Em entrevista exclusiva concedida ao Jornal Opção nesta quarta-feira, 23, o prefeito de Anápolis, Márcio Corrêa (PL), explicou como, apesar de ter herdado da última administração dívidas de mais de R$ 1,7 bilhão, tem conseguido realizar entregas importantes para o município. Com inovações na gestão, parcerias com parlamentares e participando de programas dos governos estadual e federal, Anápolis destrava obras paradas há mais de dez anos e reforma hospitais entregues sem condições de uso pela última gestão, disse o prefeito.

“Herdamos uma gestão com alto endividamento, calote em fornecedores e uma série de empréstimos com juros altíssimos”, afirmou Márcio Corrêa. “Só de juros, estamos pagando mais de R$ 300 mil por dia”. O prefeito declarou que a cidade lidera o ranking de pior desempenho fiscal entre os municípios de Goiás em 2024, aparecendo na 25ª posição no cenário nacional. O prefeito destacou que o momento é de extrema dificuldade, agravado pela queda na arrecadação, especialmente neste mês de julho.

“A arrecadação caiu 43% e, mesmo assim, seguimos governando com responsabilidade, planejamento e critério. Julho é um mês atípico, as pessoas viajam, consomem menos no comércio local e isso impacta diretamente na receita do município.” Ele também responsabilizou a antiga administração por obras inacabadas e empréstimos com juros que considera abusivos. “Recebemos uma prefeitura destruída do ponto de vista da infraestrutura. Foram empréstimos bilionários, com juros de até 3% ao mês, mais de 200% do CDI. Uma prestação mensal de R$ 20 milhões. Dá para imaginar quantas escolas e unidades de saúde poderíamos fazer com esse valor?”, questionou o prefeito.

Entre os exemplos citados por Márcio Corrêa está a ponte estaiada, que consumiu R$ 130 milhões e teve apenas 30% da obra executada. “Faltam R$ 90 milhões para terminar a ponte, mas o dinheiro já foi todo utilizado. Isso sem nenhum estudo de viabilidade. É um dos elefantes brancos deixado para nossa administração.”

52a9d507-8745-45ef-8421-db5ff52dc2c6 (1)
Zona rural de Anápolis | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Apesar do cenário desfavorável, o prefeito revelou que a atual gestão atua para reorganizar as finanças públicas. “Já economizamos R$ 60 milhões nos primeiros quatro meses com corte de contratos, regalias e cargos comissionados. Estamos fazendo a lição de casa.” Márcio Corrêa também afirmou que sua administração está auditando obras suspeitas de superfaturamento e realizando denúncias aos órgãos de controle. “Estamos fazendo uma auditoria cautelar. Tem muita coisa errada. Obras com suspeita de superfaturamento, outras que receberam recursos e não foram concluídas. O dinheiro é do cidadão e tem que ser respeitado.”

Na área da infraestrutura, Márcio Corrêa frisou que o viaduto do Recanto do Sol está sendo finalizado com recursos próprios. “Não vou repetir o erro de pegar empréstimo a juro de agiota. Estamos tocando essa obra com o que temos, com responsabilidade.”

Na saúde, o prefeito prometeu ampliar a estrutura das UPAs e inaugurar o primeiro centro de diagnóstico por imagem 24 horas do município. “Não é admissível que uma cidade do porte de Anápolis não tenha tomografia ou ressonância. Vamos entregar duas tomografias e ampliar a oferta de ultrassons. É o mínimo que a população merece.” Destacou também o início do funcionamento do Hospital Georges Hajjar, que foi entregue na última administração sem tubulação para gases médicos, rampas de acesso ou sala para esterilização.

Na Educação, Márcio Corrêa afirmou que mais de 2 mil novas vagas para a educação infantil serão criadas até agosto. Ele também destacou o Programa Merenda Nota 10, que garante alimentação de qualidade para todos os alunos da rede municipal, e as reformas nas unidades escolares. “Estamos investindo no futuro da cidade. A educação é prioridade. Antigamente, os alunos comiam peta com chá. Agora, terão uma merenda digna, de qualidade, com quatro refeições por dia.”

Questionado sobre críticas da oposição, o prefeito minimizou os ataques e afirmou que eles vêm justamente de quem, segundo ele, provocou o caos administrativo. “As críticas mostram que estamos no caminho certo. Elas vêm daqueles que destruíram a cidade, que usaram mal o dinheiro público e deixaram um rastro de contratos suspeitos e irregularidades.”

Márcio Corrêa em entrega de escola reformada Inácio Sardinha | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Márcio Corrêa ressaltou que, mesmo diante das adversidades, seu governo mantém o compromisso com a população. “Tenho andado pelos bairros, dialogado com as pessoas. A melhor avaliação vem do cidadão, e ele tem compreendido o nosso esforço. Estamos entregando o que prometemos e fazendo a cidade voltar a andar com os próprios pés.”

O mais importante é fazer gastos com qualidade, segundo o prefeito. Ele afirma que, na última gestão, o município gastava mensalmente mais de R$ R$ 600 mil com softwares para alunos que não tinham internet, e R$ 15 milhões com livros que ficaram armazenados dentro de almoxarifados. “Livros esses que nós conseguimos sem custo nenhum pelo Governo Federal”, afirmou. “Quando precisamos de investimentos, recorremos ao governo federal, a parcerias com os deputados, emendas de parlamentares — e não pelo Tesouro”.

Segundo dados da Secretaria de Economia, Anápolis entrou em 2025 devendo fornecedores após calote de quase R$ 400 milhões. Após empréstimo de R$ 1,5 bilhão que começou a ser pago apenas neste ano, a juros que chegam a 200% do CDI, a bola de neve cresceu mais de 3% ao mêsaté chegar ao total devido autalmente de R$ 1,7 bilhão.  Todos os meses, o município paga R$ 20 milhões para amortizar a dívida. Há ainda um rombo no Instituto de Seguridade, de onde uma reserva de R$ 100 milhões foi retirada, segundo o prefeito. O complemento necessário para garantir a folha dos aposentados é de R$ 5 milhões ao mês.

Para superar o desafio fiscal, Márcio Corrêa tem buscado parcerias com os governos estadual e federal, além de apoio de senadores e deputados. Ele destacou o apoio via emendas parlamentares do deputado estadual Amilton Filho (MDB) e seu apoio em interlocução com o governo do Estado para destravar uma série de obras.

7363b435-e03f-4f06-b1ae-6733b6ee70da
Mutirão saúde agora | Foto: Secom/Anápolis

“O próprio Estado tem entendido o empenho da gestão para resolver as questões burocráticas”, disse Márcio Corrêa. “Nós tínhamos um caso de regularização e desapropriação aqui que travava o anel viário. O deputado Amilton Filho trouxe essa demanda, fez uma força tarefa para ajudar na finalização do Anel Viário. Assim também foi para o Aeroporto de Cargas. Hoje o governo de Estado está investindo na ordem de R$ 100 milhões na cidade de obras, que estavam paralisadas, como o anel viário, há mais de 10 anos”.

Dívida superior de R$ 1,7 bilhão, afirma secretário de Economia

A difícil situação fiscal de Anápolis, segundo o secretário municipal de Economia, Marcelo Olímpio Carneiro Tavares, é resultado de decisões tomadas em gestões anteriores. Até 2024, o município deixou de fornecer informações essenciais para o cálculo do Índice de Participação dos Municípios (IPM), o que reduziu a parcela do ICMS recebida pela cidade, além de prejudicar repasses do Fundeb e do SUS.

IMG_6737
Marcelo Olímpio – Secretário de Economia | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Anápolis está numa situação complicada, não só financeira, mas também fiscal. Houve omissões nas informações prestadas em gestões anteriores, o que acarretou queda no nosso índice de participação nos tributos estaduais. Isso impactou diretamente a arrecadação e forçou o município a cobrir despesas obrigatórias com outras fontes de recurso”, afirmou o secretário.

Além das dificuldades com arrecadação, Marcelo Olímpio revelou que o município está hoje classificado com nota CAPAG C – a pior classificação na Capacidade de Pagamento emitida pela Secretaria do Tesouro Nacional, o que impede a União de atuar como garantidora em novas operações de crédito.

“Estamos com uma dívida de aproximadamente R$ 1 bilhão. Herdamos contratos com juros altíssimos, em alguns casos o dobro da taxa CDI. É um valor que compromete severamente os cofres públicos. Só o serviço da dívida consome hoje R$ 20 milhões por mês. Muitas dessas operações foram mal estruturadas, com prazos curtos e juros impraticáveis”, explicou o secretário.

IMG_6411
Reformas de escolas no município | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Segundo o secretário, o município arrecada em torno de R$ 80 milhões por mês em receitas próprias, mas a maior parte já está comprometida. “Temos que destinar grande parte desse valor para pagamento de dívidas e folha de pessoal, que também foi bastante inflada na gestão passada. Não é culpa do servidor, é uma falha de gestão. Anápolis já foi o segundo maior município em economia do estado, hoje está em quarto, e corre o risco de cair ainda mais.”

Apesar do cenário, Marcelo Olímpio destaca que o governo atual tem conseguido manter e até ampliar os serviços públicos com menos recursos. “Nos primeiros quatro meses deste ano conseguimos reduzir cerca de 25% dos gastos com custeio da máquina pública, o que gerou uma economia de R$ 60 milhões. E mesmo assim aumentamos o número de vagas nas escolas e os atendimentos na saúde.”

O secretário credita parte dos avanços à articulação política do prefeito. “O prefeito tem buscado emendas com senadores, deputados e o governo estadual. Com isso, conseguimos reduzir a terceirização de máquinas e investir em equipamentos próprios. Esse trabalho político é fundamental para liberar os recursos próprios para as despesas corriqueiras.”

c7cd4dae-663f-48d2-8a02-8d61880d6849
Obras incompletas do hospital Jorge Hajjar | Foto: Secom/Anápolis

Questionado sobre a relação com fornecedores, Marcelo admite dificuldades, mas afirma que a atual gestão tem se esforçado para honrar os compromissos. “Estamos num momento de regularização. Temos um déficit orçamentário, especialmente na fonte, que só em julho está na casa dos R$ 100 milhões. Por isso, o prefeito determinou a redução das despesas, sem comprometer os serviços à população.”

Ele também afirmou que há esforços para concluir obras inacabadas herdadas da gestão anterior. “Quase 90% das obras iniciadas foram deixadas sem recursos para sua conclusão. O prefeito não tem vaidade. Ele quer terminar todas, independentemente de quem as começou, porque entende que o prejuízo é da população.”

Sobre o futuro fiscal da cidade, Marcelo foi enfático: “Estamos fazendo o dever de casa. Cortamos 30% dos cargos comissionados, priorizamos os servidores efetivos e buscamos melhorar nossa classificação na CAPAG. Nosso objetivo é recuperar a confiança e retomar a capacidade de investimento.”

79e293f1-b2ad-4a61-880c-5a16904f87b1
Obras do viaduto Ayrton Senna | Foto: Secom/Anápolis

Para o secretário, o desafio é grande, mas a cidade está no caminho certo. “Mesmo diante desse cenário caótico, os serviços estão chegando à população com qualidade. A cidade está sendo cuidada, as escolas estão sendo ampliadas, a saúde atendida. A meta é garantir dignidade ao cidadão, com responsabilidade fiscal.”

Presidente diz que Câmara é parceira nas prioridades do município

A vereadora Andreia Rezende (Avante), presidente da Câmara Municipal de Anápolis, elogiou a atuação do prefeito Márcio Corrêa (PL) diante da crise financeira enfrentada pelo município. Segundo ela, a atual gestão tem conseguido priorizar áreas essenciais mesmo com limitações orçamentárias.

“Márcio Corrêa já está conseguindo fazer essa gestão com competência, com dedicação, cortando gastos extraordinários, cortando, muitas vezes, na carne, mas priorizando a saúde, a educação e a zeladoria da cidade”, afirmou a parlamentar. Ela ressaltou que esse trabalho tem sido feito com o apoio do Legislativo: “Isso está sendo feito com muita competência e dedicação pelo prefeito, mas também com apoio, fiscalização e cobrança da Câmara Municipal de Anápolis.”

Questionada sobre declarações do prefeito de que, diante da necessidade de priorizar saúde e educação, a limpeza urbana poderia ser momentaneamente comprometida, a vereadora reconheceu os avanços na área de zeladoria.

IMG_6573
Andreia Rezende, vereadora e presidente da Câmara Municipal de Anápolis | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Na verdade, isso que ele está falando é uma valorização da saúde e da educação, mas a zeladoria da cidade melhorou substancialmente. A limpeza das ruas, das praças, a iluminação pública — que também é muito importante — têm avançado. Precisamos ter prioridades, e hoje o tripé que enxergamos é esse: saúde, educação e zeladoria.”

Para Andreia Rezende, os resultados positivos vêm da contenção de despesas e da revisão de contratos. “Estamos hoje sem nenhuma máquina alugada na prefeitura, tirando terceirizados, cortando gastos extraordinários e contratos que antes eram considerados importantes. Hoje, a prioridade é a valorização do que está funcionando com a porta aberta: a educação e a zeladoria da cidade”, explicou a vereadora.

Andreia Rezende comentou sobre a situação fiscal do município e os esforços para reverter a dificuldade de contratação de crédito. “Está sendo feito todo um trabalho financeiro e contábil para melhorar a categoria do CAPAG da nossa cidade, para que a gente possa buscar melhores condições de empréstimos e até renegociar aquele que foi feito na gestão passada para o programa Anápolis Investe, que deixou a cidade muito endividada.”

Sobre as obras herdadas da administração anterior, Andreia afirmou que a prioridade será dada àquelas em estágio mais avançado e às voltadas para a saúde e a educação. “O que temos ouvido do prefeito é que as obras que estão avançadas não podem ser desperdiçadas. Elas continuarão sendo executadas com recursos do Tesouro Municipal, para evitar novos empréstimos com juros altos. Já as demais obras vão buscar parcerias com o governo federal, estadual, senadores e deputados para garantir a conclusão.”

A vereadora reforçou que a Câmara será parceira da gestão nas ações que beneficiem diretamente a população. “A Câmara Municipal é parceira de tudo que for importante para a cidade. Cada situação será analisada pontualmente, mas, por enquanto, temos sim o apoio da maioria absoluta dos vereadores à gestão do prefeito Márcio Corrêa, porque ele tem demonstrado capacidade administrativa e habilidade para entregar soluções aos problemas sérios que Anápolis enfrenta.”

Leia também:

Márcio Corrêa diz que Anápolis está “no Serasa do ponto de vista fiscal” e elenca as ações que estão sendo tomadas para equilíbrio financeiro

Prefeito de Anápolis denuncia uso indevido do CadÚnico para obtenção de bolsas universitárias

Márcio Corrêa acusa Roberto Naves de rombo milionário na Prefeitura de Anápolis