A cirurgia para a doença de Parkinson
13 dezembro 2014 às 12h38
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Os tratamentos disponíveis, a técnica ablativa e a neuromodulatória produzem bom resultado
Dr. Ledismar José da Silva
Especial para o Jornal Opção
Parkinson é uma doença neurodegenerativa comum, que afeta em torno de 1 a 2% da população, com idade acima de 65 anos. Foi descrita em 1817 pelo cirurgião britânico James Parkinson e ralatada, incialmente, como paralisia agitante. Acomete em torno de 4 milhões de pessoas no mundo; no Brasil temos aproximadamente 300 mil parkinsonianos.
A doença é causada pela diminuição de uma substância no cérebro conhecida como dopamina. Clinicamente, o paciente desenvolve sintomas motores, clássicos da doença, a exemplo do tremor de repouso, rigidez, instabilidade postural e bradicinesia; e não motores, como a depressão, insônia, disfunção autonômica e dor.
Em alguns pacientes, a manifestação clínica inicial é a perda do olfato (anosmia).
Trata-se de uma doença crônica, degenerativa, progressiva e até o momento sem cura. O diagnóstico é clínico. Em relação ao tratamento, são utilizados medicamentos como a levodopa — mas pelo fato de a doença afetar vários sistemas fisiológicos é importante também o acompanhamento de equipe multidisciplinar.
Em relação a indicação do procedimento cirúrgico, existem critérios. O paciente deve ter o diagnóstico da doença realizado, de preferência, por neurologista dedicado ao estudo de patologias relacionadas aos distúrbios de movimento; apresentar resposta ao uso de levodopa e ter pelo menos cinco anos de diagnóstico e tratamento. Importante afastar doenças que simulam o Parkinson, pois nestas situações o procedimento cirúrgico não produz resultado.
O uso indevido, pela população geriátrica, de medicamentos para tratamento de vertigem ou tontura é causa comum de parkinsonismo secundário. A paralisia supranuclear progressiva, múltiplos infartos ou doença de Wilson podem levar ao diagnóstico errôneo da doença de Parkinson idiopática. Além disso, a ressonância de crânio deverá ser normal e é necessária avaliação neuropsicológica para afastar síndromes demenciais.
Sobre o tratamento cirúrgico disponível, existe a técnica ablativa e a neuromodulatória. As duas são efetivas, produzem bom resultado. A primeira tem como desvantagem o fato de produzir lesão irreversível do parênquima cerebral e como vantagem o baixo custo. A técnica modulatória tem como vantagem ser reversível, ajustável, modulável e como desvantagem o elevado custo. Esta é conhecida como estimulação cerebral profunda. Consiste no implante de eletrodos no cérebro, acoplados a um marcapasso (gerador de pulso elétrico). Os eletrodos são alocados em núcleos encefálicos, como o globo pálido ou subtálamo, que estão diretamente relacionados com a doença de Parkinson.
O procedimento é realizado em duas etapas. A primeira consiste no implante dos eletrodos no cérebro. É feita por técnica estereotáxica, que permite grande precisão na localização do alvo a ser tratado. Nesta etapa, o paciente permanece acordado durante o procedimento. Isso permite interação com equipe médica. São realizados testes motores para confirmação de que o alvo foi atingido de forma precisa. Nesta fase o paciente já relata melhora dos sintomas motores da doença.
A segunda etapa consiste no implante do marcapasso. O paciente precisa de anestesia geral e o procedimento é habitualmente realizado no mesmo dia. Em casos selecionados, esta etapa poderá ser realizada duas semanas após o implante dos eletrodos. O período de internação é de dois a três dias. Aproximadamente 15 dias após o procedimento, inicia-se a programação do paciente, que consiste em ligar o marcapasso, utilizar e localizar os melhores parâmetros de voltagem, largura de pulso e frequência do equipamento para controle dos sintomas motores da doença. A princípio as consultas são mensais nos primeiros três meses e após este período as consultas tornam-se semestrais. Dependendo dos parâmetros utilizados na programação, a bateria tem duração média de 3 a 5 anos para aqueles não recarregáveis e duração de 8 a 9 anos para baterias recarregáveis. Após este período, deve ser trocada.
Sobre a eficácia do método é observado melhora acima de 70% dos sintomas e em alguns pacientes é possível reduzir medicamentos. Com relação às complicações, existe risco de 2 a 3% de hemorragia, morte e paralisia, 4% de infecção e 1% de falha do equipamento implantado.
Ledismar José da Silva é neurocirurgião e professor da PUC-Goiás.