Candidatura a prefeito é arriscada
25 abril 2015 às 11h38
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Nenhuma dúvida sobre a enorme popularidade do campeão de voto no ano passado,
mas eventual candidatura no ano que vem pode colocar em risco seu potencial futuro
Afonso Lopes
O filme não é inédito, embora igualmente não seja comum. Praticamente sem dinheiro e sem diretórios ou maiores balangandãs de campanha, o Delegado Waldir foi campeoníssimo de votos nas eleições do ano passado. Ele recebeu quase 10% dos votos válidos para deputado federal, e ficou entre os mais bem votados proporcionalmente do país. Um recorde que dificilmente será batido.
Dono de um discurso contra a violência e petulância dos bandidos, com uma carreira policial sem reparos, mas de conduta duríssima e adepto da filosofia de “tolerância zero”, é claro que o delegado caiu nas graças de uma enorme parcela da população como um todo. E pesquisas internas nos comandos partidários mostram que o nome dele permanece na memória imediata dos eleitores, mesmo quando se pergunta sobre o possível voto para prefeito no ano que vem.
Candidato de novo?
Esse desempenho fenomenal tem colocado o nome do deputado Waldir em todas as listas sobre possíveis candidatos a prefeito de Goiânia e também de Aparecida de Goiânia, embora o domicílio eleitoral dele seja a capital. Em algumas declarações, e quando perguntado, Waldir descarta totalmente a possibilidade de transferir o título de eleitor para Aparecida de Goiânia, e diz que se for disputar o cargo de prefeito será na capital.
A verdade é que o delegado-deputado balança realmente qualquer análise sobre as eleições municipais do ano que vem por causa de sua densidade junto ao eleitorado. Ele não é de transitar com desenvoltura na cúpula do seu partido, o PSDB, mas não há como os dirigentes do partido não escutarem seu brado retumbante quando opina sobre a eleição. Ele é, simplesmente, o nome mais popular não apenas entre todos os tucanos como também de toda a imensa e multipartidária base aliada estadual marconista.
Tudo isso parece ter mexido com a cabeça do deputado. Até porque não haveria riscos caso não tenha sucesso nas urnas novamente no ano que vem. Ele continuaria com seu mandato federal garantido até 2018. Apenas no caso de ser eleito prefeito é que teria que renunciar à cadeira no Congresso. Ou seja, do ponto de vista de mandato, risco zero. Então, se o pior resultado seria, digamos, um empate — se perder ele mantém o que já tem — por que não arriscar?
Aí entraria em cartaz um outro filme, que também não é inédito, embora seja muito menos raro que o primeiro, aquele, do campeão de votos. Não se sabe exatamente por que, mas o eleitorado costuma ficar com um pé atrás com relação a políticos que ganham elleição e imediatamente correm atrás de um segundo mandato sem terminar antes o primeiro. Há exceções, claro, mas não muitas. E quase nunca com o perfil e imagem semelhante a do deputado Waldir.
Nas pílulas eleitorais distribuídas ao longo do dia e mesmo no programa blocado, no início da tarde e começo da noite, o então candidato Delegado Waldir falava rapidamente para mandar sua extensa mensagem de um tema só, a segurança, dentro do espaço de tempo que possuía. Aliás, essa característica dele, de falar muita coisa em pouco tempo, também se observava antes, quando era entrevistado como delegado de polícia. Do ponto de vista do marketing, talvez seja um desastre esse tipo de discurso. A não ser em casos absolutamente especiais, como ocorreu com Waldir no ano passado e Enéas, nas campanhas presidenciais que ele disputou — posteriormente, Enéas foi candidato a deputado federal e o mais bem votado da história São Paulo. Morreu no exercício do mandato, em 2007.
A imagem que o candidato Waldir passou para o eleitorado, e ganhou sua simpatia e voto, era exatamente a do sujeito prático, do ramo, contrário à violência dos bandidos e… não político. Ou seja, o cidadão escutou seu discurso e concluiu que Waldir, sim, o representava.
É exatamente nesse ponto que a matemática do empate em termos de mandato deixa de somar e passa a significar o sério risco de diminuir. Ninguém elege um prefeito para combater a bandidagem, mas elege um deputado para mudar as leis que possam endurecer o combate à violência. É nesse aspecto que o deputado Waldir terá que trabalhar arduamente para fazer migrar a sua imagem atual para a de um gestor municipal. Esse é o risco a ser considerado, principalmente porque, ao fazer essa transição, Waldir também perderá a condição de não político. A possibilidade de a operação de mudança de perfil dar errado é imensa, embora é óbvio que não exista uma sentença pré-estabelecida de insucesso. Ele pode tentar e dar certo, mas é claro que o deputado também deve considerar que desta vez o tiro pode não acertar o alvo.
E quais seriam as consequências futuras em caso de uma migração de imagem fracassada? É uma enorme interrogação. Tanto pode não ter maiores consequências, no caso de tentativa de reeleição de deputado em 2018, como pode haver um comprometimento definitivo dessa imagem. E aí ele perderia a condição atual, de um deputado que se situa no patamar superior da opinião de boa parte do eleitorado, para cair na vala comum de todos os políticos. Ele se tornaria, então, um igual aos demais. Esse é verdadeiramente o grande risco do deputado Waldir ao ser novamente candidato menos de dois anos após a sua consagradora eleição.