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Para a maioria dos analistas de mercado e economistas, o Brasil conseguiu, sim, escapar da sua pior tragédia econômica da história, mas recuperação plena ainda será demorada

O principal mote da comunicação do governo de Goiás é que o Estado conseguiu superar a crise, e começa a pisar no acelerador. Não é só marketing. Goiás está entre os poucos Estados do País que realmente conseguiram superar os piores momentos provocados pela maior recessão econômica da história do Brasil. E em cada caso positivo há uma série de motivos diferentes. Cada Estado tem suas próprias características e potencial econômico. No caso goiano, houve controle rigoroso no aumento das despesas, iniciado no final de 2014 assim que a recessão apontou no horizonte próximo. O corte de metade das Secretarias de Estado, além de significar redução de custos, sinalizou para toda a máquina administrativa que 2015 seria terrível, como realmente foi.

Outras medidas
A superação do pior momento da crise em Goiás não foi resultado somente do controle das despesas e endurecimento fiscal. Essa política serve somente para não deixar as coisas piorarem, como ocorreu, no exemplo mais dramático do país, no Rio de Janeiro, que não deu bola para a crise e faliu, literalmente. Além do rigor fiscal, o Estado buscou criar novas fontes de dinheiro, e vendeu ativos, como a então problemática Celg D. E também desenvolveu gestão atrás de novos recursos em Brasília, tanto na forma de parceria de investimentos como financiamento de obras. É esse triplé — rigor fiscal, venda de ativos problemáticos e parceria com o governo federal — que abriu a possibilidade de atrair também investimentos do setor privado. Tudo somado, o Estado deve viver dois anos, 2017 e 2018, muito melhores que os dois anos anteriores, 2015 e 2016.

Em nível nacional, há indicativos bastante positivos e animadores. Para os analistas de mercado de uma maneira geral, a atividade econômica começa a emitir sinais de retomada, com ligeira recuperação na ociosidade das indústrias. É o caso, por exemplo, das montadoras de veículos. A produção aumentou mais de 50% nos primeiros seis meses deste ano, mas esse aumento não diminuiu proporcionalmente o desemprego do setor. Por que isso ocorreu? Por­que havia ociosidade na produção, e antes de gerar novas demandas de mão de obra, está se ocupando es­se espaço de inatividade na ca­pacidade produtiva já existente. Se o ritmo for mantido, nos próximos meses começará a se empregar bem mais trabalhadores. E não somente nas montadoras.

É óbvio que os governos, tanto federal quanto estaduais, devem ficar atentos aos sintomas ruins, e agir prontamente para não deixar o problema se agravar. Recentemente, com a delação dos irmãos Batista, a JBS entrou em graves dificuldades com falta de crédito no mercado brasileiro. Além disso, a máfia descoberta que atuava na fiscalização sanitária nos frigoríficos provocou uma enorme perda de prestígio lá fora. Resultado, os maiores Estados produtores estão vendo seus pecuaristas sofrerem consequências sérias, com estoque de animais prontos para o abate, mas sem o grande comprador, que é o grupo JBS/Friboi.

Os dirigentes da classe procuraram uma solução, que é vender o pro­duto para compradores de outros Estados. Só que aí a carne de Goiás torna-se pouco ou quase na­da competitiva, já que existe incentivo para seu processamento pelos frigoríficos locais, o que constrói e complementa a cadeia produtiva do setor. Para recuperar o fôlego do setor, o governo passou a conceder benefícios também para a exportação interna dos animais, após a deputada estadual Eliane Pinheiro (PMN) receber o pedido dos líderes do setor, sintetizar a reivindicação e levar o problema para o Palácio das Esmeraldas. Ou seja, não basta ter a fazenda cheia de gado. É preciso criar mecanismos que garantam a sua transformação na geração de riquezas. Quando devidamente protegido das oscilações do mercado, o setor agropecuário responde de maneira positiva imediatamente. Não é por outra razão que Goiás é o Estado que mais gerou saldo de novos empregos este ano.

Crise Temer
A única dúvida que ainda persiste no caminho da recuperação econômica é o futuro do governo de Michel Temer. Envolvido cada vez mais em denúncias bastante sérias, ele não tem mais a sólida base governista no Congresso Nacional, e já não existem muitos apoios que o garantam no cargo até 2018.

No final da semana que passou, economista do Santander chegou a dizer que a saída dele pode ser muito mais positiva do que sua manutenção na Presidência. Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, começa a admitir que a queda de Temer é uma possibilidade real. Mais do que isso, que ele próprio estaria na linha de frente para eventual substituição. E para tranquilizar imediatamente o mercado, Maia garante que a equipe econômica comandada pelo ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, vai ser mantida. É tudo o que o país precisa para chegar a 2018. l