Dividida e sem propostas fica difícil
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A capacidade de o governo estadual deslanchar plenamente a partir do ano que vem, com a superação da crise nacional, será decisiva em 2018
Afonso Lopes
Não é a primeira vez que os opositores cantam como galos exibidos e orgulhosos do próprio canto em Goiânia. Aliás, na eleição municipal anterior a cantoria era até maior e mais estridente, com as vitórias expressivas em Goiânia, Aparecida e Anápolis. Ou em 2008, quando Iris Rezende, que este ano precisou remar um segundo turno, foi reeleito com quase 80% dos votos já no primeiro turno. E não há dúvida de que os opositores encontram um cenário bastante agradável a eles na capital do Estado, mas quando se olha para o interior, e não importa muito o tamanho da cidade, a força do governo é incomparável.
Isso significa que a eleição para o governo do Estado em 2018 já pende para o governo? Claro que não. Os governistas criaram, sim, amplas condições de disputar a eleição com vasto poder de fogo, mas se governos geram bônus, também carregam ônus. Ou seja, a base aliada estadual dependerá única e exclusivamente do desempenho do Palácio das Esmeraldas. É inegável que a crise econômica mais grave da história do país também fez estragos na imagem do governo estadual, mas esse dano é muito menor do que imaginam os opositores. A melhor forma de constatar isso é o ranking de prefeitos eleitos em outubro. Os candidatos do PSDB de Marconi e dos demais partidos integrantes do seu governo ganharam de norte a sul, leste a oeste.
Desempenho
De toda a forma, a competitividade do candidato a ser lançado pela base aliada estadual terá total relação com a imagem do governo em 2018. Se estiver em alta, como acreditam os palacianos que já percebem melhoria em relação à crise nacional — e não apenas os governistas, mas também os economistas têm essa previsão — fatalmente a oposição terá pela frente uma tarefa nada fácil. Ao contrário, se a crise aumentar e se prolongar, provavelmente nenhum governante estadual do país vai se apresentar com grandes chances de vitória. Política e eleição são unha e carne com o bolso do eleitor e seu grau de satisfação. Quando as coisas vão bem, os opositores só conseguem oferecer ao eleitorado uma troca de nomes. Quando a situação vai muito mal, qualquer proposta, por mais vazia que seja, vira arma eleitoral poderosa e de difícil combate.
Mas o que esperar para 2017/2018 em relação ao governo de Marconi Perillo? Um desempenho melhor do que em 2015 e este 2016. A crise econômica que jogou na lona o Estado do Rio de Janeiro e deixou de pernas bambas o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, foi previamente controlada dentro do limite possível desde janeiro de 2015, quando o governador preferiu enfrentar a cara feia de aliados insatisfeitos e decepou o tamanho da máquina administrativa estadual. O Rio Grande e o Rio de Janeiro não se importaram com a crise econômica. Sem ações restritivas severas nas despesas, quebraram de vez agora em 2016. E a situação em vários outros Estados também é muito ruim. Vários deles não têm dinheiro para quitar as folhas de 13º salário. Em Goiás, esse salário permaneceu sendo quitado no mês de aniversário do servidor. Ou seja, está rigorosamente em dia. Diante do tamanho da crise, e comparativamente aos demais Estados, alguns deles muito mais ricos econômica e financeiramente, a situação é difícil, mas se manteve sob controle.
Recentemente, a secretária da Fazenda, Ana Carla Abrão Costa, disse que o grande problema dos Estados não é a dívida acumulada por cada um deles. Ela tem razão. Na década de 1990, Goiás mantinha uma relação dívida X receita de 3,3 — ou seja, precisaria arrecadar 3 anos e alguns meses para hipoteticamente quitar o estoque de dívidas. Hoje, essa relação gira em torno de um ano apenas. Isso, portanto, é administrável. Muito mais difícil e importante é controlar a saída de dinheiro do caixa estadual.
Em 2015 e 2016, além dos cortes na máquina — o que incluiu nove secretarias, além de gerências de departamentos — houve uma enorme redução nos investimentos. Ainda assim, obras grandes e importantes foram terminadas e entregues à população, como o gigantesco Hugol, o maior hospital de urgências do Centro-Oeste, o Estádio Olímpico, o Credeq de Aparecida de Goiânia, e viadutos nas até então complicadas saídas de Goiânia. Mas nem todas as obras em andamento foram terminadas. É o que se espera que aconteça a partir de 2017 com o reaquecimento da economia brasileira, o que reflete imediatamente nas arrecadações.
Por outro lado, a oposição permanece aparentemente muito mais preocupada com nomes do que com a formulação de propostas alternativas de governo. É esse tipo de posicionamento histórico que permite ao governo e à base aliada estadual como um todo vencer as eleições municipais e estaduais até com relativa facilidade. Essa disputa entre os opositores provocou um racha complicado, principalmente no eixão representado pelo PMDB. Independentemente do candidato a ser escolhido, dificilmente haverá união total em torno dele. E aí se cria uma combinação perfeita para mais um desastre nas eleições: divisão por um lado, falta de propostas por outro. Assim, a única real e grande esperança para a oposição é que o governo não deslanche de vez nos próximos dois anos. Ou seja, uma aposta alta demais para se fazer no escuro.