Alunos da rede municipal de Goiânia estão sem receber uniformes desde 2015
24 março 2019 às 00h00

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Última entrega foi feita pelo ex-prefeito Paulo Garcia, mas líder do prefeito na Câmara de Vereadores diz que há outras prioridades

A Prefeitura de Goiânia não fornece uniformes para os alunos da rede pública municipal de ensino. Muitos deles sequer se lembram da última vez que tiveram acesso ao material — se tiveram. A reclamação também é recorrente entre pais ou responsáveis que constantemente clamam por mais atenção do Poder Público por meio da imprensa.
Este ano, ao que tudo indica, os alunos permanecerão sem as vestimentas que, por sua vez, são tidas por pais, alunos e dirigentes de unidades de ensino como “fundamentais para garantir a segurança e igualdade” entre os menores.
Em entrevista ao Jornal Opção, a vereadora e presidente da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia (CECCT) da Câmara Municipal de Goiânia, Leia Klebia (PSC), lembrou que existe um projeto de lei em andamento no Legislativo municipal que visa tornar obrigatório o fornecimento de uniformes por parte da prefeitura de Goiânia.

“Essa semana recebemos uma denúncia de um pai dizendo que seu filho foi barrado na porta do colégio por falta de uniforme. Eles não possuem condições de comprar. Sem contar que a falta do uniforme não é impedimento para que o aluno deixe de assistir aula. É um direito dele”, ressaltou a vereadora.
A presidente da Comissão reforçou que tenta uma reunião com o prefeito Iris Rezende (MDB) e o secretário municipal de educação, Marcelo Ferreira da Costa. “Precisamos mudar essa realidade. Muitos pais não possuem dinheiro para arcar com essa despesa. Por isso é que estamos aqui fazendo nosso papel de defensores e fiscalizadores da sociedade”.
A vereadora Sabrina Garcez (PTB), que também pertence à Comissão dirigida por Klebia, endossou o que foi dito pela colega: “Desde o início da gestão Iris nenhum uniforme foi distribuído. Infelizmente, este é mais um desprezo que a Prefeitura demonstra em relação à Educação. Essa não é uma obrigação legal e sim uma obrigação moral da Prefeitura”, pontuou.

Prioridade
Por sua vez, o líder de governo na Câmara, Tiãozinho Porto (Pros), reconheceu a importância dos uniformes para a vida escolar dos alunos, porém, lembrou que, no momento, a prioridade do Executivo é outra. “Temos como prioridade a ampliação do número de vagas”, afirmou.
Tiãozinho disse acreditar que essa é a maior reclamação recebida pelos vereadores e atestou não ter recebido reclamações sobre uniformes até o momento. “Nesse início de ano as pessoas nos procuram muito e em busca de vagas”, reforçou.

“Acho o uniforme extremamente importante, mas penso que a Capital tem outras prioridades. Acredito no trabalho do secretário e do prefeito. Penso que iremos conseguir melhorar e sanar as necessidades primárias da educação. Não adianta ter uniformes se não tivermos vagas”, finalizou.
A Prefeitura de Goiânia, representada pela Secretaria Municipal de Educação (SME), foi procurada pela reportagem. Mas, até a conclusão desta matéria, não havia se manifestado.
Vale lembrar que, durante a administração do ex-prefeito Paulo Garcia (PT), mais precisamente no final de 2015, a rede municipal distribuiu mais de 98 mil conjuntos. Os kits, à época, continham uma jaqueta para os dias mais frios, duas camisetas, bermudas para os meninos, shorts-saia para as meninas, dois pares de meias e uma calça.
Pais ou responsáveis
Uma mãe de aluno do CEI Associação da Criança Nossa Senhora das Graças, localizado no Setor dos Funcionários, relatou ao Jornal Opção que envia três conjuntos de roupas diariamente à unidade. “É o necessário para que ele passe o dia.”
A mãe, que preferiu não ser identificada, relata que o uniforme “faz falta” e seria essencial para evitar o desgaste de outras peças. Segundo ela, desde que filho chegou à unidade, a criança nunca recebeu nenhuma peça da Prefeitura.
A administração de uma escola municipal localizada na região oeste de Goiânia confirma a informação. Um funcionário da unidade conta que desde que Iris Rezende assumiu a prefeitura a escola deixou de receber os kits.
“Tivemos que contratar um serviço terceirizado para que os pais pudessem comprar os uniformes. Uns ainda reclamam. Muitos têm baixa renda, outros têm três ou quatro filhos pra cuidar. Aí fica mais pesado né?”, indagou o funcionário antes de pôr fim à conversa.
Na vizinha Aparecida de Goiânia, alunos receberam 6 mil uniformes
A secretária de Educação de Aparecida de Goiânia, Valéria Pettersen, contou à reportagem que, diante das constantes solicitações feitas por pais de alunos da rede municipal de ensino, a secretaria deu início ao processo de licitação e simulação da montagem dos kits.
“Depois, apresentamos a ideia ao prefeito que prontamente nos deu seu apoio”, conta Pettersen. Para ela, a atenção do prefeito Gustavo Mendanha (MDB) fundamental para que o projeto, montado pela secretaria, fosse concretizado.

Claudivino Antunes / Prefeitura de Aparecida de Goiânia
“Foram mais de 6 mil unidades distribuídas para os novatos de 2019. Sem contar todo trabalho que fizemos no segundo semestre do ano passado”.
Ela lembra que, para contemplar toda a rede de Educação, o prefeito precisou investir um total de R$ 6 milhões do Tesouro Municipal. “Mas muitos não investem”. E completa: “Eles (prefeitos) não são obrigados pois os uniformes não entram no índice da Educação. Ou seja, a iniciativa tem que partir do prefeito”.
Sobre a importância de tal investimento, Pettersen diz: “O uniforme promove igualdade e inibe as diferenças. Sem contar o quanto traz segurança ao aluno”.
Em justificativa, a secretária conta que “uma vez encontramos um aluno de Aparecida perdido no centro de Goiânia. Isso só foi possível graças ao uniforme que ele utilizava. Sem contar o quanto é gratificante ver a satisfação dos alunos, pais ou responsáveis”, pontua.
Para os meninos foram entregues dois shorts e duas camisetas. Já as meninas, receberam um short, um short-saia, e duas camisetas. Os kits contaram também com peças para o inverno. Estas, foram distribuídas de acordo com o horário escolar de cada um dos alunos.