Emoção e violência: por dentro das torcidas organizadas de Goiás

28 maio 2023 às 00h00

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O jornalista esportivo da Band News Goiânia, Cleber Ferreira, faz um relato sobre o ocorrido com o atacante do Real Madrid e da Seleção Brasileira Vinicius Junior no último domingo, 21, em jogo do seu time contra o Valência pelo Campeonato Espanhol. Durante o jogo a torcida organizada do Valência, que já é conhecida por atos racistas, não poupou o brasileiro de ataques dessa natureza.
“Infelizmente não é o primeiro caso de manifestações racistas no futebol espanhol. É uma demonstração asquerosa, nojenta, que precisa ser exemplarmente punida, porém, não acredito que isso ocorra. Não podemos perder a sensibilidade de indignação diante do racismo, homofobia e das outras formas de preconceitos. Temos que resistir até que essas práticas desapareçam do futebol e fora dele”, repudia com indignação.
Com base nesse acontecimento, o Jornal Opção entrou em campo para mostrar como andam as torcidas organizadas dos três maiores times de Goiás: Vila Nova Esporte Clube, Goiás Esporte Clube e Atlético Clube Goianiense. A reportagem ouviu torcedores, presidentes de torcidas, sociólogos e as forças de segurança, que relataram suas avaliações sobre as torcidas. As direções de todos os clubes também foram procurados para exporem suas versões, mas optaram por não falar.
Cleber Ferreira avalia que as torcidas organizadas estão fora do controle dos clubes, e que a rigor não gera nenhum benefício ao mesmo. O jornalista defende que, se alguém quer participar regimentalmente da torcida de um clube, então que faça parte dos programas de sócios torcedores dos clubes de futebol.
Cleber Ferreira entende que esta é a única maneira para torcedores contribuírem com o clube. Por outro lado, existe a falta de legislação específica que defina uma torcida organizada e sua finalidade. “Em função da falta de uma lei regulamentando essa atividade, presenciamos com frequência várias manifestações anárquicas desses torcedores, dentro e fora dos estádios, agindo como facções e trazendo consequências ruins, inclusive, morte. E, foi isso que afastou as famílias dos estádios”, garante.
Cleber é a favor do banimento dessas torcidas em último caso, mas concorda que há uma saída mais democrática que é uma lei que poderia amenizar o problema. “Precisa definir penas pesadas para esses anarquistas”, defende.
Comentaristas
Marcelo Borges, comentarista esportivo e ex-jogador ídolo da torcida esmeraldina, avalia que a torcida organizada tem muita importância para o clube. Com o lado positivo, ajuda a empurrar o time em momentos difíceis durante um jogo. “Tenho o exemplo de 1994 quando nós subimos com o Goiás e a Ponte Preta em 1997. Eu pude sentir essa atmosfera positiva que a torcida faz chegar dentro de campo e isso motiva demais os jogadores que jogam como nunca. Então esse é o lado positivo”, diz.
Marcelo, no entanto, pontua que também existe o lado negativo, que é o da violência, que faz as torcidas passarem de organizadas para desorganizadas. “Os torcedores violentos precisam ser banidos dessas torcidas”. Marcelo também cita o caso envolvendo torcedores da Força Jovem em um posto de gasolina de Goiânia. “Esses delinquentes precisam ser punidos severamente não somente pela polícia, mas também internamente nessas torcidas”, afirma.
Segundo Carlos Eduardo, ou simplesmente Tim, comentarista esportivo da Band News, ex-jogador e ídolo da torcida vilanovense, o tema torcida organizada é muito complexo. Em sua análise, a torcida organizada é uma torcida diferente, que tem o objetivo de incendiar o estádio, tanto em relação aos jogadores em campo, como também aos demais torcedores. “No estádio, essa torcida é de fundamental importância, ela faz grande diferença.”
O grande problema das organizadas, de acordo com Tim, é quando ela se envolve com questões de violência. Na opinião do ex-jogador, as torcidas organizadas, assim como o restante da sociedade, precisa aceitar o diferente; ou seja, o torcedor de outro time, e conviver em harmonia e não estimular a violência contra o outro. “Isso mancha a imagem das organizadas perante a população. Não precisa banir essas torcidas, acho que elas próprias precisam tirar do seu meio todo torcedor infrator”, ressalta.
Torcidas organizadas
Goiás
Mateus Tobias, torcedor do Goiás e presidente da Força Jovem, informa que os critérios para alguém se tornar um associado da Força são bem rigorosos. “A partir do momento que uma pessoa se associa, ela assina uma ficha de termo de responsabilidade com as regras da torcida. Não permitimos o associado se envolver em confusão, e para isso temos as penas que vão de suspensão de três meses a um ano e até a expulsão definitiva, se for o caso. O nosso principal objetivo é fiscalizar e apoiar o time.”
Mateus explica que a idade mínima para ingresso na torcida é a partir dos 16 anos, e que esse é o limite acertado em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Púbico de Goiás. Atualmente, a maior parte dos participantes tem entre 18 e 26 anos, mas existem torcedores de todas as idades. O presidente Mateus Tobias diz que a força é composta majoritariamente por homens, mas que a população feminina vem crescendo muito e que elas participam ativamente de todas as atividades desenvolvidas pela torcida. “Hoje, elas têm total espaço dentro da Força Jovem”, afirma.
O presidente da Força Jovem pontua que a instituição não é formada somente pela “galera da periferia”, e que existem membros da classe média e alta da sociedade. “Temos estudantes, universitários, advogados, empresários, odontólogos, médicos, professores, policiais… Os perfis são variados”, revela. Ele ressalta que cada associado precisa contribuir com uma mensalidade de R$ 15 por mês.

Indagado se o Goiás Esporte Clube financia a Força Jovem, Mateus Tobias foi enfático ao responder que há muitos anos não recebem nem um real do clube. “Não recebemos nem os ingressos. Hoje, nós caminhamos com as nossas próprias pernas e não temos nenhum vínculo financeiro com o Goiás, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa. Nossa principal arrecadação são as vendas de materiais como camisetas, bermudas, bonés, calças, etc. Temos apenas um acordo com o clube que nos autoriza a usar a marca em nossos objetos, e para isso pagamos uma taxa “, esclarece.
Mateus Tobias garante que a Força Jovem tem sido o décimo segundo jogador e vem sendo importantíssimo nos últimos anos do Goiás. “Fazemos nosso dever de empurrar o time, de incentivar, mas também de cobrar quando as coisas não vão bem. O apoio desse torcedor ativo faz grande diferença.” O líder diz que infelizmente existe muito joio no meio do trigo, que mancha a imagem da torcida organizada e, em alguns casos, esses “torcedores” são expulsos definitivamente, como o que ocorreu no episódio do posto de combustível. “Quero esclarecer que frequentemente essas pessoas nem são associadas, só usam o nome da instituição para cometer crimes.”
Para Mateus Tobias, o argumento de que as famílias deixaram de ir para os estádios por conta da violência é uma mentira. “Desde quando proibiram duas torcidas nos estádios, não existem mais brigas dentro dos espaços. Infelizmente, as confusões acontecem nas ruas, portanto, isso é uma falácia. O que realmente impede as famílias irem aos estádios é a falta de conforto dos estádios, bem como as falas dos dirigentes, também tiram a empolgação dos torcedores”, sublinha.
Mateus Tobias aproveita para informar que a Força Jovem realiza diversas atividades sociais nas datas comemorativas do clube. “Também temos nosso departamento social, que atende associados e a população em geral que precisa de cestas básicas, por exemplo. Somos um dos principais doadores de sangue em Goiânia e fazemos várias campanhas nesse sentido. Estamos implantando um curso de liderança que vem para melhorar ainda mais a conduta dos torcedores”, explica.
Atlético
Maykol é vice-presidente da torcida organizada do Atlético Clube Goianiense, a Torcida Dragões Atleticanos (TDA). Ele informa que a diretoria da organizada é composta por presidente, vice-presidente e diretores – seis no total. Atualmente, a TDA tem mais de mil associados ativos e não aceita menores de idade.
“Um dos principais critérios para fazer parte da nossa organizada, é ser somente torcedor do Atlético; não aceitamos torcedor misto. Nós somos muito presentes na vida do time, estamos em todos os jogos cobrando e incentivando, fazendo nossa parte”, garante. De acordo com ele, para o clube, isso é muito positivo porque é uma parceria de responsabilidades mútuas.
Maykol relata que o torcedor infrator não será aceito jamais na TDA. “Em primeiro momento iremos conversar e, se não houver resultado, poderá acontecer a expulsão. Nosso objetivo não é prejudicar, e sim ajudar o clube. Esses torcedores que causam problemas não ajudam em nada. Para isso, temos uma parceria com as forças de segurança em que todos os atos de natureza violenta são reportados para as autoridades policiais, haja vista que existe um cadastro registrado com todos os dados dos associados”, afirma.
Questionado se a torcida possui alguma parceria financeira com o clube, Maykol afirma que sim. “Temos algumas parcerias, sim. Usamos a marca do Atlético, pois somos a torcida do clube. No entanto, nossa principal renda vem de patrocínios, de renovação ou novos sócios e da venda de materiais. Aqui, ninguém paga mensalidade. Pagamos anualmente R$ 60 para renovação e R$120 para os novos integrantes, no valor já está incluso uma camiseta”, explica.
“Quero lembrar que a nossa torcida promove muitas ações sociais em favor dos menos favorecidos. Fazemos campanhas de agasalho, distribuição de cestas básicas e outras ações não menos importantes”, diz Maykol.
Vila Nova
Procurado pela reportagem, o presidente da Torcida Esquadrão Vilanovense (Tev) preferiu não se pronunciar.
Torcedores
Warlen Sabino é conhecido como um atleticano “roxo”, e torce para o Dragão há 38 anos. Ele conta que nunca participou de torcidas organizadas, mas, quando pode, vai a todos os jogos do time de coração. Warlen avalia que, no caso do Atlético, a torcida organizada nunca atrapalhou as famílias que vão aos estádios. “Tanto é verdade que meu cunhado, que é torcedor do Vila Nova, só levou a filha uma vez ao estádio; já eu, levo sempre. Na minha opinião, essas outras torcidas atrapalham sim. Penso que essas torcidas organizadas teriam que acabar, pois só querem brigar e não respeitam os outros torcedores”, desabafa.
Para Francisco Alves da Silva, torcedor do Verdão, a torcida organizada é uma faca de dois gumes. “Por um lado, é bom porque empurra o time e anima o restante dos torcedores, mas por outro, causa violência e acaba tirando as famílias dos estádios”, completa.
Gustavo tem 19 anos e é motorista de aplicativo, além de fazer parte da Torcida Esquadrão Vilanovense. “Aprendi a torcer pelo Tigrão por causa dos meus primos, que me levavam aos jogos. Faço parte do Esquadrão desde 2015. Logo entrei para a bateria da organizada. Infelizmente, as pessoas acham que a torcida organizada é composta por ‘malas’, o que não é verdade. Reconheço que há alguns que mancham a nossa imagem, a maioria das pessoas aqui é gente boa e trabalhadora”, diz.
Lorrane Félix, 35, gestora comercial, já foi presidente da Força Jovem Feminina e se diz muito grata por ter feito parte dessa torcida, que ela classifica como “maravilhosa”. “Tenho orgulho de ter feito parte dessa torcida, não nego minhas raízes, não tenho vergonha em falar que pertenci ao movimento. A Força Jovem me abriu muitas portas”, afirma Lorrane Félix.
A gestora conta que a Força Jovem lhe ensinou a ter amor ao próximo com as muitas ações sociais realizadas pela entidade. “Foi através da Força Jovem que eu tive o privilégio de trabalhar nos maiores projetos sociais do Brasil. Foi através dessa torcida que realizamos o seminário Mulheres Esmeraldinas, que ainda hoje é ativo e do qual faço parte. Sou a criadora do projeto que dá apoio à mulher em várias questões, e somos reconhecidas em todo Brasil e alguns países da América Latina.”
Lorrane enfatiza que a imprensa e toda a população precisa conhecer mais os trabalhos desenvolvidos pelas torcidas organizadas, e não mostrar somente o lado ruim, que, segundo ela, existe em qualquer instituição. “Há muitas pessoas que usam o nome da entidade para cometer delitos, porém, não fazem parte do grupo.”
Sociólogo
Fernando Segura Trejo, sociólogo nascido no México foi professor da pós-graduação no curso de Sociologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) entre 2016 e 2020. Fernando Trejo, enquanto esteve em Goiânia, promoveu uma pesquisa em que acompanhou as torcidas organizadas do estado de 2017 até 2020. Trejo diz que conviveu com as três maiores torcidas da capital durante esse período, no trabalho em conjunto com a Polícia Militar.

O sociólogo argumenta que percebeu diferentes características dessas torcidas. “É claro que a torcida em si contribui com o espetáculo. O problema, às vezes, é o comportamento dos membros; o machismo, a agressividade, a cultura da rivalidade com combate físico e ameaças de morte. Com o pensamento de vingança que existe entre a minoria deles”, revela. O sociólogo esclarece que acredita na negociação, nos arranjos transparentes públicos com as torcidas – assim como a PM faz diariamente com as torcidas para planejamento das ações. “Agora, se alguma torcida não obedece esses acordos, precisa ser punida exemplarmente”, ressalta.
Fernando Trejo faz uma ressalva: durante os quase três anos junto às torcidas, percebeu que não são grupos homogêneos, ou seja, não possuem características comuns. Existem diferentes subgrupos com diferentes visões. Para ele, o movimento feminino poderia contribuir para reduzir tensões. Todavia, algumas garotas integrantes dos movimentos optam por permanecer dentro do clima de rivalidade. “Eu acredito muito no debate, no diálogo, nos seminários de paz que são tradição no Brasil. Eu mesmo promovi e participei de alguns envolvendo essas torcidas e o poder público, e, na minha avaliação, deu muito certo”, declara.
Trejo esclarece que é muito difícil resolver a complexa questão. Não há como as organizações banirem uma pessoa violenta se as torcidas aceitam qualquer um que queira participar, desde advogados, estudantes universitários e pessoas com histórico criminal. Fernando Trejo afirma que as instituições não são uma dependência da administração pública que faz cadastros públicos, tampouco uma organização que exige perfil ou currículo. Mas aceitam certos preceitos morais em detrimento de outros. “Pode acontecer de algum membro ser expulso por questões internas ou por outros interesses, mas não por conta de seu histórico violento”, revela.
O sociólogo se diz a favor dos clubes ou o poder público financiarem essas torcidas, contando que essas ações sejam transparentes. “Atualmente estou estudando casos no mundo onde as prefeituras bancam projetos sociais, como em Medellín, na Colômbia. Essas prefeituras bancam projetos sociais das torcidas, projetos positivos de incentivo ao esporte, artes, cultura; eu estou a favor dessas atitudes.”
Forças de segurança
Torcer organizadamente, criar com um grupo de amigos, reunir-se – tudo isso é saudável e permitido, avalia o promotor Sandro Barros, Coordenador do Grupo de Atuação Especial nos Grandes Eventos do Futebol (GFUT). Segundo ele, não há nenhuma lei que proíba isso e, portanto, torcer de forma organizada não pode ser um problema legal.
Em Goiás, desde o ano de 2019, a entrada de duas torcidas organizadas juntas em um mesmo espaço é vetada. Isto é, somente a torcida do time mandante poderá comparecer ao espetáculo em seu estádio. A decisão foi tomada em uma Ação Civil Pública para tentar acabar com a violência entre torcedores.
Para o promotor Sandro Barros a extinção de uma torcida organizada ou o seu banimento dos estádios é ineficaz. “No dia após o banimento, eles podem criar uma nova torcida, com um novo CNPJ”, diz. De acordo com Sandro Barros, para coibir a participação de torcedores com más intenções é preciso ficar atento a duas situações diferentes: o problema dentro dos estádios e o fora deles.
Segundo o promotor, a torcida única tem relação com a incapacidade de fornecer segurança aos torcedores com duas torcidas rivais juntas ao mesmo tempo. “Essa medida é para proteger todos os torcedores”, enfatiza. “Na decisão, ficou acordado que era impossível garantir a segurança de todos, tanto no estádio, quanto nas ruas, quando duas organizadas conviviam. Enquanto não houver condições de segurança, segue-se, por cautela, com uma só torcida”, pontua.

Ele explica que, dentro dos estádios com câmeras, a presença da Polícia Militar, do juizado do torcedor no local, o torcedor que comete um crime de tumulto responde no mesmo dia pelas suas ações. “Há juiz, promotor, delegado no momento dos jogos e o processo é supereficiente”. Fora do estádio, no entanto, o problema de segurança pública está sendo sanado com a criação de uma Delegacia Especializada, o Grupo de Proteção ao Torcedor (Geprot). “Somente nos últimos trinta dias já foram duas operações com a prisão de 12 torcedores infratores da lei”, observa.
Na avaliação do promotor, há fatores que estimulam a violência entre esses torcedores. A teoria criminológica da subcultura delinquente explica a formação de grupos criminais como reação de minorias desfavorecidas, com poucas possibilidades sociais. Para subir na hierarquia social, esses grupos orientam-se dentro de uma estrutura paralela, atingindo melhores possibilidades de bem-estar e status, mesmo que apenas dentro de subculturas. “Além disso, existem estudiosos que relacionam a violência com o machismo estrutural, a masculinidade tóxica e o baixo grau de educação”, diz ele.
O major Wildey Coelho Bezerra, subcomandante do Batalhão Especializado de Policiamento em Eventos (Bepe), esclarece que por ocasião da decisão judicial de proibir torcidas mistas nos estádios desde 2019, a modalidade de policiamento empregado nos jogos permite praticamente zerar os índices de violência dentro das praças esportivas e nas mediações.
De acordo com o Major, em todo jogo há uma grande operação que envolve o Batalhão de choque, a Cavalaria e o Batalhão de Terminal. As forças acompanham as torcidas no transporte público desde a saída até o estádio. E, na chegada, esses torcedores encontrarão um grande aparato da Polícia Militar que garante a segurança desses eventos.
Bezerra explica que a prevenção é o ponto forte para se obter o sucesso esperado sem nenhum incidente em todo o campeonato goiano, por exemplo. O policial, no entanto, faz um alerta quanto à maneira dos torcedores criminosos agirem. “Percebendo que dentro dos estádios não podem mais se agredir, a violência migrou para os bairros mais periféricos, principalmente no encerramento dos jogos. “ Ele pontua que essas torcidas possuem as regionais em locais afastados, algumas regionais muito próximas uma da outra.
Segundo o major, delinquentes passaram a preparar emboscadas para a torcida adversária na saída dos jogos. Somente neste ano, a prática foi observada duas vezes. Bezerra destaca de forma negativa a Força Jovem que preparou uma dessas armadilhas para encurralar os torcedores do Vila Nova após o jogo entre Vila Nova e Grêmio Anápolis no dia 1 de fevereiro, na região oeste da capital. A torcida do Goiás fechou um ônibus com vilanovenses utilizando dois veículos, desceram usando armas de fogo e disparando aleatoriamente contra os torcedores.
Ainda segundo o major, um torcedor foi atingido na cabeça de raspão e outros foram atacados com paus e pedras. “No mesmo dia do ocorrido, nossa equipe usou câmeras de segurança da região e do próprio ônibus para conseguir identificar e qualificar parte desse bando. Porém, se entendeu que não era uma situação para flagrante e eles foram liberados.”
Bezerra esclarece, no entanto, que posteriormente com todas as qualificações em mãos, o Bepe compartilhou com o Geprot e as investigações fluíram com seis mandatos de prisão cumpridos no último dia 22. O major ratifica que todos os presos já possuem uma lista de crimes e que todos esses torcedores infratores também são criminosos contumazes.
O militar denuncia que todos os seis presos possuem cadastro na torcida Força Jovem e que até o momento nenhuma advertência havia sido feita, nem mesmo uma nota de repúdio. Bezerra ainda acentua que a torcida Força Jovem tem se destacado nos últimos meses como sendo a mais violenta torcida organizada do Estado de Goiás. “Não sou a favor da extinção total das torcidas organizadas, não podemos generalizar, mas com base no histórico desfavorável, se continuar dessa maneira, teremos de cogitar o banimento da Força Jovem”, afirma.
Para o major, as torcidas se escondem por trás de ações sociais que nada mais são do que recrutamento de crianças e adolescentes. “É parecido com o que é feito pelos traficantes nos morros do Rio de Janeiro. As torcidas trazem crianças para perto com a intenção de implantar suas ideologias nas crianças, que vão aderir a isso quando entrarem na adolescência”, disse.
O major Bezerra sublinha que todos os clubes têm sido parceiros da Polícia Militar, e sempre que suas torcidas se envolveram em problemas dentro ou nos arredores dos estádios, são os clubes os primeiros a auxiliar a polícia. “Nosso relacionamento com os clubes tem sido o melhor possível, eles estão com as mãos limpas em relação a isso”, garante.