Disputa em Goiânia: a rivalidade de sempre

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Marconi tentou evitar novo conflito entre as forças da base aliada estadual e os iristas, mas não deu certo. O resultado é que a rivalidade entre as duas forças está novamente presente nas eleições deste ano

Afonso Lopes
O ano é 1990. A rivalidade interna no então hegemônico PMDB goiano estava no auge. De um lado, o grupo ligado a Henrique Santillo. Do outro, aqueles ligados a Iris Rezende. Em final de mandato, Santillo viu seu colega de partido se lançar à sucessão estadual com discurso francamente oposicionista. Iris venceu as eleições e, mais do que isso, conseguiu isolar todas as candidaturas do santillismo à Assembleia Legislativa. Apenas um dos candidatos conseguiu sobreviver: Marconi Perillo. Na Assembleia, Marconi devolveu a “gentileza” de Iris a Santillo se tornando o mais temível deputado da oposição, mesmo pertencendo ao PMDB.
Em 1994, a guerra interna no PMDB atingiu mais um grupamento, os nionistas. Escorraçado na tentativa de disputar o cargo de governador, condições que todos entendiam como natural de Nion Albernaz após encerrar seu segundo mandato como prefeito de Goiânia dois anos antes, o ex-prefeito seguiu o caminho antes trilhado pelos santillistas. Em 96, foi com o apoio desse grupamento que ele venceu as eleições em Goiânia mais uma vez.
Em 1998, tudo indicava para uma recandidatura até certo ponto absolutamente tranquila do ponto de vista eleitoral para Maguito Vilela. Iris Rezende, já exercendo poder hegemônico no PMDB, estava em Brasília, onde ocupava um dos Ministérios mais importantes da República, o da Justiça. Mas ele não resistiu aos apelos dos iristas, e ele voltou atropelando a possibilidade de reeleição de Maguito. Era, desde o início, o favorito disparado para governador, com mais de 70% de intenções de voto, conforme as pesquisas da época indicavam. A oposição, PSDB inclusive, estava em pânico diante da enorme possibilidade de sofrer mais uma derrota. Mas lá no canto da sala dos tucanos, um certo deputado federal com carreira em pleno crescimento, resolveu aceitar o “encargo” de concorrer contra Iris. Era Marconi Perillo, o santillista que furou o cerco irista na eleição de 1990.
Ninguém sabia, mas naquele momento estava ganhando projeção uma rivalidade duríssima que chegou aos dias atuais. Marconi começou sua campanha apoiado por quatro partidos, PSDB, DEM, PP e PTB, e cerca de 20 prefeitos, inclusive Nion Albernaz, em Goiânia. Terminado o primeiro turno, a grande surpresa: Marconi chegou à frente de Iris. No segundo turno, a engrenagem enferrujada do PMDB não teve chance alguma. Iris caiu contra Marconi pela primeira vez.
Em 2002, nova derrota de Iris contra as forças político-eleitorais comandadas por Marconi. Candidato à reeleição para o Senado, Iris começou na ponta, conforme as pesquisas mostravam. Mauro Miranda, segundo do PMDB, também tentava a reeleição, e disputava posição com Lúcia Vânia, PSDB. Lá atrás aparecia Demóstenes Torres, do DEM, que foi secretário de Segurança Pública durante o primeiro mandato de Marconi. Apurados os votos, Marconi foi reeleito, e viu sua chapa para o Senado impôr nova derrota aos iristas.
A disputa direta entre Marconi e Iris voltou a acontecer nas eleições de 2010 e 2014. Em 2010, Iris teve a melhor oportunidade para derrotar o rival, que foi para a eleição mais uma vez como tábua de salvação para seu grupamento, lutando contra as três estruturas de governo, Goiânia, com Paulo Garcia, Goiás, com Alcides Rodrigues, e Brasil, com Lula. Ainda assim, a campanha de Marconi foi competitiva o tempo todo e ele venceu novamente.
Essa rivalidade, de certa forma, está renovada agora nas eleições goianienses deste ano. Na reta final do prazo para a realização de convenções, o PMDB nem mais discutia o nome de Iris Rezende, que havia anunciado sua aposentadoria política. Como o PSDB não lançou candidatura própria, e a base aliada vivia uma fase de muitos candidatos e pouco entendimento, Marconi se viu convencido a recuperar Iris Rezende, oferecendo a ele o apoio da sua própria base, o que, de quebra, encerraria a longa rivalidade entre os iristas e os santillistas/marconistas. Iris gostou da ideia e, dizem, topou fazer um grande acordo. Um dia depois, diante da reação de alguns setores iristas, ele recuou.
O fato de ter ido e vindo pode ter se revelado uma estratégia não muito boa. A base aliada estadual, a maioria dela pelo menos, está em peso com a candidatura de Vanderlan Cardoso. E a recusa após a aceitação, despertou ainda mais a velha rivalidade entre marconistas e iristas. Numa disputa pela prefeitura ou governo estadual, conta muito o candidato, mas no caso de Goiânia este ano, não é somente Iris Rezende contra Vanderlan Cardoso. Para voltar à prefeitura, Iris terá que superar Vanderlan e a base marconista. Tarefa dupla, portanto.