanto o saldo da balança comercial bate recordes sucessivos mês após mês.
É natural portanto que a economia perca espaço e importância de fato nos debates eleitorais, e a bagunça geral do país em matéria de segurança pública dispare nas atenções de todos. É claro que isso não invalida os sérios problemas estruturais da economia brasileira, e seria muito ruim se o tema passasse batido na campanha eleitoral. Da forma como estão as coisas, não vai se recuperar plenamente tão cedo. E a uma ameaça bastante séria que não escapará da explosão se o ritmo se mantiver: a dívida pública crescente. Apesar disso, será a eleição da segurança e não da economia.
Mágicas
Como sempre acontece, candidatos-Mandrake (o nome de um famoso ilusionista de antigas histórias em quadrinhos) vão surgir com propostas mágicas e soluções instantâneas para a área de segurança. O eleitor deve se preparar para ouvir todo tipo de promessa nesse sentido, e ficar atento quanto à viabilidade da esmagadora maioria delas.
Infelizmente, não existem mágica e instantaneidade para solucionar um problema como esse. O Brasil foi extremamente relapso nos últimos quase 40 anos com a área de segurança, negligenciando praticamente tudo, da atualização das leis aos quantitativos policiais, passando pela construção e manutenção do sistema penitenciário. Apenas na recomposição salarial houve avanço. Até meados da década de 1990, as policiais ganhavam salários miseráveis. Em Goiás, por exemplo, soldados da PM e policiais civis em início da carreira ganhavam menos que o salário mínimo, e os contra-cheques vinham com um adicional para complementar o que ficava faltando.
Aumentar os efetivos policiais é importante para se tentar melhor controle na segurança pública? Sem dúvida nenhuma. O problema é quantificar exatamente a necessidade com a disponibilidade de caixa. Além disso, policiais precisam estar nas ruas, e isso implica necessariamente em aumento da frota de viaturas e os gastos de manutenção geral e combustíveis. Candidatos que prometerem com nítido exagero certamente não terão, caso eleitos, como cumprir o prometido.
A mais completa solução, e que não tem nada de magia e nem visa mudar a situação da noite para o dia, sendo assim absolutamente exequível, é unir os esforços de todas as instâncias de governo, como ocorre no SUS, que apesar de muitos pesares se mantém como o maior sistema de saúde pública do planeta. E essa seria apenas uma medida para livrar o país da piora progressiva em matéria de segurança. Solução completa é bem mais complexa. Fora isso, o restante será somente tema de campanha eleitoral.