E agora, Iris?

Eleito para seu 4º mandato como prefeito de Goiânia, o decano fez inúmeros compromissos na campanha, mas situação financeira não está nada bem

Afonso Lopes

Não é exatamente o que se pode chamar de surpresa desagradável. Era de pleno conhecimento de todos os goianienses, dada a precariedade da qualidade e quantidade dos serviços prestados, que a situação da Prefeitura de Goiânia é extremamente delicada do ponto de vista financeiro. Não se sabe exatamente como está a saúde econômica, o que dependerá de uma lupa muito mais potente e detalhadora, mas percebe-se que alguma coisa vai mal também nesse aspecto. O sintoma surge com a queda sistemática na participação da capital no bolo do ICMS. Isso significa que Goiânia tem perdido competitividade econômica.

Se a economia como um todo é algo preocupante, financeiramente o problema virou incêndio feio. A equipe irista que analisa a transição diz ter encontrado um déficit em torno de 500 milhões de reais. Essa (falta de) montanha de dinheiro é uma espécie de comitê de recepção para Iris Rezende. Na campanha eleitoral, o experiente candidato dizia que as dificuldades, que já se imaginava serem muito expressivas, não o assustavam. “Ao contrário”, dizia ele.

Quando assumiu o comando da Prefeitura de Goiânia em 2004, após o exílio de dois anos em sua fazenda, Iris também encontrou uma difícil realidade fiscal. Uma folha de pagamento atrasada, além de um montante acumulado de dívida flutuante vencida. Para resolver a questão, ele passou a pagar o mês atual e montou um calendário para quitar o atrasado aos poucos. A normalidade no pagamento dos salários dos servidores se deu dessa forma.

Única boa notícia

Desta vez, porém, ao menos até agora, não se tem qualquer informação de que os servidores vão ficar sem receber salários de dezembro e 13º salário. Isso é muito bom, mas é a única boa notícia. Os fornecedores fazem fila com faturas em aberto nas mãos. E esses fornecedores estão em todas as áreas de serviço, dos postos de saúde aos serviços de limpeza, indo até a manutenção dos bens públicos além de obras paralisadas.

Também em 2004 o quadro era mais ou menos como esse. A solução encontrada por Iris naquela oportunidade foi reunir os credores da Prefeitura e acertar de “comum acordo” com eles um escalonamento desses pagamentos, prometendo como contrapartida que pagaria a vista tudo o que fosse adquirido no período. Quem não topou o acordo ou não teve condições de bancar essa dilatação no prazo foi descartado como fornecedor.

Essa solução será bem mais complicada agora. As empresas estão sufocadas por dívidas, juros extorsivos, impostos atrasados e pouca demanda. Ou seja, se em 2005 elas estavam pelo menos capitalizadas, agora estão numa penúria de fazer dó. Então, provavelmente a maioria delas não terá como continuar fornecendo normalmente para a Prefeitura sem receber o que já está vencido.

Outra solução recorrente nos governos de Iris Rezende é a elevação das alíquotas dos impostos. No caso, a dupla ITU, incidente sobre terrenos não edificados (ou baldios) e IPTU. Mas como ele irá propor um aumento nesses impostos se a população está às voltas com uma recessão brutal que já lhe cortou renda e empregos? Mesmo que consiga, devido ao crédito inicial que os governantes sempre têm nos primeiros meses de mandato, haverá o risco de explosão na inadimplência. Outra encrenca nesse caso é a provável reação do Ministério Público e da Justiça para elevação do ITU/IPTU neste momento. Ainda mais depois que o governo atual criou um imposto adicional por aumento de área construída não comunicada oficialmente.

Logo após a vitória no segundo turno, o jornal “O Popular” fez um levantamento superficial das principais promessas feitas por Iris ao longo da campanha e concluiu que o custo para que elas saiam do papel é de quase meio bilhão de reais. Com o meio bilhão de estoque de dívida flutuante vencida, somado ao baixíssimo estoque de insumos em todos os setores da Prefeitura, o prefeito Iris Rezende vai ter um início de mandato bastante difícil.
Terá que usar toda a sua vasta experiência administrativa, promover cortes dramáticos na montagem da estrutura de governo e, por último, contar com a boa vontade e paciência dos cidadãos.