COMPARTILHAR

A agenda de 2016 é a mesma de 2015: nada mudou. Economia continua despencando e o governo não aponta para saída

Afonso Lopes

O grande tititi da semana passada, um dos maiores da história do Bra­sil, foi a ação da Polícia Federal, sob ordens da Justiça, que obrigou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a depor. Um dia antes, na quinta-feira, 3, outra explosão foi registrada em Brasília, com a publicação de farto material jornalístico pela revista semanal “IstoÉ” a respeito de delação premiada do senador e ex-líder do governo Delcídio do Amaral, que ainda não tinha sido formalmente aceita pela Justiça. Esse barulhão político tirou do noticiário a crise econômica, resultado de uma outra explosão igualmente histórica, das contas do governo federal em 2015. Houve inclusive uma disparada das ações na Bolsa de Valores, especialmente as da Petrobrás, a grande vítima da roubalheira que vem sendo apurada na operação Lava Jato, e valorização do real frente ao dólar.

De qualquer forma, com depoimento ou não de Lula, e delação ou não de Delcídio, a verdade é que a crise econômica brasileira está muito longe do fim. Muitíssimo longe. A pauta atualmente é idêntica à de 2015, que abrange recessão, aumento de desemprego e inflação, e maior aperto financeiro, ao mesmo tempo em que as contas do governo permanecem muito longe de um equilíbrio, por menor que seja. As previsões, mesmo as dos czares da economia do governo Dilma Roussef, são péssimas, e indicam que não será nenhuma surpresa se a esperança de algum superávit se transformar em novo déficit fiscal, como ocorreu em 2014, disfarçado pelas chamadas pedaladas, e em 2015. Isso significa que a dívida interna vai continuar a escalada rumo à estratosfera, levando assim qualquer esperança de melhoria para 2017 ou 2018.

Efeito político?

Os problemas políticos atuais tem alguma relação com a crise econômica? Enquanto prolongamento, sim, mas sem qualquer relação com a origem das dificuldades. Não foi a crise política que provocou a crise econômica. O que explodiu o caixa foi algo bem mais simples e claro: a irresponsabilidade fiscal do governo, que perdeu o rumo do controle sobre as contas a partir de meados de 2008/2009, ainda no segundo mandato do presidente Lula. É lá, e não recentemente, que se identifica, conforme a esmagadora maioria dos economistas brasileiros, a origem. No governo Dilma, com o agravamento das dificuldades, a situação degringolou de vez.

A solução mais clássica é recolocar o governo dentro de sua arrecadação, que já se apresenta há décadas como uma das maiores do planeta. Ou seja, é necessário reconduzir o país de volta ao rumo estabelecido no Plano Real, e que vinha sendo mantido até o primeiro mandato do presidente Lula. Se essa é a solução mais prática e simples, não é fácil. Em tese, o governo concorda com isso, mas o caminho que ele sinaliza é o pior possível: aumentar ainda mais a já extorsiva carga tributária. Isso já foi feito em 2015 e o resultado foi um desastre, com queda na arrecadação em relação a 2014.

Ou seja, se o governo conseguisse implantar a CPMF, coisa que nem o mais otimista palaciano acredita neste momento, o quadro recessivo seria um pouco mais severo do que já está, o que fatalmente prejudicaria a atividade econômica, que está em recessão, provocando de imediato uma nova queda na arrecadação. Criar mais imposto não é solução, mas um degrau a mais no tamanho da crise.

O grande problema é que o governo Dilma jamais se preocupou em diminuir o seu tamanho, nem avaliou corretamente todos os gastos desnecessários que manteve ao longo dos anos. Um grande exemplo disso é a conhecida bolsa empresário, responsável pela maior parcela registrada nas tais pedaladas fiscais de 2014. Além, claro, da megalomania governamental que vem desde o segundo mandato de Lula, que criou duas despesas monstruosas seguidamente, a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, este ano.

De todos os índices da economia, apenas um apresenta resultados positivos, a balança comercial. Mas um olhar mais detalhado nos números mostra que nem isso é realmente um bom sinal. O país está exportando menos, e importando muito pouco. Isso significa que a indústria tende a perder competitividade internacional nos próximos anos, e a pauta de exportações pode voltar aos níveis das décadas de 1970/1980, época em que o Brasil vivia graças às normas de restrição de importações de produtos manufaturados e exportava quase somente produtos primários. Ou seja, se algo não for feito, o país corre o sério risco de voltar a ser apenas uma grande fazenda mundial, e não um dos players do mercado mundial.

Paralelamente a isso, as perspectivas para este 2016 é de que a economia pode piorar num ritmo menos acentuado em comparação com 2015, mas ainda assim vai indicar somente que diminuiu a queda, mas sem conseguir parar de descer o poço recessivo. De uma maneira geral, o mercado sinalizou especulativamente na quinta e na sexta-feira como se percebe a melhor solução para a crise econômica: apertar ainda mais o cerco aos desvios de conduta apurados na operação Lava Jato. A crise, que não nasceu política, tem agora a política como porta de saída. l