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Praticamente inexistente em Goiânia, embora com bom capital eleitoral em cidades do interior, democratas devem somar muito pouco aos peemedebistas

Afonso Lopes

Em marcha batida na direção do rompimento da aliança que mantém com o PT desde 2008 em Goiânia, o PMDB festeja a permanência do DEM, do senador Ronaldo Caiado, como principal player partidário para 2016. Na semana que passou, em reunião com a cúpula peemedebista, de maioria irista, o democrata foi paparicado, e saiu do encontro certo de que a parceria com os peemedebistas deverá se estender até 2018, quando ele poderá disputar o governo do Estado. Caiado se transformou na tábua de salvação do PMDB irista, que não consegue encurralar o exército eleitoral marconista, nem suporta a ideia de ter que passar a vez para os maguitistas, como o deputado federal Daniel Vilela, filho do patriarca político do grupo, Maguito Vilela. Na verdade, o assunto na reunião, além das gargalhadas de pura felicidade, era 2016, mas todos sabem que o DEM não tem grande coisa a oferecer que uma candidatura de Iris Rezende já não possua.

Trocar o PT, com sua base muito mais abrangente, pelo DEM, que nem vereador consegue eleger na capital, é mesmo um bom negócio para o PMDB? Os números revelam que não, mas a prática das interpretações e efeitos políticos ultrapassam essas questões. O DEM tem menos tempo de TV e uma militância nanica em Goiânia. Os votos que o partido colhe na capital são patrimônio pessoal de Caiado, e não do DEM. O PT pode oferecer mais tempo de TV e militância inúmeras vezes maior, mas também carrega o ônus de ser governo em Goiânia, além do desgaste avassalador do governo Dilma Roussef. O DEM, portanto, tem a bandeira de oposição ao PT para oferecer de bandeja para o PMDB, que ainda mantém parceria com o prefeito Paulo Garcia.

Futuro

O casamento dos interesses políticos do DEM de Caiado, e do PMDB de Iris, nasceu do isolamento que ambos viviam em meados de 2014. Às vésperas das convenções partidárias, Caiado tentou uma nova reaproximação eleitoral com o exército marconista, mas não foi aceito. Iris, por sua vez, se desgastou intensamente em sua guerra não santa contra Júnior Friboi, e não conseguiu unir nem mesmo o seu próprio partido. O destino de ambos parecia, cada um no seu canto, definitivamente traçado quando resolveram montar uma aliança que os retirasse do marasmo e dos perigos eleitorais que o isolamento político-partidário provoca.

Caiado foi um sangue novo que as carcomidas e desanimadas alas internas do PMDB precisavam para respirar. Ele próprio conseguiu se eleger, mas não com a vantagem tranquila que todos imaginavam desde sempre — a campanha eleitoral do então deputado federal Vilmar Rocha no rádio e na TV, comandada pela agência Fata Morgana, surpreendeu ao sair da mesmice das musiquinhas animadas e estabeleceu um bom diferencial de discurso e roupagem. Iris, mais uma vez, não conseguiu nem assustar, naufragando como sempre.

Apesar do insucesso, nem Iris e nem o PMDB tiveram qualquer motivo para culpar Caiado. Ao contrário, mesmo quando a vaca eleitoral já estava definitivamente atolada no brejo, Caiado topou encenar uma jogada de alto risco ao dizer que não assumiria o Senado caso Iris fosse eleito — ele seria secretário de Segurança Pública. O democrata, eleito e tranquilo, não cruzou os braços no segundo turno.

Toda aquela disposição está gerando efeitos agora. A reunião na semana passada é consequência direta do que aconteceu no ano passado. Mais do que isso, com Iris Rezende disputando a Prefeitura de Goiânia no ano que vem, com vitória ou derrota, 2018 é completamente descabido. Há um evidente desgaste de Iris, que de 2008 até 2016, caso se confirme nova candidatura a prefeito, terá disputado nada menos que quatro eleições consecutivas, quase uma a cada dois anos — 2008, candidato à reeleição de prefeito, 2010 e 2014, candidato ao governo do Estado, e 2016, novamente à Prefeitura. A overdose, se não for no ano que vem, poderia ocorrer em 2018. É candidatura demais, mesmo para um político da envergadura eleitoral de Iris Rezende.

O problema é que além de Iris Rezende não existe mais ninguém no PMDB com escopo político-eleitoral para encarar com alguma chance, mesmo que remota, uma disputa em Goiânia ou ao governo do Estado. A não ser que se abra a possibilidade de se buscar esse nome entre os maguitistas. O grupo tem dois nomes passíveis de serem trabalhados, Daniel Vilela, e o prefeito de Jataí, Humberto Machado, que exerce seu quarto mandato à frente daquela prefeitura, a segunda mais importante da rica e populosa região Sudoeste do Estado.

Mas essa possibilidade é praticamente zero entre os iristas. É nesse vácuo entre os iristas e a constante ameaça de avanço interno dos maguitistas que a opção Ronaldo Caiado vai se consolidando.

Se esse jogo vai ser jogado como está no script é evidente que não se sabe. É óbvio que a política é dinâmica o suficiente para sempre eletrizar por viradas espetaculares. O exemplo mais recente disso foi exatamente o que ocorreu no ano passado, com o DEM caiadista, arquirrival do PMDB irista, somando forças. A única coisa que parece mesmo definitiva é a separação da aliança PT-PMDB em Goiânia. Será litigiosa ou não?