Dois momentos emblemáticos que marcam até agora o governo Caiado

26 dezembro 2021 às 00h00

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O posicionamento no desafio da pandemia e a forma de lidar com o dinheiro público ficaram evidentes em dois acontecimentos da gestão

Evidentemente, cada um que fosse provocado a escrever sobre os momentos-chave do governo de Ronaldo Caiado (DEM) teria pontos de vista diferentes sobre o tema. No entanto, há duas datas particularmente emblemáticas nestes três anos e que podem, de certa forma, sintetizar qual tem sido o papel da atual gestão na vida dos goianos.
A primeira data remete ao terceiro domingo de março de 2020. A Covid-19 chegava a Goiás. Na quarta-feira da semana anterior, a Organização Mundial de Saúde (OMS) finalmente admitia que o mundo vivenciava uma nova e terrível pandemia, causada pelo Sars-CoV-2, o novo coronavírus. No dia seguinte, foram confirmados em Goiás os primeiros casos da doença. Caiado não pensou duas vezes em publicar um decreto de restrições ao comércio na tentativa de evitar a proliferação da contaminação, tornando-se o primeiro governador brasileiro a implantar tal medida.
Ninguém no mundo tinha ainda alguma resposta mais concreta sobre a nova enfermidade, além do aparente fato de se tratar de algo facilmente transmissível. O mundo inteiro tateava no escuro e, em meio ao ainda grande desconhecimento sobre as formas de contágio, era necessário buscar se resguardar.
Movido pela prudência, o governador fez um apelo à população para que ficasse em casa durante as duas próximas semanas, de modo a tentar quebrar a curva da contaminação. Somente funcionariam os serviços essenciais. Foi o que bastou para o primeiro de muitos confrontos com um grupo que se tornaria bastante nocivo durante a pandemia: militantes negacionistas de extrema-direita.
Caía uma chuva fina na tarde daquele 15 de março. Caiado foi avisado de que manifestantes se reuniam ao redor de um carro de som na Praça Cívica, para protestar contra as medidas sanitárias. Em seu estilo voluntarioso, saiu do Palácio das Esmeraldas e caminhou ao encontro do grupo.
Pegou o microfone e, em poucos minutos, mostrou primeiramente seus pontos em comum com a audiência ideológica que ali estava: era alguém que sempre combateu “as esquerdas” e que tinha sido – e continuava sendo – apoiador de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PL). Até então – e só até então –, era aplaudido pela plateia. Em seguida, falou sobre o momento triste e preocupante que o mundo vivia e usou sua autoridade de médico para rechaçar a aglomeração. Vieram as vaias, que aumentaram quando ele exigiu que o som fosse desligado e o decreto fosse obedecido. Por fim, reagiu bradando que não precisava dos votos dos que – provavelmente dando uma “carteirada”, se dizendo eleitores de Caiado – insistiam em desafiar as normas sanitárias, porque não colocava a política acima de seu diploma.
Estava firmado naquele momento o posicionamento pró-ciência que balizaria as medidas governamentais em Goiás e que seriam tomadas a partir de então, deslocando o governador para um núcleo inevitavelmente cada vez mais distante do que orbitava em torno do presidente. Bolsonaro passou a liderar exatamente o grupo oposto, propagandeando medicamentos sem eficácia, fazendo pouco caso de máscaras, provocando aglomerações, desacreditando vacinas e, durante todo o tempo de pandemia, tirando do caminho e do governo federal quem ousasse se guiar pela estrito rigor científico.
É consenso que o percurso do Brasil durante a pandemia teria sido menos penoso e menos mortal se todas as autoridades caminhassem para o mesmo rumo, em vez de se formar um cabo de guerra que vem tencionando o País durante todo o período, ora por contestar restrições (necessárias) à circulação, ora pelo desejo de imposição de panaceias como a cloroquina e a ivermectina, ora pelo descrédito oficial que se dá à imunização, apesar de todas as evidências que indicam o contrário.
Aliado e incentivador da candidatura de Bolsonaro, Caiado teve de refluir no apoio desde o início da história da Covid-19, para manter a coerência como homem público, a responsabilidade como governante e a dignidade do diploma como médico. Orquestrou, no que pôde, uma política de boa vizinhança com o Planalto, ainda que sempre acossado por provocações e chantagens, como na questão – que deveria ser meramente técnica – do acesso ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Chega ao fim do terceiro ano com a sensação de missão cumprida em relação à luta pela preservação da integridade física da população e restabelecimento fiscal das finanças do Estado.
Um segundo momento que marca simbolicamente os três anos de gestão de Ronaldo Caiado é mais recente. Foi o último Dia do Professor e da Professora, quando uma adversária histórica, representante de uma classe crítica ao governo, elogiou publicamente uma medida tomada pelo Executivo. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, mesmo afirmando ser contrária à privatização, se disse agradavelmente surpresa quando, na venda da Celg T, ocorrida no dia anterior (14 de outubro), o governo estadual tomou a decisão de investir os recursos obtidos na Previdência dos servidores públicos.
“Eu sou contra privatização, mas eu vou ter que me calar, porque foi a primeira vez que eu vi o governador vender um patrimônio [a Celg T] e colocar os recursos no fundo de Previdência. Assim vai melhorar a questão previdenciária dos aposentados e aposentadas”, declarou Bia. O governo já havia anunciado a isenção da contribuição previdenciária de aposentados e pensionistas com benefícios de até R$ 3 mil.
Com a tomada de decisão em prol da classe dos professores, Caiado reposicionou sua “marca”, por assim dizer, diante da categoria. A decisão acabou se tornando uma sinalização importante para um governo considerado de direita, liberal e que, em tese, estaria menos preocupado com as questões sociais.
Educação é algo com que tudo que se gasta ainda é insuficiente, tal sua importância estratégica, mas o governo vem mostrando esforço também em outras ações na área. Nas escolas estaduais, é preciso observar que os alunos estão recebendo uniforme completo, mochila e também Chromebooks, o que facilita o acesso a pesquisas e possibilita ampliar o aprendizado em sala de aula. Outra medida que fará diferença serão os 100 reais de auxílio para alunos do ensino médio com frequência comprovada. É uma forma de contornar e minimizar a evasão escolar, ainda mais em tempos pandêmicos.
Duas datas, dois marcos importantes: um, pela ciência; outro, pela educação. Talvez gente de dentro do próprio governo ainda não saiba o alcance que essas efemérides podem alcançar em longo prazo. É a partir de pequenos cortes que se monta uma narrativa – no caso, verídica. Está nos autos da história, que não vai se esquecer de quem esteve do lado correto em tempos tão incertos.
Sou homem que vocês deram a condição de chegar ao governo do Estado de Goiás, mas também nunca deixei de ser médico. Sou um homem talhado para salvar vidas e cuidar de vidas.