A economia derrete e pulveriza empregos
25 março 2016 às 18h50
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Somente em um mês, neste início de ano, quase 110 mil trabalhadores engrossaram a já enorme fila de desempregados. Governo admite que a recessão deste ano ficará acima de 3%
Afonso Lopes
A economia brasileira vai de mal, em 2015, para muito pior, agora em 2016. Em fevereiro, quase 110 mil trabalhadores foram demitidos. Os desempregados já são mais de 8 milhões. A cada cinco novos desempregos no mundo, um é brasileiro. Em Brasília, a equipe do governo, comandada pelo ministro Nelson Barbosa, mudou a sua previsão para o tamanho do tombo que a economia terá este ano, passando agora para 3,2%. Ou seja, vamos piorar mais esses 3 pontos em relação ao desastre econômico do ano passado.
Sem ter a menor condição política para fazer o chamado dever de casa, que é basicamente reduzir os gastos para caber dentro da arrecadação, o governo da presidente Dilma Roussef vai se superando negativamente. O déficit de 58 bilhões de reais registrado em 2014, e disfarçado pelas “pedaladas fiscais”, subiu para 110 bilhões em 2015 e deve ficar, segundo o próprio governo, acima de 50 bilhões este ano.
Não há muitos indicativos que apontem para algum tipo de melhora a curto prazo, este ano. A alta cotação do dólar mexeu com a estrutura de custos dos produtos fabricados aqui com insumos importados, como no caso dos remédios. A redução muito mais especulativa da moeda referencial não tem nenhum efeito prático nas planilhas das indústrias, e portanto aumento de preços pode se generalizar em setores estratégicos do consumo. A indústria farmacêutica, que já praticava reajustes em seus produtos com a retirada progressiva de descontos, zerou esse estoque de folga no ano passado e início deste, e já obteve um aumento autorizado acima de 12% para o final deste mês.
O ministro Nelson Barboza apresentou um bom plano de recuperação para a economia no início da semana passada, mas ninguém deu bola para ele. O assunto nas ruas e nos corredores oficiais, seja no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto e ministérios e nas cortes superiores de Justiça é um só: a confusão política. Isso significa que nada vai ser resolvido, sequer debatido, para debelar a devastadora crise na economia, e provavelmente esse fato vai ter influência direta sobre um panorama bem mais grave do que o apresentado pelas autoridades econômicas. O Brasil quebrou feio.
As poucas sinalizações políticas que o governo emite são piores do que o soneto inteiro. O PT, principal partido de sustentação do governo Dilma, divulgou uma lista de “soluções” mágicas que ao invés de resolver o problema, passa uma demão de tinta sob superfície enferrujada. Lula, que até meados da semana passada ainda tentava ser aceito no ministério através da Justiça, não representa nenhuma esperança, já que ele também se alinha com as recomendações do seu partido.
Assim, enquanto o governo Dilma agoniza na esplanada política, a população se aperta como pode para ao menos manter a dignidade já que o sonho de uma vida melhor e planejada lhe foi roubada. O Brasil de Dilma Rousseff segue com o pior cenário possível, o de crise econômica que gerou uma crise política, e agora precisa resolver a política para consertar a economia.
Os anos de 2015 e 2016 já foram para o ralo. O governo diz que em 2017 as coisas vão melhorar. O duro mesmo é que este governo não acerta uma só previsão. No início de 2015, falou-se que no final do segundo semestre iria melhor. Quando o semestre veio e a situação se agravou, acenaram com 2016. Agora, será em 2017. Pode ser, mas talvez não com a mesma estrutura de poder que aí está, e que empurrou o Brasil para o buraco.