Como se diz no bingo, a pedra estava cantada fazia tempo. O desmonte dos acampamentos golpistas, que já tinha parido terroristas em meados de dezembro, teria de ser feito rápida e eficientemente, para não produzir danos mais graves à democracia.

Nada aconteceu. E foi assim que, no domingo que já virou 8 de Janeiro como nome próprio, sem haver nenhum poderoso na Praça dos Três Poderes, a verdadeira cara dos “patriotas” das “manifestações pacíficas” se revelou. Sem praticamente nenhuma chance de resistência por parte da polícia – já que o efetivo era (propositadamente?) reduzidíssimo, e com PMs se preocupando em tirar selfies enquanto o crime estava sendo cometido –, terroristas vandalizaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Foi quase um passeio de uma hora e meia do quartel-general do Exército – a oito quilômetros do local do crime – até o interior dos três prédios públicos mais importantes do País. A facilidade com que entraram nas instalações, quebraram vidraças e destruíram janelas, quadros, poltronas e todo o mobiliário só não foi maior do que a vergonha que o Brasil enfrentou diante da comunidade internacional. A reputação do resto de civilidade que o País tinha mundo afora depois desse quatro anos de desgoverno se evaporava enquanto os “cidadãos terroristas de bem” filmavam o próprio ato de vandalismo.

Exatamente uma semana após a vitória da democracia – a posse de todo presidente democraticamente eleito é sempre uma glória para um país –, a mesma rampa pela qual subiu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era invadida por esses “patriotas” criados com muito carinho por uma grande parte das autoridades políticas e de segurança.

Menos de uma semana depois, exatamente 1.398 deles foram detidos, triados e encaminhados para os presídios masculino – Centro de Detenção Provisória (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda – e feminino – Penitenciária Feminina (Colmeia) do Distrito Federal. A lista completa de todos eles, com nomes e datas de nascimento, foi disponibilizada pela Polícia Federal e se encontra acessível a qualquer brasileiro.

Antes, porém, de serem levados para o complexo penitenciário, os “patriotas” foram recolhidos no QG e, em dezenas de ônibus, encaminhados, para identificação, a um ginásio da PF, onde ficaram por menos de três dias – portanto, não precisaram aguardar 72 horas. Foi tempo suficiente para, com os mesmos celulares que os incriminaram, fazer vídeos e postar nas redes sociais reclamando do tratamento que estavam recebendo – comida de marmita, falta de energia elétrica, banheiro coletivo, espaço reduzido etc. No mundo paralelo que criaram, trataram a própria situação como a de prisioneiros de um campo de concentração, obviamente ofendendo toda a comunidade judaica internacional.

Depois de tomados os depoimentos, 684 pessoas foram liberadas e 1.159 encaminhadas para os presídios. Juntaram se a esse contingente os mais de 200 que já saíram algemados da Praça dos Três Poderes.

Na lista divulgada, mais do que os nomes, chamam a atenção alguns detalhes, primeiramente sobre a proporção entre homens e mulheres. Com mais de 920 mil presos – dados de junho de 2022 –, o Brasil chegou ao 3º lugar no ranking internacional. Apenas dois países tem mais presidiários: China e Estados Unidos, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo o levantamento do CNJ, estão presos 867 mil homens e 49 mil mulheres – algo em torno de 95% e 5%, respectivamente.

No universo dos bolsonaristas presos, a proporção é bem diferente: são 905 homens e 493 mulheres que entraram nas penitenciárias do DF, o que dá mais de um terço do sexo feminino (35,2%). Muitos dos presos, é bom ressaltar, são casais.

O bolsonarista preso mais velho é o empresário Julio Cesar de Oliveira Ciscouto, de 73 anos (nascido em 17 de agosto de 1949), que foi pego em flagrante por corrupção ativa sob a acusação de tentar subornar um policial civil ainda durante os atos terroristas, em plena Praça dos Três Poderes, em Brasília. Andrey Farias Santos é o mais novo dos “patriotas” encarcerados: fez 18 anos no último 25 de dezembro.

O ano de nascimento em que há mais bolsonaristas presos é 1971. Ao todo, 63 deles, entre homens e mulheres. Aliás, a década de 70 é a que mais tem militantes na Papuda: 503 nasceram de 1970 a 1979.