Algo mudou no PMDB?
27 junho 2015 às 11h13

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Menos de um ano depois de deixar o PSB para ingressar no partido, o empresário foi expulso. Tudo como dantes
Afonso Lopes
O processo de expulsão de um filiado é sempre bastante dolorido para todas as partes envolvidas. Vencedores e vencidos não têm motivos para comemorar. Os primeiros, por saberem que, no fundo, foram incompetentes no trabalho de unir as inúmeras tendências naturais de qualquer militância partidária. Os demais, por não conseguirem ser aceitos inteiramente dentro da opção partidária que fizeram. Ambos perdem inclusive no que se refere ao sucesso interno. Ficam, nesse aspecto, mais fracos.
Com o PMDB e sua decisão de expulsar o empresário Júnior Friboi não será diferente. Para o partido, fica a sensação de que a forma de governo interna é desagregadora, isolacionista. Como sempre foi, diga-se. De expurgo em expurgo, o PMDB rifou praticamente todas as suas lideranças desde 1982, com exceção do seu comandante, Iris Rezende, e do prefeito Maguito Vilela, de Aparecida de Goiânia. E, mesmo assim, Maguito permaneceu, mas teve que enfrentar inúmeros constrangimentos públicos, como aquele de 1998, quando foi impedido de disputar a reeleição de governador.
História
O PMDB goiano foi o mais extraordinário fator de convergência de alguns dos maiores líderes políticos da história recente. Mauro Borges Teixeira, Henrique Santillo, Irapuan Costa Júnior e Nion Albernaz foram peemedebistas um certo tempo. Mauro foi o grande elo que manteve o PMDB unido nos instantes finais da ditadura de 1964, e principal responsável pelo enorme trabalho de tessitura política interna que resultou na candidatura de Iris Rezende ao governo do Estado em 1982. O candidato natural naquela eleição era Henrique Santillo e não Iris, mas Mauro avalizou um acordo que assegurou vaga para Santillo em 1986.
Pois esse mesmo Mauro Borges não conseguiu sobreviver a dois anos de convivência partidária com o PMDB no comando do Palácio das Esmeraldas. Após uma série de bicudas e caneladas entre ele e Iris Rezende, com acusações de ambos os lados, Mauro perdeu as condições necessárias para continuar no comando do partido, fez as malas e desembarcou diretamente na oposição. A pergunta que surge é: o PMDB ficou mais unido, coeso e forte com a saída de Mauro? A resposta é não. Ao contrário. Já nas eleições de 1986 foi Mauro Borges quem liderou a oposição
Com a força do PMDB, Santillo finalmente disputou e, como se previa, após um duríssimo embate com Mauro Borges, venceu. Ele governou entre 1987 e 1990. Sua administração não foi nenhum mar de rosas e politicamente ele e o antigo rival interno dos primeiros anos de convivência no PMDB, Irapuan Costa Júnior, tiveram que selar aliança para suportarem as pressões do grupo liderado por Iris, então ministro da Agricultura no governo de José Sarney.
Essa manobra foi o suficiente para sustentar Santillo no Palácio durante todo o período, mas ao final de quatro anos o desgaste era inegável. Iris deixou Brasília e mais uma vez disputou o governo e, embora no PMDB, fez campanha como oposicionista. Ao vencer a disputa contra o Palácio e o principal candidato de oposição, Paulo Roberto Cunha, ex-prefeito de Rio Verde, decretou-se o expurgo de Santillo e de Irapuan do partido. Não havia mais ambiente para que os dois permanecessem. Antes deles, o então senador Iram Saraiva também havia se mandado, e fez uma das campanhas mais agressivas contra Iris Rezende na eleição de 1990, mas sem sucesso.
Nessa altura, restava no PMDB apenas mais uma liderança de primeira grandeza, especialmente em Goiânia e na região central do Estado, a mais populosa e rica de Goiás: Nion Albernaz. Prefeito de Goiânia desde 1988, Nion foi um dos principais esteios de sustentação de Iris na sua disputa por espaços internos contra Santillo e Irapuan. Mas nem isso fez dele o que deveria ter sido. Nome mais indicado para disputar o governo de Goiás em 1994, Nion foi massacrado tão logo deixou a prefeitura, em 1992, e não suportou as pressões do grupo irista. Sem espaço, sufocado politicamente, Nion finalmente abandonou o PMDB e desembarcou no PSDB, nascido em Goiás sob direta influência de Henrique Santillo.
Friboi
O principal resultado de todas essas defecções não fez do PMDB um partido mais forte. Como sempre, a cada grande estrela que desaparecia no céu peemedebista, a noite partidária não demorou para chegar. Em 1998, quando o então governador Maguito Vilela surfava numa das maiores ondas de popularidade registradas na época em relação ao Palácio das Esmeraldas, Iris mais uma vez abandonou um Ministério, o da Justiça, e voltou para disputar o governo pela terceira vez.
O problema era que exatamente por perder essas lideranças, o PMDB viu formar contra ele uma inédita corrente oposicionista, que mesmo saindo muito atrás nas pesquisas, impôs aquela que seria historicamente a mãe de todas as futuras derrotas de Iris Rezende. O PMDB, definitivamente, estava muito mais fraco do que em 1982.
Se as saídas de Mauro, Santillo, Irapuan e Nion não fortaleceram o PMDB, isso será diferente com a expulsão do empresário Júnior Friboi? A resposta é não, como sempre. O PMDB parece definitivamente carregado pela sina do isolacionismo interno. Sobre a resposta taxativa de que o partido não vai melhorar por ter tirado Friboi, uma tese/dúvida a embasa: sabendo de tudo o que se sabe da história do PMDB, algum líder realmente importante estaria disposto a se filiar ao partido enquanto o comando interno for do jeito que é? Com a palavra, o futuro.