Fantasma do isolamento assombra Vanderlan
07 novembro 2015 às 13h56
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Na disputa à Prefeitura de Goiânia, empresário terá de contar com muito mais que Lúcia Vânia para não amargar novamente o 3º lugar
Cezar Santos
As qualidades do socialista Vanderlan Cardoso como administrador já foram sobejamente provadas e comprovadas. Seja nas lides empresariais, como empreendedor de sucesso em Goiás e outros Estados, seja como prefeito de Senador Canedo por dois mandatos, quando tirou o município do ostracismo a que estava entregue e o colocou na ribalta de uma pequena-grande cidade, condizente com sua importância econômica e política.
Não foi por outra razão que Vanderlan Cardoso se viu animado a disputar o governo do Estado, o que fez nos pleitos de 2010 e 2014. E nos dois ele ficou em terceiro lugar, ou seja, nem sequer disputou o segundo turno.
Na primeira vez, Vanderlan assumiu de peito aberto a tese de terceira via. Entendia ele que o eleitorado goiano estava cansado da dicotomia entre PSDB e PMDB e daria oportunidade a um nome fora dessas duas conjunções. Não foi o que se viu. Marconi Perillo e o peemedebista Iris Rezende foram ao segundo turno, com vitória do tucano. Vanderlan ficou em terceiro, mas julgou que os cerca de 500 mil votos que recebeu meio que confirmavam a tese de cansaço do eleitor com a polarização.
Por isso, Vanderlan foi novamente para a disputa em 2014. Só que desta feita — como reza o ditado, gato escaldado tem medo de água fria —, o socialista não assumiu a conversa de terceira via. Apostou mais em uma aglutinação de forças, o que não aconteceu antes, para bater os adversários.
O socialista se mexeu, foi para o PMDB na vã ilusão de ser o candidato do partido, até levar uma rasteira de Iris Rezende. Depois filiou-se ao PSB, assumindo o comando da sigla para ser o candidato ao governo. Mas o agora socialista continuou isolado.
Lembro que na campanha, entrevistei Vanderlan sobre a dificuldade do PSB para formar chapas e ele não admitiu o problema. Pelo contrário, afirmava que naquela altura já foi tinha apresentado nome para o Senado (o procurador federal Aguimar Jesuíno, indicação da nascente Rede) e que também tinha alguns nomes para a vice, ao contrário de outras coligações.
Na formação da chapa de deputados, o ex-prefeito dizia que os três partidos de sua aliança (PSB, PSC e PRP) já somavam 123 pré-candidatos, com 18 para deputado federal. Nessa contabilidade, Vanderlan dizia que eram mais de 150 nomes, o que provaria a tranquilidade na formação da chapa. “Então não temos dificuldades. Aliás, vejo outros partidos com essa dificuldade, não é o nosso caso. A chapa mais fácil de fazer deputado federal hoje é a nossa.”
Contados os votos, a aliança de Vanderlan não fez sequer um deputado federal. Entre os eleitos para a Assembleia, apenas um ou dois eram ligados a ele. Com tal peso na campanha, o resultado não poderia ter sido outro: Vanderlan ficou novamente em terceiro lugar, tendo de assistir de camarote, de novo, Marconi Perillo e Iris Rezende disputarem o segundo turno, que mais uma vez foi vencido pelo tucano.
É verdade que Vanderlan deu um pouco de “azar” na campanha, principalmente quando o PSB perdeu o candidato à Presidência, Eduardo Campos. Esperava-se, com razão até certo ponto, que Campos pudesse puxar votos para Vanderlan na medida em que subisse nas pesquisas, o que vinha relativamente acontecendo até o trágico voo que caiu em Santos, matando o pernambucano.
Verdade também que o ex-prefeito de Senador Canedo articulou mais ações para fortalecer sua coligação. E aí, mais um pouco de “azar”, quando fatores muito externos a sua vontade impediram, por exemplo, que Ronaldo Caiado se coligasse ao PSB. Todos lembram: a ex-senadora Marina Silva, que estava como eminência parda de Eduardo Campos, impedida ela mesma de se candidatar pela Rede, vetou Caiado.
Se o agropecuarista-médico estivesse na coligação de Vanderlan, a história poderia ter sido outra. Lembrando que depois do veto humilhante de Marina Silva a Ronaldo Caiado, o democrata disputou o Senado em aliança com o PMDB de Iris Rezende. Não há dúvida de que Caiado agregaria densidade eleitoral a Vanderlan Cardoso, mas…
Este longo introito de exatos 11 parágrafos serve para levantar um questionamento e fazer considerações: Vanderlan Cardoso vai sofrer novamente o problema do isolamento se disputar a eleição no ano que vem para a Prefeitura de Goiânia?
Parece que não, pelo menos não no grau em que ocorreu nas duas campanhas passadas. Por enquanto, as coisas estão caminhando bem para o socialista. Ele já conta com um nome forte na sua aliança, a senadora Lúcia Vânia, que deixou o ninho tucano e mudou-se de mala e cuia para o PSB. E Lúcia, sabe-se, não foi sozinha. De cara, ela levou o PPS, presidido por seu sobrinho Marcos Abrão, deputado federal. Por aí se vê que a aliança em torno do PSB de Vanderlan já ficou mais robusta.
Além do nome, Lúcia tem grande capacidade de trabalho. Se entrar de cabeça na campanha de Vanderlan, pode angariar apoios. Neste momento, a senadora é o grande trunfo com que Vanderlan Cardoso está contando para 2016. Não é pouco, mas não é tudo. Ele precisará de mais. Esse mais é o que não se sabe exatamente o que seja.
Diante de adversários duros que serão bancados pelo PMDB de um lado, e pela base aliada marconista de outro — sem esquecer que o PT também tem razoável densidade eleitoral em Goiânia —, Vanderlan pode novamente ficar como uma “terceira via”. E terceira via, como ele já sentiu na própria carne, até aqui não tem dado camisa para ninguém em Goiás.
Ele só terá chances reais — e lógico-matemáticas também, é claro — se tirar do segundo turno um dos contendores com mais estrutura que ele. Para isso, certamente não poderá desperdiçar muita energia e atenção com a eleição em Senador Canedo. E para piorar as coisas, entrou o fator Luiz Bittencourt na jogada. O ex-deputado federal será o candidato do PTB em Goiânia. São um candidato e um partido capazes de fazer barulho.
Portanto, para Vanderlan Cardoso, sem essa de terceira via.
PS. Na eleição para a Câmara de Vereadores de Goiânia no ano que vem, há uma real possibilidade de recorde de votos na história do parlamento goianiense. Essa possibilidade fatalmente acontecerá se o radialista Jorge Kajuru (PRP) disputar o pleito.