O estado de Goiás tem chamado atenção de investidores asiáticos. A procura envolve desde indústrias automotivas e mineradoras até companhias de tecnologia e grupos ligados ao agronegócio. Somente em 2025, Goiás recebeu uma média de três a cinco empresas asiáticas por mês, segundo o Gabinete de Assuntos Internacionais.

O avanço consolida uma tendência já observada desde o início do governo de Ronaldo Caiado (UB). Em 2024, a viagem do governador Ronaldo Caiado (UB) à China resultou em pelo menos seis empresas locais demonstrando interesse de se instalarem em solo goiano. Hoje, grande parte dessas conversas já evoluiu para tratativas formais, visitas técnicas ou implantação de plantas industriais. Entretanto, não é possível ter ao certo a quantidade de empresas asiáticas e os valores que elas estão sendo investidos no estado. Muitas dessas tratativas contam com informações cuja, às vezes, os proprietários dessas empresas não permitem a divulgação e que também são respaldadas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Segundo o secretário de Indústria, Comércio e Serviços, Joel Sant’Anna Braga, Goiás vive um momento de forte aproximação com investidores chineses e de outros países da Ásia. Algumas empresas já operam no estado, como a WeiChai em Itumbiara; Sinomach em Aparecida de Goiânia, e as parcerias entre a Caoa/Cherry com o grupo chinês Changan em Anápolis, além da Mitsubishi com a montadora chinesa GAC.

O secretário ainda destaca que há negociações de diferentes estágios para projetos como fábrica de carregadores e equipamentos elétricos; a construção de um aeroporto, que terá investimento bilionário, em Águas Lindas, além de novos capitais ligados ao agronegócio e à cadeia de proteínas; potenciais expansões no setor de mineração, incluindo a proposta chinesa de compra da Anglo American. “Já temos várias empresas asiáticas funcionando em Goiás. Outras estão em conversação permanente, algumas confidenciais, envolvendo investimentos de grande porte”, afirma o secretário.

Secretário de Indústria e Comércio, Joel Sant’Anna | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A visita mais recente foi de representantes da PCI Technology Group Co., Ltda, onde representantes estiveram em Goiás na última sexta-feira, 12. Ela é uma das principais empresas de tecnologia e inteligência artificial da China, com mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento de soluções integradas para transporte e cidades inteligentes, além de digitalização empresarial. Fundada em 1992 e sediada em Guangzhou, a PCI conta com mais de 4.000 colaboradores, centros de pesquisa de ponta e presença consolidada em mais de 40 cidades chinesas e internacionais.

Vitrine para o mundo 

Para o chefe do Gabinete de Assuntos Internacionais, Giordano de Souza, três fatores explicam a crescente presença asiática no estado:

1. Força do agronegócio

Cerca de 66% das exportações goianas têm como destino países asiáticos, principalmente a China. Soja, milho, carnes e minérios colocam Goiás como fornecedor estratégico para uma região que enfrenta limitações climáticas e depende de importações para manter sua produção.

“Eles veem Goiás como parceiro fundamental porque nossa produtividade é constante e o potencial de expansão agrícola é enorme”, explica Giordano.

2. Segurança jurídica e institucional

Segundo ele, o atual governo tem reforçado políticas de segurança pública e estabilidade regulatória, o que, segundo Giordano, traz um impacto direto. “A imagem do Brasil muitas vezes é associada à violência urbana. Quando eles chegam a Goiás, ficam impressionados com os níveis de segurança e com a capacidade institucional do governo.”

3. Incentivos e logística

Goiás é um dos três estados brasileiros, junto a Pernambuco e Bahia, que preservaram o Regime Automotivo após a Reforma Tributária. Isso torna a produção de veículos mais barata que no restante do país. Além disso, o estado mantém relação histórica com a China desde o acordo de Estados-Irmãos firmado ainda na gestão Maguito Vilela, há mais de 30 anos.

Outra explicação é que, além do consumo de commodities, as empresas chinesas têm buscado: 

  • investir diretamente na produção agrícola, por meio de arrendamentos legais e parcerias com empresas brasileiras;
  • beneficiamento de soja e milho em Goiás, reduzindo a dependência de grandes tradings no próprio território chinês;
  • cadeias produtivas completas, incluindo esmagamento, processamento e envio de cargas já beneficiadas.

Nesse modelo, o investidor estrangeiro não precisa comprar terras, o que a legislação brasileira restringe, e garante fornecimento contínuo para sua operação na Ásia.

Giordano de Souza durante missão em Xangai, na China | Foto: arquivo pessoal

Estratégia de integração e diplomacia econômica

O governo tem intensificado a relação com embaixadas asiáticas, especialmente a da China. O Gabinete de Relações Internacionais atua como ponte oficial entre as empresas e as diferentes secretarias estaduais, como a Meio Ambiente, Economia, Educação, Cultura, Indústria e Comércio, fortalecendo o ambiente favorável aos investimentos.

“A proximidade institucional é fundamental para eles. Quando percebem nosso nível de transparência e acesso direto ao governo, sentem segurança para avançar”, diz Giordano.

Goiás no radar internacional 

Com missões internacionais frequentes, políticas de segurança e incentivos fiscais preservados, o estado segue consolidando sua presença no mapa global de investimentos.

Apesar da confidencialidade em torno dos valores, a estimativa do governo é clara: os montantes são bilionários, especialmente nos setores automotivo e mineral. E a tendência é de expansão, como resume o secretário Joel Sant’Anna.

“Se não houvesse essa interação constante, muitas dessas oportunidades não existiriam. Os asiáticos valorizam o diálogo direto, a segurança e a clareza. É isso que Goiás tem oferecido.”

Economia forte e diversificada

Na visão do economista Bruno Fleury, Goiás se destaca no cenário internacional porque conta com uma economia forte e diversificada. Além disso, ele elenca a posição geográfica de Goiás como algo estratégico e que beneficia até mesmo os investidores internacionais.

“A base disso tudo é uma agropecuária forte, já que somos um gigante nessa área, estando na liderança na produção de soja, milho, sorgo e carne. Ao mesmo tempo, temos uma economia diversificada, com polos farmacêutico, automobilístico, confecções, turismo e construção civil. Por fim, nossa posição geográfica estratégica, no centro do país, cortado por rodovias, hidrovias e ferrovias, reforça ainda mais o potencial do estado para receber investimentos”, afirma.

O economista reforça que essa pluralidade econômica é um fator determinante para a escolha das empresas estrangeiras, que buscam, em suas palavras, a diversificação seus negócios. “Goiás oferece inúmeras oportunidades da mineração a agroindústria. Além disso, temos diversos polos de negócios, boas universidades e escolas técnicas para preparo da mão de obra, assim como incentivo fiscal e recursos energéticos suficientes para atender a demanda de novos negócios”, destaca.

“Esse ambiente favorável é resultado de anos de investimento na atração de novos negócios, período em que saímos de uma economia baseada na agropecuária para agroindústria, além de inúmeras outras atividades industriais na área alimentícia, farmacêutica e indústria alimentícia”, complementa.

Bruno Fleury: economista avalia Goiás como um estado estratégico para novos investimentos | Foto: arquivo pessoal

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