Em debate sobre Goiânia, Iris afirma que está preocupado é com o Brasil

Provável candidato a prefeito, líder peemedebista causa surpresa ao dizer que sua preocupação atualmente é com a situação do país

Afonso Lopes

Vá lá que não é nenhuma novidade ouvir Iris Rezende dizer que não será candidato nas próximas eleições. Esse é o ritual de pré-candidatura que ele segue com fervor religioso há décadas. Ainda assim, ele pode ter exagerado ao se pronunciar num debate promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico de Goiânia, Codese. Iris simplesmente colocou Goiânia num segundo plano ao afirmar que está preocupado neste momento é com a situação do Brasil.

É óbvio que os acontecimentos em Brasília preocupam a todos, mas não há como escapar do elementar. Os brasileiros residentes em Goiânia sofrem as mesmas consequências emanadas da política nacional que todos os demais, mas com uma diferença que não pode ser desprezada: além desses problemas, o goianiense tem os próprios vividos pela capital. E eles não são poucos.

Além disso, também é estranho que um líder político importante como Iris, virtual candidato a prefeito, compareça a um debate sobre a cidade e eleve os problemas nacionais à condição de prioridade. Para os goianienses, muito mais incômodo que Temer, Dilma e suas turmas possam causar é ter que enfrentar um sistema de transporte caótico, que por sinal o próprio Iris, na campanha de 2004, portanto há 12 anos, prometeu mudar para melhor em apenas seis meses de governo.

Outra frase de Iris logo na sua apresentação também procurou permitir o seu desvio das questões centrais que a cidade precisa debater. Ele falou que, ao chegar ao local, logo na portaria lhe perguntaram se seria candidato este ano mais uma vez. “Hoje, de zero a dez, a chance de ser candidato (a prefeito) é zero”, disse ele. É como se ele estivesse avisando aos organizadores que não estaria disposto a discutir Goiânia, mas a situação do Brasil, que é o que vem lhe preocupando neste momento, conforme detalhou.

Desde a aposentadoria do ex-prefeito Nion Albernaz, Iris se tornou na única grande referência político-administrativa nas disputais municipais em Goiânia. É o ponto fora da curva onde se abrigam todos os demais. Além disso, ele é a única possibilidade de o PMDB se inserir na disputa pela Prefeitura com alguma chance de vitória. É o favorito imediato. Sem Iris, os peemedebistas vão enfrentar sérios problemas até para montar uma boa chapa proporcional.

Porém, há rumores garantindo que Iris realmente não sabe se vai para a disputa ou não este ano. Pessoalmente, ele acredita, como sempre, que pode vencer. Ele também observa a empolgação dos peemedebistas à sua volta, mas talvez em determinados momentos perceba que as coisas podem ficar muito mais complicadas do que em outras campanhas eleitorais.

Ao contrário de 2004 e 2008, quando venceu com certa sobra, nesta eleição ele terá pela frente um conjunto de candidatos adversários fortes e com perfis claramente diversificados. Nas eleições anteriores, ele não precisou medir forças com um político como o deputado federal Waldir Soares, hoje no PR, que frequenta a periferia com a mesma desenvoltura que ele próprio. Como também não teve que enfrentar não um, mas dois discursos técnicos bastante competentes, como Giuseppe Vecci e Luiz Bittencourt.

Além desses adversários que podem criar problemas, há uma bomba que deve explodir no seu comitê em plena campanha: a abertura da caixa preta da herança que ele deixou para o seu sucessor, Paulo Garcia. Recentemente, quando o PMDB se distanciou do Palácio do Cerrado Venerando de Freitas Borges distribuindo críticas contra a administração do petista, parte desse arsenal foi apresentado por Paulo Garcia, que topou o debate. Os peemedebistas, orientados ou não por Iris, não quiseram pagar pra ver. Há setores da Prefeitura que dizem sobre a existência de um grande e detalhado relatório sobre a extensão da tal herança maldita recebida por Paulo. Em linhas gerais, a explicação dimensiona exatamente o que causou uma série de problemas ao longo dos anos após Iris deixar a Prefeitura. De qualquer forma, esses rumores sobre o raio x da herança neste momento são exatamente isso, rumores.