Centraliza pode reviver Centro de Goiânia, mas adensando e verticalizando o local

27 outubro 2024 às 00h00

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O programa de revitalização do Centro de Goiânia, CentralizaGyn, pode impulsionar o adensamento populacional no Centro de Goiânia. O projeto busca atrair empreendimentos residenciais e comerciais para a região central da capital, que hoje é percebida como abandonada por uma grande parcela da população.
A proposta de requalificação tem mais pontos positivos que negativos, porém, a verticalização da região e a perda da arquitetura Art Decó, que é presente no local, são preocupações de especialistas. Entre os pontos principais do plano estão a centralização de serviços; a desburocratização; inclusão digital; otimização de recursos e melhor atendimento à população.
Ao Jornal Opção, a Pesquisadora Pós Doutoral pela UNB, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo na PUC Goiás e UEG, Sandra Pantaleão, explica que nos planos diretores da cidade existe planejamento para revitalizar o centro da capital, já que o município cresceu para as periferias com o tempo.
“A cidade usa o conceito de cidade sustentável, mas ainda temos desafios. Se temos uma quadra onde é construída um prédio de 30 pavimentos pode se criar um adensamento que o local pode não comportar. Se a rua for muito estreita, por exemplo. A cidade não foi preparada de forma sistêmica para que se possa ter esse adensamento”, explica Sandra.
A preocupação de Sandra é a mesma do conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU), David Finotti. Segundo o conselheiro, a verticalização pode mudar a paisagem e esconder edifícios históricos. “Se o plano controlar a verticalização para que não modifique totalmente a paisagem do Centro, poderá diminuir o impacto no desenho urbano e priorizar a qualidade de vida dos moradores. O planejamento urbano não é ruim, a problemática no entanto é a verticalização”, diz.
“A retirada de estudos de impacto na vizinhança e mobilidade, isso se torna muito ruim, pois não se sabe qual impacto será causado no local onde novas edificações serão introduzidas e na infraestrutura da região. O Centro já sofre com questões de mobilidade urbana, e construir edificações sem estudos adequados pode atrapalhar a região.”, continua.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (CREA-GO), Lamartine Moreira Junior, serão necessárias reformas para adequar a região para esse adensamento. “Os impactos estruturais podem ser vários se não for atentada a questão do adensamento. Um péssimo exemplo é a drenagem pluvial, cuja rede foi executada por ocasião da construção de Goiânia e é a mesma até hoje. Algumas vezes são feitas adequações pontuais e não existe o registro digital da rede existente. Este ponto específico será resolvido com a elaboração do Plano Diretor de Drenagem de Goiânia que está sendo feito pela UFG e deve ser concluído no primeiro semestre de 2025, mas é necessário olhar para todas as demais adequações necessárias”, afirmou em entrevista ao Jornal Opção.
Lamartine explica que essa adequação deve passar por concessionárias. “Em relação à água, esgoto e energia, as concessionárias deverão adequar suas redes à densidade populacional e aos parâmetros do uso do solo que serão estabelecidos pela nova Lei que, cabe ressaltar, poderá ter seu destino alterado pelo resultado das eleições”, continua.
Segundo o conselheiro do CAU, David Finotti, o plano pode ser eficaz se forem feitos projetos para tornar o centro um local “caminhável”. “Se for adotado o tipo pedestral no centro a cidade pode ficar mais viva e mais segura, ajudando a aumentar o fluxo do comércio da região. Mas esse projeto tem que ser, mais uma vez, ligado a mobilidade e acessibilidade. Temos que pensar em toda a população para que ela possa usufruir dos benefícios da transformação do Centro de Goiânia”, completa.
Construções e valorização
Uma das preocupações relatadas pela professora Sandra Pantaleão é a valorização da região, que pode expulsar moradores do local por conta do aumento dos alugueis. “Vemos o exemplo do Parque Flamboyant, onde houve uma distribuição do espaço urbano de forma desigual. Não são todas as pessoas que usufruem dessa qualidade urbana como a presença de áreas verdes e menos problemas de infraestrutura. Existe uma pressão muito forte do mercado imobiliário e a cidade não está pronta para o adensamento que foi estipulado no plano diretor de 2007”, relata.
A preocupação de Sandra, no entanto, não é a do presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Felipe Melazzo. Ao Jornal Opção, Felipe relatou que a expectativa da associação com o projeto é qualificar prédios e criar moradias sociais.
“Acredito que com o projeto teremos a redemocratização da moradia na área. Com essa parceria, para realizar a revitalização de prédios tanto públicos quando privados, podemos construir empreendimentos que possam atender a necessidade da população e viabilizar o crescimento imobiliário, o que é fundamental. A sede do Governo de Goiás é no Centro de Goiânia, então é importante fazer essa readequação para tornar o local mais atrativo, o que não vem sendo hoje”, explica.
“Com os benefícios implementados pelo projeto se terá uma rede de adequação e modernização dos edifícios, buscando manter as fachadas. O Centro sempre foi regado com uma estrutura muito boa de mobilidade, energia e infraestrutura. O projeto não é ideal mas pode ter melhorias”, explica.
Plano diretor
O plano diretor vigente em Goiânia, aprovado em 2022, trouxe diretrizes para garantir a requalificação do Centro. O foco do projeto é o desenvolvimento sustentável, mas fortalecendo a verticalização da região. O hoje lei, flexibilizou regras para que essa verticalização ocorra, especialmente na região Central, onde a infraestrutura é vista como consolidada. O objetivo é frear a expansão desordenada da cidade, que vem crescendo para os extremos.
Do plano diretor nasceu o CentralizaGyn, que busca pôr em prática a proposta descrita no plano diretor vigente. Nas novas diretrizes estão o incentivo à preservação do patrimônio histórico e cultural, garantindo que a expansão seja acompanhada de medidas para preservar a identidade e os edifícios icônicos da região. Porém, isso pode ser driblado.
Outro ponto que consta na lei que instituiu o plano diretor está o conceito de “zonas especiais de interesse social”, que destinam espaços para habitação de interesse social e requalificação de áreas degradadas. A medida visa garantir a inclusão de diferentes perfis sociais presentes na cidade.
A longo prazo, especialistas visam garantir a requalificação da região e impulsionar a economia local, criando novas vagas de emprego e melhorando a qualidade de vida na região. O plano, no entanto, requer ações integradas entre o poder público e privado para garantir adequações necessárias para manter a qualidade de vida de moradores atuais e eventuais.
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