As novas caras que podem pintar na Assembleia Legislativa

22 setembro 2018 às 23h50

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Se eleitos, candidatos que representam a juventude pretendem transformar as práticas políticas do Legislativo goiano

O conceito de juventude é relativo. Para alguns, é a fase posterior à adolescência. Para outros, beira os 30 anos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estabelece que essa parcela da sociedade brasileira tem entre 15 e 24 anos de idade. A Organização das Nações Unidas (ONU), entre 13 e 24. Mas há também uma definição mais ampla, do Estatuto da Juventude, de 2013, que atribui aos jovens uma faixa etária que varia entre os 15 e 29 anos.
A margem de erro, nesse caso, pouco importa, tendo em vista que, na política, o parâmetro é ainda mais extenso. O que deve ser levado em consideração é que essas pessoas têm se interessado, de maneira cada vez mais intensa, em participar dos espaços de decisão e contribuir de alguma forma. Paralelo a essa reflexão, uma série de escândalos da política nacional acabaram vindo à tona nos últimos anos. Por um lado, alguns se desanimaram, enquanto outros fizeram disso um motivo para arriscar.
As mídias digitais também ampliaram a capacidade de manifestação dos jovens, que hoje participam dos espaços de debate expondo seus diferentes pensamentos e pontos de vista. Um dos entrevistados desta matéria reforçou a afirmação dizendo que se cansou de “ficar reclamando na internet e não fazer nada para mudar a realidade”. Não é preciso muito para entender que os escândalos de corrupção deram musculatura à ideia de que os jovens podem, e devem, participar do processo democrático e tomada de decisão.
De acordo com os dados divulgados pelo Datafolha em agosto deste ano, os mais novos têm uma maior vontade de participar da política em relação a outros grupos da sociedade. O diagnóstico demonstrou que, entre os jovens de 16 e 25 anos de idade, 29% disputariam eleições. O número cai para 15% entre as pessoas de idade superior a 41 anos. Ao todo, 2.086 pessoas foram ouvidas.
Neste ano, apenas nove deputados estaduais não estão na disputa pela reeleição. Em 2014, a renovação das cadeiras na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) foi equivalente a 51,2% da Casa. Agora, estima-se que as mudanças não superem o último dado. Uma coisa não há como negar: em geral, a população anseia por mudança no quadro político. Foi pensando nisso que o Jornal Opção conversou com lideranças jovens, que apontaram as principais candidaturas que não têm mandato e representam a juventude, com limite de idade de 40 anos.

Aava Santiago
Apesar da pouca idade, Aava Santiago (Avante) tem um longo currículo de militância política. “Embora eu tenha apenas 28 anos, trabalho com pesquisa e políticas públicas na área de juventude há pelo menos oito.” Para ela, a palavra renovação acabou se tornando um bordão do que chama de “velha política”. “Prefiro encarar a minha candidatura como uma mudança de paradigmas”, afirma.
Aava diz acreditar que o modo como o candidato conduz a campanha reflete no maneira em que ele conduzirá seu mandato. “Por isso, tenho feito um trabalho com menos dinheiro e mais pessoas. A minha campanha é conduzida por uma carga de ideia e um grupo de multiplicadores.” Nascida em 1989, a mato-grossense passou toda sua infância e parte da adolescência na favela do sapo, localizada no complexo de Camará, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. “É uma comunidade extremamente violenta. Lá eu perdi dois familiares vítimas de tiro e isso me levou a pensar que precisamos nos organizar para não sermos atropelados pela decisão dos outros”.
A candidata pelo Avante declarou que pretende lutar por uma política de valorização, especialmente aos jovens e às mulheres, sem deixar de lado a ampliação do acesso ao conhecimento, educação e segurança pública.
Aava se intitula uma mulher “resistente” e “acolhedora”. A união dessas duas virtudes a faz pensar que, quando as pessoas se organizam, elas conseguem mudar as estruturas que até então permanecem engessadas. “Podemos construir novas realidades. Basta nos organizar e conectar às nossas ideias”, pontua.

Bruno Manoel
Para o administrador de empresas Bruno Manoel (Pros), o despertar político veio ainda muito cedo. “Comecei como secretário do Centro Acadêmico de Administração da PUC-GO [Pontifícia Universidade Católica de Goiás], do qual, posteriormente, me tornei presidente. Depois fui convidado para fundar a juventude do PSD em Goiás e tive a oportunidade de conhecer jovens dos quatro cantos do estado.” Bruno Manoel diz que essas experiências naturalmente o conduziram para um caminho de representação dos jovens goianos.
Hoje, aos 26, ele lançou sua candidatura na intenção de trabalhar em prol da oportunidade do primeiro emprego para a juventude. Se eleito, pretende também modernizar a máquina pública e informatizar os serviços públicos. “Comparando-os com a iniciativa privada, podemos perceber o quanto precisamos avançar nesse sentido. Trabalharei para garantir que o estado cumpra seu papel e leve um serviço de qualidade para o cidadão em todas as áreas, para o cidadão. ”
Bruno Manoel, que já esteve à frente da Assessoria Técnica da Diretoria Financeira da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), carrega as bandeiras da moralização dos poderes, do combate aos privilégios e redução da carga tributária.
O administrador de empresas acredita que o povo precisa de políticos com ideais e capazes de resgatar a credibilidade. “Tenho coragem. Hoje, se não tivermos coragem para enfrentar de frente os desafios que o sistema impõe, acabamos nos tornando reféns.” Segundo ele, é preciso pensar em um novo momento político. “Espero que os goianos não percam a esperança de um estado cada vez mais próspero e pujante.”

Delegado Humberto Teófilo
“A minha candidatura representa a renovação, pois, como delegado de polícia, fiz prisões e operações que necessitam de coragem”, garante delegado Humberto Teófilo (PSL), que, ao longo de sua carreira, trabalhou em operações de combate à corrupção e, como legislador, pretende, se eleito, pôr fim às regalias e apresentar medidas de valorização à segurança pública.
O candidato pretende dar atenção aos policiais, concedendo a devida estrutura para que eles realizem seu trabalho com dignidade. “Priorizarei as investigações de combate à corrupção, tráfico de drogas e organização criminosa”, destaca.
Sobre as qualidades que o fazem acreditar ser o candidato ideal para representar os goianos no Parlamento, Humberto foi incisivo: “não sou ladrão”. De acordo com ele, sua honestidade foi comprovada em seus mais de oito anos de polícia.
Outra medida adotada pelo delegado, que se diz idealista, será a de abrir mão das “regalias” concedidas aos parlamentares. “Se eleito, vou renunciar a todas as regalias que serão a mim concedidas”, frisa. Para ele, sua maior qualidade é ter coragem suficiente para enfrentar os desafios.

Desirée
Desirée Peñalba (DEM) diz acreditar que a sua candidatura represente uma renovação política tanto por sua idade quanto por suas ideias. “Represento uma nova política por não aceitar mais que esse cenário continue sendo um espaço usado para se conceder privilégios.” A democrata tem enfatizado durante a sua campanha que, se eleita, irá lutar em defesa do indivíduo, pela liberdade econômica e para que as pessoas tenham mais autonomia. “São essas as ideias que defendo. Quero tirar o poder das mãos dos políticos e colocá-lo nas mãos dos indivíduos para que esses tenham mais autonomia.”
A candidata pensa que esse espírito de mudança também deverá ser pujante por parte do eleitor. “Fora do período eleitoral, os eleitores reclamam da política. Entretanto, no momento ideal para fazer a mudança acontecer, muitos acabam apoiando alguém a fim de receber algo em troca”, lamentou. No ano de 2016, Desirée concorreu ao cargo de vereadora e obteve mais de 2 mil votos. Ela possui um grande envolvimento com os movimentos de rua, sendo responsável pela criação do Instituto Liberdade e Justiça e o movimento Revolta do Pequi. “Analisando esse cenário de pessoas despreparadas na política é que resolvi estudar e me preparar para esse desafio.”
Desirée é advogada, especialista em políticas públicas e está prestes a concluir seu mestrado em economia. “Não me sinto representada. A intolerância e os abusos estão ocorrendo de forma intensa e precisamos usar a nossa voz para defender as nossas causas. Não consigo deitar a minha cabeça no travesseiro à noite e pensar que estamos vivendo em uma estrutura de sociedade extremamente injusta”

Kayro Ribeiro
Kayro Ribeiro (Rede) conta que o principal motivo que o levou a participar da política foi a indignação. “Cansei de ficar reclamando na internet e não fazer nada para mudar a realidade.” Aos 22 anos, o acadêmico de jornalismo defende as bandeiras da renovação política, combate à corrupção e educação. Quanto à última, Kayro argumenta que foi professor da rede estadual de ensino e detectou carências tanto na educação quando nos projetos sociais.
O candidato esclarece que está há mais de um ano envolvido com a militância partidária e que tem uma “reputação ilibada”. “Nunca fui político, nunca pertenci a nenhum partido e, por isso, me dispus a representar a sociedade como um todo. Quero ser um político presente e que escuta as demandas da população.” Caso seja eleito eleito, Kayro quer implantar em seu gabinete um “mandato coletivo”. “Irão participar homens, mulheres e jovens que possam opinar sobre as decisões a serem proferidas por mim para que eu possa tomá-las mediante uma avaliação coletiva.”
Kayro é contra a reeleição e acredita que a renovação deve ocorrer para além do discurso. “A engrenagem da política precisa girar e, no momento, ela está parada. Sendo eleito, com certeza não conseguirei mudar tudo, mas serei responsável por parte de muitas mudanças.” Para ele, a juventude existe para mostrar que a política e a democracia pertencem a todos. “Para que as instâncias de poder funcionem, precisamos ocupar os lugares que são nossos. Inúmeras pesquisas mostram que a sociedade não se sente representada e é por isso que estou na disputa”, enfatiza.

Marcelo do Vale
Marcelo do Vale (PSDB) já tem experiência na legislatura municipal, tendo tido dois mandatos de vereador em Mineiros. “Acredito que o meu nome represente uma renovação para a Alego tendo em vista minha experiência para articular e a minha vontade de conduzir o mandato rumo a um novo modelo político.” Marcelo diz acreditar que só o diálogo é capaz de nos fazer “acertar mais e trabalhar de forma efetiva”.
Com sua candidatura pautada pela defesa da saúde, educação, geração de emprego e renda, o mineirense sugere que “novos nomes poderão oxigenar a Assembleia Legislativa”. Marcelo ressaltou a sua afinidade pelo municipalismo e disse que, por essa razão, defende fortemente a ideia de ter a atenção voltada para cada um deles. “Se a gente articular, principalmente no sentido de promover políticas públicas nos interiores, podemos mostrar os nossos potenciais e consequentemente fazer com que as demais demandas se desenvolvam”, ressalta.
Ele, que entrou para o PSDB Jovem no ano de 2008, disse que sempre foi apaixonado por estar à frente de movimentos de liderança e trabalhar com “dedicação, compromisso e dinamismo”. Para o dia 7 de outubro, o candidato espera que os eleitores possam escolher “aqueles que realmente representam e que não façam parte da política tradicional”. “Desejo imensamente que o poder econômico não prevaleça sobre as nossas propostas.”

Rafael Lousa
O empresário Rafael Lousa (PSDB) conta que a ideia de pleitear o cargo surgiu após ter sido selecionado no movimento RenovaBr, que tem por objetivo preparar novas lideranças para a política brasileira. “A minha candidatura representa uma renovação não só pelo fato de ser a minha primeira vez, mas também pelo fato de ter me preparado e me capacitado antes de colocar o meu nome à disposição.”
Se eleito, Lousa quer diminuir a distância existente entre o eleitor e o eleito. “Pensando nisso é que iremos implantar uma plataforma digital em que o cidadão poderá opinar sobre os projetos que estão tramitando. Penso que um deputado não pode se intitular representante se depois de eleito toma as decisões sozinho”, argumentou. O tucano assegura que terá um gabinete “eficiente e inovador” na Alego e que trabalhará para dar resultados utilizando o mínimo de recursos possível.
Ele diz acreditar ser muito importante que o candidato esteja preparado para assumir o mandato, mas reforçou que o eleitor também precisa se preparar para tomar a decisão correta. “Espero que os eleitores também estejam preparados para fazer diferente. Quem é eleito, é eleito por alguém e precisamos refletir sobre isso.” Rafael garante que sempre carregou a bandeira do empreendedorismo e que terá uma atenção especial com a geração de empregos e a educação. “Não estou entrando lá para ser mais um. Quero realmente fazer a diferença e a minha renovação será baseada no preparo.”

Tadeu Costa
“Diante desse momento em que vejo as pessoas descrentes com a política e com os políticos é que eu resolvi lançar a minha candidatura” justifica Tadeu Costa (PT). Ele alega que seu nome representa uma renovação política, pois entende a necessidade de haver representantes comprometidos com as pessoas nos espaços de poder. “Ao meu ver, o poder serve para transformar vidas. Não acredito em uma candidatura individual, o processo é coletivo e precisamos construir uma democracia participativa.”
Tadeu vive no município histórico de Pirenópolis, localizada a 120 quilômetros da capital goiana. A cidade é tida como um dos mais importantes polos turísticos de Goiás. “Ainda aos 16 anos de idade, tive contato com um movimento chamado Coletivo Jovem de Meio Ambiente e essa experiência transformou a minha vida.” Tadeu, que se formou na primeira turma de Comunicação Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), explica que tem uma vasta experiência junto a movimentos em defesa da ecologia. “A Assembleia Legislativa precisa de uma bancada ambientalista.”
Para ele, a sociedade clama por pessoas bem-posicionadas na política. “Por isso, tenho todas as minhas convicções bem definidas a respeito de qualquer assunto que a mim for questionado”, assegura. Se eleito, Tadeu pretende fazer uma política voltada ao compromisso com o próximo. “A vida é difícil, mas não precisa ser tanto. Quero combater as injustiças e promover o entendimento de que o meio ambiente não é algo que impeça o desenvolvimento de uma região. Pelo contrário, precisamos dele para garantir qualidade de vida às gerações futuras.”

Wagner Neto
Vice-prefeito mais jovem de Goiás, Wagner Neto (Patriota) foi eleito aos 25 anos no município de Itapuranga, localizado a pouco mais de 160 quilômetros da capital. Atualmente, aos 27, resolveu pleitear o cargo no Legislativo na intenção de lutar pela desburocratização do estado, redução das cargas tributárias e a fomentação de um Goiás cada vez mais industrializado. “Sigo pautado pela honestidade e transparência, pois acredito que essas duas medidas representam os principais anseios da população.”
Wagner Neto foi presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), militante da juventude do PSDB e secretário municipal de Infraestrutura e Cidades. Por isso, avalia a presença da juventude na política estadual como “parte significante da democracia e uma saída para novos pensamentos”.
Se eleito, pretende atuar também em prol da cultura, esporte e lazer. “Como candidato, tenho o apoio de diversas lideranças e maturidade suficiente para ouvir e tomar decisões sensatas.” Com o slogan “uma nova ideia”, diz acreditar que poderá dialogar de forma eficaz para dar continuidade aos trabalhos de sucesso e fiscalizar o estado para que ele possa se desenvolver da melhor maneira possível.